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Maré: crianças escrevem à Justiça contra violência em operações

Moradores da comunidade enviaram 1.500 correspondências, entre desenhos e textos, contando como é a rotina no complexo em dias de confrontos

Rio de Janeiro|Lucas Ferreira, do R7*

Placa sobre telhado de escola na Maré
Placa sobre telhado de escola na Maré Placa sobre telhado de escola na Maré

Moradores do complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, principalmente crianças, enviaram no início desta semana 1.500 cartas à Justiça do Estado pedindo o fim das operações policiais na comunidade. A ação, idealizada pela instituição Redes de Desenvolvimento da Maré, retrata a visão das pessoas que ficam no meio dos confrontos entre PMs e traficantes.

Dentre as correspondências, as crianças da Maré também fizeram sua contribuição. Com desenhos e correspondências, eles mostraram o medo que têm quando os helicópteros das policias Civil e Militar atuam no complexo.

O TJ-RJ (Tribunal de Justiça), após a morte de três jovens em cinco dias durante ações policiais, proibiu operações no horário de entrada e saída escolar. A Justiça do Estado ainda estabeleceu a necessidade de ambulâncias acompanhado estas ações.

Veja abaixo alguma das cartas enviadas pelos moradores da Maré à Justiça.

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Maré: crianças escrevem à Justiça contra violência em operações
Homem fardado é representado em desenho atirando em uma pessoa.
"Boa tarde. Eu queria que parasse a operação porque muitas famílias serão mortas. Agora eu estou sem quarto porque vocês destruíram em uma operação. Todo mundo na minha escola chora e meu irmão morreu por causa dos policiais. Eles bateram no meu primo. Então não queria mais ver minha família sofrendo. Quando vocês entram, vocês avisam, tá? Muito obrigado por ler minha carta."
"Não tenho direito de ir para a escola. Em dia de confronto eles invadem as casas. São prejudicado (sic) de sair para o trabalho. Nós, filhos, não temos direito de brincar pois estamos sujeitos a tomar um tiro de bala perdida. Eu perdi uma prima de bala perdida. Pois ela estava brincando de boneca e morreu em ter seu direito de ser criança negado."
"O ruim das operações nas favelas é porque não dá para brincar muito. E também ficam morrendo muitos moradores nas comunidades. E também tem muita violência", conta a criança que também desenha duas pessoas brigando e diz que é errado brigar, além de não gostar de armas.
"Gostaria que mudasse as formas que eles entram na comunidade. Tenho pavor de escutar o barulho do helicóptero, as crianças se escondem atrás dos cômodos da casa com medo. A forma de bater na nossa residência já é assustadora. Batem, quase arrombam a porta. Faz uma zona nas casas dos moradores que estão trabalhando e até mesmo quando nós estamos em casa somos reféns desse esculacho que fazem com a gente que mora na favela. Queremos paz na Maré."
"Às vezes eu sinto que boas decisões não são tomadas por falta de conhecimento. Na verdade, eu tenho dificuldade em pensar que vocês realmente conheçam o que acontece por aqui, e ainda assim, resistam em pensar em decidir por nós. Acho que se você visse os sorrisos que eu vejo, ouvisse as histórias que ouço, vocês decidiriam diferente. E não pensem que isto é uma caridade. Não chega nem perto disso. A garantia de direitos na Maré é a garantia da cidade. Somos a cidade. Por favor, venha! Aceite o convite e venha conhecer o que faz vibrar todos os dias!!!"
