Proibir para proteger? Austrália lidera guerra contra redes sociais para crianças e adolescentes
Medidas rigorosas buscam resguardar jovens dos danos psicológicos causados pelo uso excessivo de plataformas digitais
Um assunto polêmico e necessário. A Austrália foi o primeiro país no mundo a aprovar, em 28 de novembro, uma legislação que proíbe o uso de redes sociais por menores de 16 anos. Essa medida busca proteger a saúde mental e física dos jovens, após estudos revelarem que cerca de 40% dos adolescentes relatam impactos negativos do uso excessivo das plataformas.
A legislação prevê multas de até 50 milhões de dólares australianos (aproximadamente R$ 190 milhões) para as empresas que descumprirem a nova norma. Grandes plataformas, como Meta (dona do Facebook e Instagram) e TikTok, terão até novembro de 2025 para implementar sistemas que impeçam o acesso desses jovens.
No Brasil, em 27 de novembro, a Comissão de Comunicação e Direito Digital do Senado aprovou o Projeto de Lei 2.628/2022, que estabelece uma série de regras para a proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais.
Uma das medidas mais importantes é a criação de uma regra que obriga redes sociais e provedores de serviços digitais a zelarem pelo bem-estar dos menores de idade. Eles poderão ser responsabilizados por problemas como danos psicológicos e pela exposição das crianças e adolescentes a conteúdos inadequados ou prejudiciais.
O documento, que ainda deve ser analisado pela Câmara dos Deputados, é uma resposta ao crescente número de casos de cyberbullying e ao aumento da taxa de problemas de saúde mental entre jovens brasileiros, que cresceu 20% nos últimos cinco anos.
Redes x bem-estar
Centenas de pesquisas apontam que o uso excessivo de redes sociais pode contribuir para o desenvolvimento de problemas como ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas. Embora não sejam a causa direta, essas plataformas frequentemente intensificam sentimentos de solidão, especialmente entre os jovens.
Um estudo da University of North Carolina at Chapel Hill, por exemplo, revelou que o uso contínuo dessas mídias aumenta a sensibilidade do cérebro adolescente às recompensas e punições. Segundo os especialistas, essas interações são constantes, imprevisíveis e, muitas vezes, gratificantes, levando os usuários a verificar as redes repetidamente, gerando dependência.
Assim, o propósito inicial que era o de conectar pessoas e promover interações positivas parece ter se perdido e, para muitos, se transformou em uma fonte de angústia, competição e preocupação constante com a aceitação.
A importância do equilíbrio
As redes sociais alcançaram enorme popularidade ao tentarem preencher lacunas emocionais, como a carência. Contudo, a promessa de acabar com o isolamento não se concretiza.
Infelizmente, a pressão para obter curtidas ou evitar críticas só aumenta. Diversos usuários possuem milhares de amigos virtuais, por exemplo, mas ainda enfrentam solidão no dia a dia.
Seria hipocrisia apenas criticar sendo usuária. Reconheço que é inegável que esses meios oferecem benefícios, como acesso a informações e oportunidades de socialização. Acredito que postagens podem inspirar reflexões e promover pensamentos positivos, mas entendo que não podemos basear nosso valor pessoal nas interações.
É importante lembrar que as redes sociais são apenas uma representação parcial da realidade. Elas não conseguem transmitir 100% emoções como alegria, tristeza, compaixão ou cansaço. Algumas pessoas, inclusive celebridades, já declararam publicamente que cancelaram seus perfis para proteger sua saúde emocional.
Responsabilidade e conscientização
Então, promover o uso consciente das redes sociais é essencial. Isso inclui educar os jovens sobre segurança online, incentivar hábitos saudáveis e estabelecer limites. O papel dos pais e responsáveis é crucial nesse processo. É fundamental monitorar o tempo que crianças e adolescentes gastam online, verificar o conteúdo que consomem e produzem e, se necessário, ativar recursos de segurança, como controles parentais. Essas ferramentas ajudam a limitar acessos e oferecer maior segurança.
Se as redes sociais têm controlado o seu tempo, afetado sua paz ou prejudicado seu estado emocional, talvez seja o momento de reconsiderar seu uso. Há vida além das redes, e ela pode ser muito melhor do que qualquer validação virtual. O melhor usuário é, sem dúvidas, aquele que consegue aproveitar os benefícios da tecnologia sem comprometer o bem-estar.
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