Dólar abaixo de R$ 5. É bom momento para comprar a moeda?
Desaceleração da inflação no Brasil e nos EUA e arcabouço fiscal são gatilhos que podem diminuir o valor da moeda americana
Renda Extra|Do R7, com Agência Estado
O dólar voltou a cair e ficou abaixo de R$ 5 nesta quarta-feira (12), cotado a R$ 4,94, o menor valor de fechamento desde 9 junho de 2022. Com isso, a divisa já acumula baixa de 1,21% em abril.
Segundo especialistas, são dois os principais motivos que explicam a queda da divisa nas últimas sessões: a inflação abaixo do esperado, tanto aqui como nos Estados Unidos, e os sinais de avanço no arcabouço fiscal do governo federal.
Bom momento para comprar?
Sempre que o dólar é cotado a um valor mais favorável para o real, investidores começam a se questionar se é uma oportunidade de comprar a moeda americana. A recomendação de especialistas, no geral, é fazer a compra apenas no caso de objetivos específicos, como viagens internacionais.
Para quem tem esse foco, o patamar de R$ 5 pode ser de oportunidade. “Tecnicamente, ainda vemos o Brasil descolado de outras moedas emergentes. Por isso, acredito que se alguém está pensando em viajar para fora do país faz sentido aproveitar para comprar um pouco”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
O ideal, no entanto, é não fazer a compra de dólar toda de uma vez. Como o câmbio é uma das variáveis mais difíceis de prever, a recomendação é fazer aportes diferentes para obter um preço médio, como explica Bruno Mori, planejador financeiro pela Planejar.
“Se não houver urgência, divida o montante a ser comprado em três ou quatro momentos diferentes, com o objetivo de diluir o risco de comprar caro”, diz.
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Histórico
A cotação da moeda americana já vinha em queda havia algumas semanas, depois de ter ultrapassado a faixa de R$ 5,27, na segunda quinzena do mês de março. À época, a falência de bancos nos Estados Unidos e a crise no Credit Suisse ajudaram a ampliar a aversão a risco nos mercados internacionais, pressionando o câmbio e desvalorizando o real.
Mas não é só o exterior que pode impactar o câmbio no curto prazo. Por aqui, a discussão sobre política fiscal também deve estar no radar, especialmente nesta semana, quando o texto do arcabouço fiscal será entregue ao Congresso para que seja discutido e aprovado pelo Legislativo.
A visão do mercado sobre o arcabouço fiscal se alterou. Passada a euforia inicial, agora, os planos do governo para zerar o déficit e alcançar o superávit são considerados ousados, enquanto muitas dúvidas sobre a viabilidade da proposta permanecem não respondidas.
Com a discussão do arcabouço por parlamentares, a perspectiva é que alguma dessas arestas sejam aparadas. Um cenário que, se concretizado, seria mais positivo para a Bolsa e para o câmbio.
“Um ambiente com menor ruído interno e perspectiva mais positiva para o cenário fiscal tende a ajudar a valorizar o real a ficar em melhores patamares de preços”, explica Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank. “Precisamos ver o arcabouço finalizado e aprovado para solidificar o patamar de R$ 5 e, eventualmente, até buscar patamares mais valorizados.”
De olho no mercado de opções
Outro fator pode ajudar a valorizar o real ainda em abril: o vencimento de opções. Segundo dados da B3, cerca de 200 mil contratos de opções de venda de dólar vencem no fim deste mês — o maior vencimento da história da Bolsa, segundo o Braza Bank.
Bruno Perottoni, diretor de tesouraria do banco, destaca que se trata de um volume “extremamente significativo”, com potencial de pressionar o câmbio para baixo,
“Para aquele que está vendendo, quanto mais o mercado cai, mais ele precisa vender para defender a posição que ele tem nas opções, e isso pode criar uma corrida para pressionar o dólar, de modo que possa chegar abaixo de R$ 5”, explica Perottoni. “Os quase 200 mil contratos de opções vencendo no final de abril podem atrair o preço do dólar para perto de R$ 4,60 e R$ 4,80.”
O vencimento de opções acontece sempre na terceira segunda-feira de cada mês — que, em abril, será no próximo dia 17.