"Eu tenho a dizer que as operações matam muita gente e é muito triste essas operações. Uma vez minha mãe saiu pra ver minha vó e deu tanto tiro que me escondi atrás da máquina de lavar. É isso que que eu tenho a dizer."
"Excelentíssima juíza, quando a ação civil pública é suspensa, pra nós moradores da Maré é significado de violência porque o que acontece aqui são mortes, medo, terror, falta de aulas. É como se a senhora validasse todo esse horror. O caveirão quando entra aqui é pra nos matar. Ele não entra aqui para fazer uma simples intervenção. O Estado mata sonhos, mata vidas, mata o futuro de pessoas que um dia poderiam estar no lugar da senhora juíza."
"Existem crianças e jovens dentro da comunidade que sonham em se formarem médicos, advogados, professores, educadores esportivos, mas estes sonhos são interrompidos quando as ações policiais suspende suas aulas. Parem e pensem se seus filhos passassem pela mesma situação, todos os dias que a "bomba estoura". Lembrem-se que nas comunidades não existe uma "fábrica de bandidos", cá estou eu escrevendo esta com uma caneta e não um fuzil."
"Oi, eu estou escrevendo esta carta porque aqui aonde eu moro tem operações quase todos os dias e eles não têm respeito com a gente. Eles começam a operação na hora que quiser, termina na hora que pretendem. Eles esquecem que no meio destas brigas deles existem moradores, trabalhadores e estudantes. É muita tristeza perder alguém. Como você está andando e daqui a pouco está morto? Nós sofremos muito, muito, muito. Por favor, faça que tenha horário. Muito obrigado! Muitas tristezas!"
"Senhores juízes, quando vocês mandam ter operação aqui na Maré, os policias nem avisam. Eles entram de helicóptero dando tiro de cima pra baixo. Parece que não tem educação com os moradores. Quando tem ocupação nem um dos moradores fica na rua porque já sabem que os policiais vão os matar. Também pensam que nós somos batidos."
"Um dia eu tava na escola, no pátio, fazendo educação física. Aí de repente o helicóptero passou dando tiro para baixo. Todo mundo correu para o canto da arquibancada. Quando passou o tiro, a gente correu para dentro da escola até minha mãe me buscar. Aí eu fui para casa com ela. Quando deu mais tiro eu tava em casa."
"Eu queria pelo menos ter respeito, conseguir ir para escola, pro curso, ter liberdade com meus pais ou com amigos... Bom, é isso. Que vocês possam respeitar as pessoas, até porque tem muitas pessoas que morrem de bala perdida."
"Bom... Quando tem operação eu não posso ir pra lugar nenhum, tenho que ficar no banheiro da minha casa. Quando tem operação e o helicóptero passa atirando pra baixo, minha tia vai pra minha casa porque se não o tiro pode bater lá, é muito ruim... Eles têm que respeitar os horários que as crianças estão na escola ou até mesmo no curso, a maioria das crianças saem 15h, 15h30. Eles [polícia] podem entrar 16h e sair 19h ou 20h. Também acho que eles não podem entrar de madrugada porque tem gente que vai trabalhar ou chega de madrugada..."
"Que eles tenham vergonha na cara porque nós já estamos cansados de gente morta aqui na nossa comunidade. Quando nós chegamos na escola, ela está cheia de furos de tiro e tudo revirado. Ontem roubaram meu caderno. Eu também não gosto de operação porque eu não tenho aula. Algumas pessoas gostam porque fica sem aula."

