Há 25 anos, o número 35 da rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, é ocupado por uma das salas de cinema mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Estação NET Rio. Mas o local pode deixar de ser o famoso cinema após uma audiência, nesta quarta-feira (19), que vai definir se o Grupo Estação será despejado do endereço.
Segundo Adriana Rattes, sócia e cofundadora da empresa que administra o espaço, desde 2020 há uma tentativa de negociar com o Grupo Severiano Ribeiro, que é dono do prédio.
Os problemas financeiros começaram com o fechamento das salas logo no início da pandemia, em 13 de março. Com isso, houve um acúmulo de dívida que chega a R$ 1,2 milhão, entre aluguéis, taxas e encargos.
Em agosto de 2020, o Estação conseguiu o valor referente ao atraso e tentou negociar o pagamento, mas o locador já havia aberto processo judicial. Como não houve acordo, a Justiça do Rio determinou, em novembro do ano passado, o despejo do cinema.
Logo depois, a Prefeitura do Rio decretou o tombamento do prédio e incluiu outros dois cinemas do Grupo Estação - o Ipanema e o Botafogo - no Cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis. Com isso, esses espaços passam a ser caracterizados como salas de exibição.
A empresa entrou com recurso e, em abril deste ano, a Justiça suspendeu a ordem de despejo até o julgamento em segunda instância, que será realizado hoje.
“A expectativa é que a gente possa mostrar como o Estação é importante para a cultura da cidade. E pedir ao Grupo Severiano Ribeiro uma possibilidade de negociação, uma opção que não seja a gente sair de um cinema que a gente ocupa há 25 anos”, disse Adriana.
O R7 procurou o grupo Severiano Ribeiro que disse, por meio de nota, que não comenta assuntos que já estão sendo tratados pela Justiça.
Formação de público
O Estação NET Rio é responsável pela memória afetiva de muitos espectadores e ajuda na formação de público de filmes nacionais e internacionais fora do circuito de grandes produções.
Pedro Martin é cineasta e uma dessas pessoas que construiu seu repertório cinematográfico a partir dos filmes que assistiu nas salas do grupo.
“Me lembro muito bem de uma sessão lotada do filme As Faces de Toni Erdmann, as pessoas gargalhavam, tinha todo um espírito que só o Estação consegue promover no Rio, trazendo filmes de fora, com uma curadoria, e muito do que me influenciou enquanto cinema nasceu da possibilidade de ver os filmes de fora do país, e também do Brasil nas telas daquele cinema.”
Um dos principais palcos da produção nacional, o cinema também sedia o Festival do Rio, que só na edição deste ano, levou cerca de 28 mil pessoas aos espaços administrados pelo Estação em Botafogo e na Gávea, e ao Cine Odeon, do Grupo Severiano Ribeiro.
Caso nenhum acordo seja firmado hoje, o Estação perderá a sala responsável por 40% da receita da empresa.
“Se o NET Rio fechar, o Estação fecha, porque só um milagre seria capaz de fazer com que o grupo continue existindo”, disse Adriana.
Esse apelo fez com que ex-funcionários do cinema abrissem uma petição no último final de semana para mostrar o apoio do público à permanência do Estação no endereço. Até a manhã desta quarta, mais de 15.300 pessoas haviam assinado o pedido.
“A gente não quer brigar, a gente só que o direito de lutar por um contrato que nós temos há 25 anos, por um ponto cinematográfico que a gente criou, que a gente desenvolveu, por um lugar que é importante para a cultura cinematográfica e para a vida social da cidade.”