Alta da Selic acima de 1 ponto percentual é 'um mal necessário'
Economistas afirmam que elevação de 1,5 ponto percentual era fundamental para o Banco Central tentar conter inflação
Renda Extra|Márcia Rodrigues, do R7
O aumento superior a 1 ponto percentual da Selic, a taxa básica de juros, era esperado pelo mercado como uma tentativa de o Banco Central frear a inflação.
Nesta quarta-feira (27), o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, levando-a de 6,25% para 7,75% ao ano.
É a sexta alta consecutiva e a maior elevação percentual da taxa básica de juros desde dezembro de 2002, quando ela subiu 3 pontos percentuais e chegou a 25% ao ano.
Economistas ouvidos pelo R7 Economize aprovaram a decisão do Banco Central, mesmo considerando que o melhor caminho seria o governo apertar os cintos e fazer um ajuste fiscal.
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Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), afirma que a elevação de 1,5 ponto percentual era quase certa após o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciar que o governo pode furar o teto dos gastos para pagar o Auxílio Brasil — benefício que substitui o Bolsa Família — no valor mínimo de R$ 400 até o fim de 2022.
É ruim para a economia%2C mas é um mal necessário. Primeiro%2C porque não é a última alta já que virão novas por aí. Segundo%2C porque a inflação virá mais alta. A elevação da Selic nesse patamar vai encarecer o crédito%2C provocará menos crescimento econômico — já se projeta para o ano que vem queda da atividade econômica — e mais desemprego e endividamento.
Segundo ele, o Banco Central não tinha uma âncora fiscal, já que o ministro Paulo Guedes anunciou que vai estourar o teto; então só resta a política monetária.
Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos, diz que o aumento acima do esperado sinaliza um posicionamento importante do Banco Central e da política monetária brasileira daqui para a frente.
Mostra um cenário de aperto monetário mais forte e de controle mais contundente da inflação. Isso porque as sucessivas altas dos juros realizadas nas últimas reuniões não surtiram o efeito esperado%2C e a inflação não caiu.
Lelis pontua os efeitos da alta da Selic nos investimentos. Segundo ele, as aplicações em renda fixa voltam a render mais. As atreladas à Selic e ao CDI.
“O Banco Central passou uma mensagem muito clara. Vai buscar um patamar acima do neutro da taxa de juros, ou seja, vai fazer com que a Selic ultrapasse o patamar do IPCA, o que vai aumentar o rendimento dos investimentos em renda fixa", comenta Lelis.
Para Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, o comunicado do Copom teve um tom duro e deixou claro que a autoridade monetária fará o possível para tentar conter um avanço mais expressivo da inflação.
"Inclusive já sinalizou outro aumento de juros na mesma magnitude", destaca a especialista.
Embora a alta dos juros pudesse ter um impacto positivo para o câmbio%2C a sinalização de um quadro inflacionário com baixo crescimento econômico%2C num ambiente em que o populismo está falando mais alto%2C é muito ruim para o retrato da instituição Brasil e escancara ainda mais a fragilidade da conjuntura atual.
Fernanda ressalta que podemos até ver um alívio no câmbio imediatamente após a decisão de desta quarta-feira, "mas a tendência, em nossa visão, continua sendo de pressão e volatilidade para os próximos meses".
Na opinião de Samuel Cunha, economista e sócio da H3 Invest, um aumento superior a 1 ponto percentual mostra ao mercado que as autoridades monetárias estão olhando para o temor fiscal e para a pressão em volta da inflação.
O aumento era necessário para transmitir tranquilidade e que tudo estará sendo acompanhado de perto.
Segundo ele, o ciclo de altas deve continuar na próxima reunião e a Selic deve fechar o ano entre 9% e 9,5%.
A professora de economia do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) Juliana Inhasz vê a decisão do Copom como uma preocupação do Banco Central com a deterioração das condições internas.
Também aponta um cenário externo desfavorável muito relacionado a economias que estão crescendo e que em algum momento vão ajustar sua taxa de juros, gerando competição adicional às economias emergentes que ainda se recuperam da pandemia da Covid-19.
O que fica de lição é que o BC está bem preocupado com a inflação. O aperto no ritmo sinaliza para o mercado que a situação não é confortável e que os instrumentos que o Banco Central tem usado estão sendo insuficientes para conseguir segurar a pressão inflacionária%2C o que empurra a taxa de câmbio para cima e acelera a inflação na economia doméstica.
Juliana espera uma nova elevação de 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom.
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