Tragédia em Saudades gera reflexão sobre jovens no país
Após ataque, moradores buscam respostas e alternativas para superar o que aconteceu
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
O ataque à faca na escola infantil Aquarela, no munícipio de Saudades, em Santa Catarina, na terça-feira, não deixou apenas a população local em choque como também todo país.
O autor do crime foi Fabiano Kipper Mai, de 18 anos. Ele entrou no local e, sem que ninguém percebesse, começou a atingir quem via pela frente com um facão. Três crianças e duas funcionárias morreram. Depois desferiu golpes contra o próprio corpo, numa tentativa de suicídio, mas não conseguiu se matar e está internado em estado grave em um hospital de Chapecó, a 70 quilômetros de Saudades.
A creche, que atende crianças de 0 a três anos, estava, naquele dia, com metade dos alunos por causa da pandemia. Fabiano só não conseguiu matar mais pessoas, porque as professoras conseguiram se trancar com os pequenos dentro das salas de aula.
Um caso revoltante. Aparentemente sem explicação. O clima no velório coletivo que aconteceu na quarta-feira era de revolta e muita tristeza.
Sinais importantes
Alguns pontos sobre esse crime chamam atenção. De acordo com o delegado Jerônimo Marçal, responsável pelo caso, o assassino sofria bullying na escola e, por conta disso, queria parar os estudos, ele também gostava de jogos violentos e era considerado muito introspectivo. Fabiano não passava por nenhum tipo de tratamento psicológico.
Além disso, trabalhava em uma empresa e cursava o Ensino Médio. Seus pais eram pessoas queridas na cidade de quase 10 mil habitantes. "Sua família está arrasada e não consegue acreditar no que aconteceu. Esse jovem também vinha maltratando alguns animais. Ele tinha aquele perfil que, infelizmente, vemos muito hoje. Que se tranca no quarto e ninguém sabe o que faz", falou o delegado Jerônimo Marçal aos jornalistas.
É possível evitar futuros casos?
Conforme Marçal destacou, Fabiano tinha um perfil comum a muitos jovens nos dias de hoje. Para a psicóloga Viviane Silva, não podemos negligenciar e aceitar que os adolescentes vivam trancados em seus quartos. "A família precisa ficar atenta por que não é algo normal. Por isso, antes de chegar nesse ponto, a pessoa dá sinais importantes. Ter a compulsão por jogos de violência, por exemplo, pode ser um indício de possíveis transtornos ou que o indivíduo não está emocionalmente estruturado e com suporte adequado. Assim, ele se sente 'realizado' naquele cenário imaginário que, dependendo do grau de comprometimento emocional deste, pode levar a ser concretizado na vida real", observa.
Normalmente tragédias como a de Saudades não têm uma única causa.
Porém, a especialista reforça que o ambiente escolar e familiar devem estimular o diálogo e a reflexão.
"Precisamos ajudar os jovens a lidar com as próprias emoções. Isso pode ser um primeiro passo para identificar distorções de comportamento antes que se transformem em crimes desse tipo. É mais que urgente e fundamental a construção de uma cultura da saúde mental em nossa sociedade, em prol de pessoas mais sadias emocionalmente e com relações melhor estruturadas", conclui Viviane Silva.
Infelizmente, não há nada que se diga que mude o que aconteceu ou traga de volta as pessoas assassinadas. Acredito que todos os esforços precisam estar voltados a solidariedade e ao apoio às vítimas. Mas, da mesma maneira, é urgente falar sobre prevenção. Precisamos olhar para jovens que têm um perfil similar ao de Fabiano para tentar impedir que crimes dessa natureza se repitam.
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