Especialistas criticam medidas tomadas pela Cedae para tratar água
Em entrevista ao Balanço Geral RJ, o engenheiro sanitário Júlio César Silva e o infectologista Edimilson Migowski falaram sobre o carvão ativado
Rio de Janeiro|Do R7, com Record TV
Para tratar a água com a presença da substância geosmina – que deixa cor, cheiro e gosto anormal na água consumida pelos cariocas – a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) adotou em caráter permanente a aplicação de carvão ativado pulverizado no reservatório Guandu.
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Em entrevista ao Balanço Geral RJ, o engenheiro sanitário e pesquisador da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Júlio César Silva, criticou a forma com que a companhia aplica o produto na água.
“Nesse momento de crise, para jogar o carvão direto na água, é preciso dosar corretamente o produto. O que garante o extermínio da geosmina é o contato completo da água com o carvão. Em um filtro, esse processo é garantido, mas quando se joga o carvão direto no recurso não necessariamente isso [a limpeza] vai acontecer”, explicou Silva.
Segundo a Cedae, esse método vem sendo utilizado em estados como São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, por exemplo, onde o problema tem maior recorrência. A última vez que a companhia identificou a presença de geosmina na água foi em 2004 e, na época, avaliou-se que não seria necessário adotar medida semelhante.
Para o infectologista Edimilson Migowski a população carioca deve filtrar a água recebida em casa, pois o carvão aplicado no Guandu não seria suficiente para tirar toda a geosmina.
“É importante que a água seja filtrada. A princípio a quantidade de geosmina não causaria danos à saúde, o que preocupa é o receio da presença de outras substâncias. Outro fator é que como o gosto é ruim, a gente acaba bebendo menos água. E isso provoca outros problemas como cálculo renal e desidratação.
Ainda sobre a ETA (Estação de Tratamento da Água) Guandu, na Baixada Fluminense, o especialista afirmou que apesar da estrutura do local estar entre as maiores do mundo, há um déficit na questão técnica.
“A gente se vangloria em ter a maior estação de tratamento de água, mas não é a mais moderna. Precisamos investir na modernização para ter respostas rápidas durante crises. Me parece que a Cedae não tem plano de ação”, disse o engenheiro sanitário.
Além da geosmina, na segunda-feira (3) a companhia detectou a presença da detergente no manancial que abastece a ETA Guandu. Em entrevista coletiva, autoridades da Cedae disseram que não sabem de onde surgiu a substância.
A Polícia Civil realiza diligências aos arredores da estação para investigar a origem do detergente.