Afogamentos passam de 18 mil no RJ em 2024; alta é impactada por mudanças climáticas
Ondas de calor mais recorrentes e ressacas intensas contribuem para cenário mais arriscado nas praias, segundo major Fábio Contreiras
Rio de Janeiro|Julia Fernandes*, do R7
Nos últimos anos, os bombeiros estão em alerta com o aumento de afogamentos em praias do Rio de Janeiro. Em 2024, mais de 18 mil salvamentos no mar foram realizados no estado. O número é 35% maior se comparado com as 13.357 ocorrências registradas entre janeiro e agosto do ano passado. A alta de casos está associada a uma combinação de fatores, incluindo as mudanças climáticas, na avaliação do porta-voz do Corpo de Bombeiros, major Fábio Contreiras.
Em entrevista ao R7, Contreiras citou que o crescimento de resgates tem sido observado desde 2021, com a retomada das atividades pós-pandemia. Mais recentemente, as frequentes ondas de calor e as ressacas mais intensas têm contribuído para um cenário mais arriscado para os banhistas.
O major explica que as praias cariocas, bastante frequentadas por moradores e turistas, têm ficado mais cheias por conta do aumento de dias de sol e altas temperaturas.
“Foram ondas de calor que não aconteceram com a mesma frequência e a mesma duração em relação ao ano passado. Então, foram dias que mais pessoas estiveram nas praias. Geralmente, a quantidade de afogamentos está relacionada diretamente à quantidade do público que frequenta a areia. A gente percebeu que teve uma presença maior, e isso resultou em mais atendimentos”, disse.
Contreiras ressalta ainda que os fenômenos da natureza estão mais intensos no mundo todo com as mudanças climáticas. Outro ponto que ele chama a atenção é para a condição do mar em razão das ocorrências de ressacas.
“Com a presença das ressacas, nós temos também o surgimento de novas valas, que chamamos de corrente de retorno. A gente tem um maior poder erosivo nas praias, o que faz com que aumente a quantidade desses locais que são arriscados para o banhista. Então, o surgimento de valas também está associado a ocorrência maior do número de ressacas, principalmente nos períodos de outono e inverno”, ressaltou.
Além disso, Contreiras destacou três situações que apresentam maiores riscos e podem levar a afogamentos nas praias:
- Arrebentação: “Onde as ondas quebram. Existem praias em que elas quebram muito próximas à faixa de areia, perto dos banhistas, e acabam surpreendendo idosos, crianças, bebês e até animais”.
- Profundidade: “São as chamadas ‘praias de tombo’. A pessoa entra na beira, achando que está segura, mas já está em uma área funda para ela. Algumas praias no estado do Rio têm esse perfil”.
- Correntes de retorno ou valas: “São responsáveis por mais de 80% dos afogamentos que acontecem no estado do Rio. As valas se multiplicam. Aquelas que já existem ganham força muitas vezes com as presenças das tempestades em alto mar, que acabam provocando aumento de energia e o surgimento de ressacas na orla”.
Jovens são as maiores vítimas de afogamento
O major do Corpo de Bombeiros relata que as maiores vítimas das ocorrências no mar são jovens do sexo masculino. A corporação não faz um levantamento específico do número de mortes em decorrência de afogamentos nas praias. Isso porque muitas pessoas são socorridas e levadas a hospitais.
Ao R7, a Secretaria Estadual de Saúde informou que contabiliza os óbitos por afogamentos de forma geral, incluindo locais como praias, rios, lagoas e cachoeiras. Em todo o ano de 2023, foram 287 mortes. Até julho deste ano, 126 casos foram confirmados.
Demanda crescente de resgate
Dados do Corpo de Bombeiros mostram que o maior número de afogamentos ocorre em praias da capital fluminense. O Grupamento Marítimo de Copacabana, que atende o trecho do Leme ao Leblon, na zona sul, onde há um intenso fluxo de pessoas, lidera o ranking de salvamentos no mar. Somente neste ano, já foram realizados 8.159 resgates na área.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros, major Fábio Contreiras, afirmou que medidas estão sendo tomadas para lidar com a demanda crescente de resgates:
“Nos últimos quatro anos, a corporação investiu mais de R$ 1 bilhão em recursos e viaturas. Foram adquiridas mais de 90 motos aquáticas. Elas são muito importantes para atender de forma mais rápida em situações de mares agitados. A gente tem investido tanto na questão das motos aquáticas como também em escala extra dos guarda-vidas. Então, a gente reforça esses pontos específicos em que foram observados aumentos, principalmente nas praias de Leme, Copacabana e Barra da Tijuca. A gente reposiciona os guarda-vidas e reforça com essas máquinas para dar o atendimento, principalmente em dias de previsão de sol. Além disso, a gente está investindo também em capacitação, realizando novos cursos, para que mais bombeiros possam ingressar nessa função de guarda-vidas, para que a gente realmente não tenha nenhum problema em relação ao atendimento à população. Esse é o nosso foco”.
*Sob supervisão de Bruna Oliveira