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Maré: crianças escrevem à Justiça contra violência em operações
Homem fardado é representado em desenho atirando em uma pessoa.
"Boa tarde. Eu queria que parasse a operação porque muitas famílias serão mortas. Agora eu estou sem quarto porque vocês destruíram em uma operação. Todo mundo na minha escola chora e meu irmão morreu por causa dos policiais. Eles bateram no meu primo. Então não queria mais ver minha família sofrendo. Quando vocês entram, vocês avisam, tá? Muito obrigado por ler minha carta."
"Não tenho direito de ir para a escola. Em dia de confronto eles invadem as casas. São prejudicado (sic) de sair para o trabalho. Nós, filhos, não temos direito de brincar pois estamos sujeitos a tomar um tiro de bala perdida. Eu perdi uma prima de bala perdida. Pois ela estava brincando de boneca e morreu em ter seu direito de ser criança negado."
"O ruim das operações nas favelas é porque não dá para brincar muito. E também ficam morrendo muitos moradores nas comunidades. E também tem muita violência", conta a criança que também desenha duas pessoas brigando e diz que é errado brigar, além de não gostar de armas.
"Gostaria que mudasse as formas que eles entram na comunidade. Tenho pavor de escutar o barulho do helicóptero, as crianças se escondem atrás dos cômodos da casa com medo. A forma de bater na nossa residência já é assustadora. Batem, quase arrombam a porta. Faz uma zona nas casas dos moradores que estão trabalhando e até mesmo quando nós estamos em casa somos reféns desse esculacho que fazem com a gente que mora na favela. Queremos paz na Maré."
"Às vezes eu sinto que boas decisões não são tomadas por falta de conhecimento. Na verdade, eu tenho dificuldade em pensar que vocês realmente conheçam o que acontece por aqui, e ainda assim, resistam em pensar em decidir por nós. Acho que se você visse os sorrisos que eu vejo, ouvisse as histórias que ouço, vocês decidiriam diferente. E não pensem que isto é uma caridade. Não chega nem perto disso. A garantia de direitos na Maré é a garantia da cidade. Somos a cidade. Por favor, venha! Aceite o convite e venha conhecer o que faz vibrar todos os dias!!!"
"Eu tenho a dizer que as operações matam muita gente e é muito triste essas operações. Uma vez minha mãe saiu pra ver minha vó e deu tanto tiro que me escondi atrás da máquina de lavar. É isso que que eu tenho a dizer."
"Excelentíssima juíza, quando a ação civil pública é suspensa, pra nós moradores da Maré é significado de violência porque o que acontece aqui são mortes, medo, terror, falta de aulas. É como se a senhora validasse todo esse horror. O caveirão quando entra aqui é pra nos matar. Ele não entra aqui para fazer uma simples intervenção. O Estado mata sonhos, mata vidas, mata o futuro de pessoas que um dia poderiam estar no lugar da senhora juíza."
"Existem crianças e jovens dentro da comunidade que sonham em se formarem médicos, advogados, professores, educadores esportivos, mas estes sonhos são interrompidos quando as ações policiais suspende suas aulas. Parem e pensem se seus filhos passassem pela mesma situação, todos os dias que a "bomba estoura". Lembrem-se que nas comunidades não existe uma "fábrica de bandidos", cá estou eu escrevendo esta com uma caneta e não um fuzil."
"Oi, eu estou escrevendo esta carta porque aqui aonde eu moro tem operações quase todos os dias e eles não têm respeito com a gente. Eles começam a operação na hora que quiser, termina na hora que pretendem. Eles esquecem que no meio destas brigas deles existem moradores, trabalhadores e estudantes. É muita tristeza perder alguém. Como você está andando e daqui a pouco está morto? Nós sofremos muito, muito, muito. Por favor, faça que tenha horário. Muito obrigado! Muitas tristezas!"
"Senhores juízes, quando vocês mandam ter operação aqui na Maré, os policias nem avisam. Eles entram de helicóptero dando tiro de cima pra baixo. Parece que não tem educação com os moradores. Quando tem ocupação nem um dos moradores fica na rua porque já sabem que os policiais vão os matar. Também pensam que nós somos batidos."
"Um dia eu tava na escola, no pátio, fazendo educação física. Aí de repente o helicóptero passou dando tiro para baixo. Todo mundo correu para o canto da arquibancada. Quando passou o tiro, a gente correu para dentro da escola até minha mãe me buscar. Aí eu fui para casa com ela. Quando deu mais tiro eu tava em casa."
"Eu queria pelo menos ter respeito, conseguir ir para escola, pro curso, ter liberdade com meus pais ou com amigos... Bom, é isso. Que vocês possam respeitar as pessoas, até porque tem muitas pessoas que morrem de bala perdida."
"Bom... Quando tem operação eu não posso ir pra lugar nenhum, tenho que ficar no banheiro da minha casa. Quando tem operação e o helicóptero passa atirando pra baixo, minha tia vai pra minha casa porque se não o tiro pode bater lá, é muito ruim... Eles têm que respeitar os horários que as crianças estão na escola ou até mesmo no curso, a maioria das crianças saem 15h, 15h30. Eles [polícia] podem entrar 16h e sair 19h ou 20h. Também acho que eles não podem entrar de madrugada porque tem gente que vai trabalhar ou chega de madrugada..."
"Que eles tenham vergonha na cara porque nós já estamos cansados de gente morta aqui na nossa comunidade. Quando nós chegamos na escola, ela está cheia de furos de tiro e tudo revirado. Ontem roubaram meu caderno. Eu também não gosto de operação porque eu não tenho aula. Algumas pessoas gostam porque fica sem aula."

Maré: crianças escrevem à Justiça contra violência em operações

*Estagiário do R7, sob supervisão de PH Rosa

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