Empreendedorismo que começou com ferro-velho; veja como é possível crescer no mercado de reciclagem
A Maeda Recicla começou em um terreno atendendo carreteiros e, hoje, conta com três empresas, que preparam para a reciclagem: papel, alumínio, ferro, entre outros materiais
Renda Extra|Camila Nascimento, do R7*
A Maeda Recicla começou com um ferro-velho e, depois de mais de 40 anos, se transformou em um grupo com três empresas. O negócio atende o mercado de reciclagem de todo o Brasil, ainda pouco explorado, beneficiando materiais como papéis, papelão, aço, plástico, alumínio e cobre.
A empresa foi fundado em 1979, pelo pai de Leonardo Maeda Carvalho, CEO do grupo atualmente. Desde então, o negócio expandiu. "Nossas unidades são estrategicamente bem localizadas para atender a demanda do varejo e atacado de resíduos de materiais recicláveis". Após a sucata ser comprada, ela recebe um tratamento e depois é vendida novamente para a indústria, que irá encerrar o ciclo de reciclagem", afirma Leonardo.
Como funciona uma empresa de beneficiamento de lixo
O beneficiamento permite que os materiais sejam transformados e reutilizados dentro da cadeia produtiva. Os resíduos são descartados da forma correta, sem prejudicar o meio ambiente. A técnica ajuda também a reduzir a extração de matérias-primas virgens.
Segundo Leonardo, a empresa se caracteriza como um comércio. “Nós compramos esse material após o consumo final da dona de casa ou da indústria. No galpão ocorre um pré-beneficiamento. É feita a triagem, o conteúdo é separado por tipo de compra e material reciclável, depois de preparado, ele é encaminhado para a indústria e pode ser usado para fabricar um novo produto. É preciso que a sucata esteja dentro do padrão para que possa ser reciclada”, explica o CEO do Grupo Maeda.
"Por exemplo, uma siderúrgica fabrica parafusos de ferro, que chegam até minha empresa contaminados de óleo, eles vão precisar passar por várias etapas de preparo para serem consumidos de novo, porque imagina esses resíduos indo para o esgoto normal e contaminando o solo. Eles são processados e vão virar um produto novo. O aço pode ser cortado, caso depois o cliente queira derreter para reciclar. Esses processos agregam valor, depois esses materiais pré-beneficiados são vendidos em lotes. O meu trabalho é pré-beneficiar o resíduo, quando ele chega na minha empresa, o último ciclo de fato é a reciclagem, que vai acontecer com meu parceiro, é então que vamos ver, de fato, um produto novo", completa.
Espaço no mercado de reciclagem é amplo
Segundo Leonardo, o mercado de reciclagem e beneficiamento é promissor, a demanda elevada está longe de ser completamente atendida. "De cada 100 quilos que a gente produz de materiais, só se recicla dois quilos. O Brasil ainda está bem atrás de grandes países do mundo nessa questão. É um mercado que tende a crescer. Não reciclamos nem 2% de todo o lixo reciclável. O resto acaba indo para lixão, e é desviado antes de chegar a empresas como a minha", destaca Leonardo.
Empreendedorismo que passa de pai para filho
As empresas de beneficiamento de lixo começaram quando José Teixeira de Carvalho Filho decidiu abrir um ferro-velho. "Foi um olhar de empreendedor do meu pai, ele tinha um bar e surgiu um terreno na frente, foi então que identificou essa demanda, chamou o sócio dele e abriu um negócio pequeno em São Paulo, que só atendia carreteiros, não tinha caminhão. Eram praticamente os carrinhos da região e tinha esse ponto de depósito", lembra o CEO da Maeda Recicla.
Aos 74 anos, José Carvalho ainda é ativo na empresa. "Meu pai está comigo, só que não atua mais na parte estratégica, que eu acabei assumindo. Foi natural, por conta das novas tecnologias. Ele assumiu e ficou com a área de logística, que é fundamental para funcionar", conta Leonardo.
