Número de famílias muito endividadas atinge maior nível desde 2010, diz CNC
A alta da proporção de endividados interrompe uma sequência de quatro meses de estabilidade do indicador
Renda Extra|Do R7
A parcela de famílias com dívidas a vencer aumentou 0,2 ponto percentual em junho, chegando a 78,5% das famílias no país. Desse total, 18,5% se consideram muito endividados, maior volume da série histórica, iniciada em janeiro de 2010, informou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A alta da proporção de endividados interrompe uma sequência de quatro meses de estabilidade do indicador. Com essa nova subida, a Peic alcançou o maior nível desde novembro do ano passado. Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a economia brasileira enfrenta um cenário de endividamento e inadimplência crescentes, o que afeta a capacidade de consumo das famílias.
"O equilíbrio entre os objetivos de estabilidade de preços e o crescimento econômico é um desafio a ser perseguido e que será determinante para a retomada do desenvolvimento do país", afirmou Tadros em nota.
Renda
Embora o endividamento tenha avançado em junho, antecipando em um mês uma previsão da CNC, a parcela média da renda comprometida com dívidas alcançou 29,6%, o menor percentual desde setembro de 2020. "Isso é resultado da melhora da renda dos consumidores que recebem até 10 salários mínimos, que ocorre graças à dinâmica favorável da inflação em desaceleração desde o fim do ano passado", explicou a economista da CNC responsável pela Peic, Izis Ferreira.
A inadimplência acompanhou a tendência de alta do endividamento em junho. O porcentual de famílias com dívidas atrasadas fechou o mês em 29,2%, aumento de 0,1 ponto percentual. Ferreira ressalva que a melhora da renda disponível, com a evolução positiva do mercado de trabalho e o alívio da inflação, não foi suficiente para retirar da inadimplência os consumidores com dívidas atrasadas há mais tempo.
"A proporção de consumidores com dívidas atrasadas voltou a crescer após seis meses de queda, assim como o contingente dos que afirmam que não terão condições de quitar dívidas atrasadas de meses anteriores", avaliou a economista da CNC.
Do total de consumidores com dívidas atrasadas, quatro em cada dez entraram em junho sem condições de pagar os compromissos de meses anteriores, maior proporção desde agosto de 2021. O volume de consumidores com atrasos há mais de 90 dias também cresceu, alcançando 46% do total de inadimplentes.
"Ou seja, a cada 100 consumidores com dívidas atrasadas, 46 possuem atrasos há mais de três meses. E essa proporção vem crescendo", disse, ressaltando que os juros altos da economia são um obstáculo ao crescimento.
Sul e Sudeste
De acordo com a CNC, o maior número de endividados está concentrado no Sul e Sudeste. Minas Gerais é o primeiro no ranking, com 94,9% da população; seguido por Paraná, com 94,7%; e Rio Grande do Sul, com 93,9%. Na outra ponta estão Mato Grosso do Sul, com o menor índice de endividamento do país (59,1%), Pará (62%) e Piauí (65%).
O volume de endividados encerrou o semestre com avanço em todas as faixas de renda pesquisadas, indicando tendência de alta na segunda metade do ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, o incremento na proporção de endividados foi maior entre os consumidores com renda mensal de cinco a dez salários mínimos (2,1 pontos percentuais). A inadimplência também cresceu mais entre esse grupo de renda (2,7 pontos em um ano).
"Com a absorção de pessoas com menor nível de escolaridade pelo mercado de trabalho e programas de transferência de renda mais robustos, um avanço mais expressivo entre as famílias de renda baixa vem sendo contido", analisou Ferreira.