Em meio às reclamações dos passageiros sobre o abandono do sistema ferroviário do Rio de Janeiro, a passagem dos trens subiu de R$ 7,10 para R$ 7,60 no fim de semana.Ao lado de uma porta quebrada e sem os visores de proteção em um dos vagões, o pedreiro Jonas Pereira, usuário do ramal Gramacho, contou que depende do transporte diariamente para chegar ao trabalho.Para ele, apesar de o trem ser o modal mais rápido de locomoção, o serviço prestado não condiz com o valor da tarifa.“A gente sai de casa sem saber se vai voltar. Só Deus mesmo. Isso aqui (janela quebrada) é um perigo para todo mundo — um idoso, uma criança. Eles deveriam olhar mais para a gente. A passagem aumenta cada dia mais. Eles tinham que abaixar. Não existe isso, daqui a pouco a tarifa vai estar R$ 10,00, e o povo vai trabalhar só para pagar passagem”, desabafou.Segundo a SuperVia, o reajuste é baseado no contrato de concessão firmado com o governo do estado e no IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), que mede a inflação. Passageiros cadastrados na tarifa social continuam a pagar o valor de R$ 5,00.Os vidros de proteção, as portas e até o estofado dos assentos se tornaram alvos frequentes de vândalos e ladrões. Em julho do ano passado, o R7 já havia mostrado o aumento no furto de forros dos bancos dos trens. À época, a prática rendeu um prejuízo de R$ 317 mil aos cofres da SuperVia num período de pouco mais de um ano.O material é composto por policarbonato, uma espécie de plástico que possui valor de comercialização. Na tentativa de inibir o crime, a empresa decidiu trocar os estofados por chapas de acrílico e lançou uma campanha de conscientização para pedir que passageiros denunciem atos de vandalismo.No entanto, a manutenção não é feita de forma rápida, e muitas composições ainda são flagradas com os bancos danificados. De acordo com os passageiros, além da falta de conforto, os assentos sem estofados acumulam sujeira.Sentada em um dos bancos sem forro, a comerciante Flavia Almeida descreveu um pouco da rotina que enfrenta todos os dias:“Tem muito atraso. Como dá para ver, alguns bancos estão quebrados, portas não funcionam. O valor também é muito caro, né? E não tem muito investimento”, comentou Flavia.No trecho entre Gramacho e Central do Brasil, passageiros denunciaram que as escadas rolantes das estações de Duque de Caxias, Maracanã e São Cristóvão estão inoperantes.A acessibilidade para portadores de necessidades especiais é outro problema nos trilhos fluminenses. Para se ter uma ideia, apenas quatro das 19 estações do ramal Belford Roxo são adaptadas para PCDs.Em 2022, a concessionária chegou a assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público do Rio para garantir a implantação da acessibilidade em todas as estações da malha ferroviária.No entanto, uma decisão da 6ª Vara Empresarial de Justiça do Rio de Janeiro em agosto do ano passado suspendeu a obrigatoriedade do cumprimento do acordo devido à crise financeira enfrentada pela empresa.A SuperVia já havia anunciado em abril de 2023 que iria entregar a operação do sistema de trens sob a alegação de desequilíbrio financeiro. Em novembro de 2024, a empresa e o governo do estado firmaram um acordo de transição para que uma nova concessionária assuma o serviço. A expectativa é que a mudança ocorra ainda em 2025.A SuperVia informou, por meio de nota, que uma decisão judicial suspendeu a exigência da realização de obras e reformas em trens e estações por causa das “enormes dificuldades financeiras” da concessionária.Sobre as escadas rolantes e a acessibilidade nas estações de São Cristóvão e Maracanã, a empresa afirmou que “agentes estão preparados para auxiliar os passageiros com limitações de mobilidade e com deficiência que utilizam o serviço”.Questionada sobre o furto de estofados, a SuperVia informou que “as janelas e os assentos estão entre os itens mais vandalizados nos trens”. Diz ainda que, entre janeiro e outubro de 2024, foram registrados 5.016 casos de danificação em visores de porta e 1.093 casos de assentos destruídos.Por fim, a empresa afirmou estar comprometida em combater os atos por meio de projetos, como a instalação de “kits antivandalismo”, e da conscientização da importância da preservação do sistema ferroviário.*Sob supervisão de Bruna Oliveira