Família pede liberdade de jovem do Rio após suposta prisão por engano
Fotos de rapaz segurando fuzil, que teriam sido usadas como provas, foram tiradas durante gravação de filme; Willian da Silva está preso há dois meses
Rio de Janeiro|Rayssa Motta, do R7*, com RecordTV
Há dois meses, o jovem William Preciliano da Silva, de 21 anos, foi forçado a mudar de endereço. Após ter sido reconhecido por um policial militar como um dos criminosos envolvidos em um episódio de tortura contra agentes da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), instalada no Morro dos Prazeres, ele deixou a comunidade na região central do Rio de Janeiro em direção à Penitenciária de Benfica.
O trajeto de cerca de 8 km, que separa a favela do presídio, é percorrido com frequência por sua mãe, Gorete Preciliano, na esperança de ver o filho atravessar o portão de volta à família. "Eu fico lá, olhando para o portão, para ver se ele abre", desabafa.
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O crime pelo qual Willian responde aconteceu em novembro do ano passado. Segundo o inquérito, ele foi reconhecido entre 40 suspeitos que renderam e torturaram sete PMs no Morro dos Prazeres. Mas, em depoimento, um policial afirmou não ser capaz de identificar os bandidos, “uma vez que o episódio foi muito traumatizante”.
Em fotos, supostamente usadas contra o jovem, Willian aparece portando um fuzil. Mas, segundo a família, as imagens seriam registros da produção do filme norte-americano Pacified (Pacificado, em português), ainda não lançado, em que o rapaz trabalhou como figurante. Em outras fotos, o jovem aparece ao lado dos atores José Loreto, Thiago Thomé e do protagonista do filme, o belga Bukassa Kabengele. A produtora do longa metragem reforçou a versão ao enviar uma carta repudiando a prisão.
O advogado do rapaz, Vinicius Marinho, disse não ter sido informado sobre como a polícia chegou à conclusão de que Willian estaria envolvido no crime. "A defesa não conseguiu acesso a como foi feito esse reconhecimento, quais foram as fotos empregadas, qual foi a metodologia, a como de fato chegaram ao Willian Preciliano", afirmou. O primeiro pedido de revogação da prisão provisória foi negado pela Justiça.
Nesta quinta-feira (8), dois meses após a prisão do jovem, familiares e amigos organizam uma manifestação para defender a inocência do rapaz. Mais de 2.000 assinaturas já foram reunidas em apoio ao jovem, que concluiu o ensino médio com 95% de presença no ano passado.
"A gente mora em uma comunidade, a gente sabe exatamente quem é quem. Somos tão vítimas quanto qualquer pessoa dessa conjuntura que coloca as favelas como reféns de traficantes. O processo de reconhecimento, no qual se baseiam para indicá-lo como participante desse crime, não é claro. Como a gente sabe, que é impossível ter sido ele, a gente quer entender onde pode ter acontecido o erro", afirma o líder comunitário e morador do Morro dos Prazeres, Charles Siqueira.
A Polícia Militar informou que a responsabilidade da investigação é da Polícia CIvil. A Polícia Civil afirma que Willian foi reconhecido pelas vítimas, indiciado e a denúncia acabou aceita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Procurado pelo R7, o Ministério Público disse que o caso já teve pedido de Habeas Corpus negado pela Justiça e está em 2ª instância.
Assista à reportagem da Record TV:
*Estagiária do R7, sob supervisão de PH Rosa e Raphael Hakime