Desde adolescência, Leonardo trabalha no Grupo Maeda Recicla. Com 17 anos, ele trouxe o primeiro grande cliente e, aos poucos, foi assumindo o controle do negócio. "Meu pai não queria soltar o bastão. Ele também tem muito amor pela empresa, mas hoje, por conta, de tecnologia e estratégia, ele não faz mais parte, porque já não tem mais tanta facilidade para lidar com esses tópicos. As coisas foram acontecendo naturalmente, eu comecei e fui trazendo grandes clientes, vendo que eu tinha compromisso e que a empresa estava indo bem. Percebi que de fato o grupo estava na minha mão com 26 anos", afirma Leonardo aos 37 anos.
Mas motivação do empresário não vem só da vontade de fazer o negócio prosperar. “Atuo em um mercado que oferece mais do que uma compensação econômica, diz respeito também à saúde do planeta, é um trabalho extremamente importante para nosso presente e futuro. Busco melhorias contínuas para atender cada nova necessidade.”
Trabalho duro desde cedo
O primeiro contato de Leonardo com a empresa e o beneficiamento do lixo aconteceu quando ele tinha 13 anos. “Até meus 19 anos, eu ficava no pátio, foi onde eu mais aprendi sobre o ramo. Conheci todos os materiais, atendimento ao cliente e a ter jogo de cintura, porque eu ficava especificamente na balança pesando os itens que chegavam. Essa foi a minha melhor faculdade, não tem ensino melhor do que estar atuando ali, na linha de frente", ressalta Leonardo.
"Naquela época, a gente não usava 30% da tecnologia que temos hoje, o trabalho era braçal. Não tinha um equipamento especializado. Foi o momento que mais suei a camisa, chegavamos a carrear oito toneladas de ferro por dia na mão para encher o caminhão. Foi muito importante para me estruturar e me preparar para pessoa que eu sou hoje. Eu consegui passar por todas as empresas, ver o valor de cada setor. Por ter trabalhado no pátio, hoje eu procuro sempre agregar o melhor valor para o meu funcionário em questão de tecnologia de incentivo, benfícios e de metas, porque eu sei que é um trabalho importante. Costumo dizer que a balança é o coração da empresa, é onde tudo acontece, por onde o cliente passa e por onde é captado todo o material reciclável", complementa.
Leonardo também se preparou para a administrar o negócio. "Eu sempre me atualizei na área com cursos de gestão, palestras. Sempre que vejo uma oportunidade para me aperfeiçoar, eu me aprimoro. Eu não paro", afirma.
O crescimento do grupo
A matriz do grupo começou com o pré-beneficiamento de papelão. Enquanto a segunda filial da empresa foi aberta em 2012 para atender a demanda relacionada ao ferro. Dois anos atrás, veio a terceira unidade focada em reciclagem de alumínio, a quarta está prevista para ser inaugurada na início de 2023 e irá processar o plástico.
"De Maeda, passou para Sucatas Maeda e depois com três empresas passou a ser Grupo Maeda. A gente está fechando o ciclo de todos os materiais. Esse é o nosso diferencial, no ramo não tem essa prática. Desde de criança eu identifiquei todas as demandas, acabamos evoluindo e tendo um diferencial, eu trabalho todos os tipos de recicláveis", explica Leonardo.
Para conseguir expandir o negócio durante a sua gestão, ele apostou em algumas estratégias. "Sempre procurei olhar nos concorrentes e tentar fazer aquilo diferente, inovar, seja com um site mais interativo, seja, numa rede social ou quando surge a oportunidade de comprar um novo equipamento inovador", afirma.
"Hoje todas as áreas da empresa contam com um equipamento estratégico para atender o cliente. Isso é uma coisa constante, tendo verba, eu vou atrás no mercado. Em cima dessa inovação, eu tento colocar o meu perfil de empreendedor. Quem está tocando o negócio deve se manter atualizado, tem que ter um sonho e uma meta para atingir. Eu penso nas minhas metas no domingo, a estratégia de crescimento para diferenciar de mercado é esse", completa Leonardo.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Ana Vinhas