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Rede de solidariedade se forma em torno da tragédia de Petrópolis

Temporal deixou ao menos 152 mortos, cerca de 200 pessoas desaparecidas e mais de 900 desabrigadas na região serrana do RJ

Rio de Janeiro|Do R7

Equipes da Defesa Civil trabalham para localizar mais vítimas do temporal em Petrópolis
Equipes da Defesa Civil trabalham para localizar mais vítimas do temporal em Petrópolis

A bombeira civil Loren Tiago ignorou as dores no corpo para continuar o trabalho de resgate de vítimas no sábado. O pedreiro Matheus Dias perdeu a conta de quantas viagens de moto fez desde a última quarta-feira para entregar cestas básicas em diversos pontos da cidade. O cobrador de ônibus Valdir da Conceição, por sua vez, equilibrava um saco com mantimentos no ombro para ajudar na alimentação da filha, que perdeu todos os móveis com as chuvas.

O temporal da terça-feira (15) deixou, até a mais recente atualização, na noite deste sábado (19), 152 mortos, cerca de 200 pessoas desaparecidas e mais de 900 desabrigadas. Criou também uma grande rede de solidariedade para apoiar as vítimas e tentar trazer algum conforto à população em meio ao caos.

Com árvores caídas e montes de terra e entulho obstruindo vias, o acesso a alguns pontos da cidade se tornou impossível para carros ou outros veículos maiores.

Para piorar a situação, enquanto máquinas da prefeitura trabalham para desobstruir as ruas, o trânsito permanece caótico. Só quem consegue circular com alguma facilidade são os motoqueiros. E são eles que, desde quarta-feira, têm ajudado a diminuir as dificuldades dos moradores que perderam quase tudo com as chuvas do dia anterior. "Só hoje [sábado] já fiz umas 20 viagens", disse, por volta das 13h, o pedreiro Matheus Xavier Dias, de 25 anos.


Desde o meio de semana, ele está cruzando a cidade de manhã à noite para transportar donativos com a sua moto. "É um mutirão de motoboys para levar coisas onde os carros não passam, como Caxambu, Sargento, Vila Filipe", contou Dias. "Nós estamos nesse intuito de ajudar os moradores que perderam suas casas."

A prefeitura da cidade convocou os motoqueiros para ajudar no transporte de cestas básicas. Quem se apresenta ganha um selo na moto e pode abastecê-la gratuitamente a qualquer hora do dia. "Vou ajudar até acabar", garantiu o pedreiro à reportagem.


Na linha de frente

Loren, por sua vez, faz curso técnico em enfermagem e é bombeira civil há três anos. Moradora de Petrópolis, ela disse que, desde o desastre da última terça-feira, só conseguiu se acalmar quando vestiu a farda de bombeiro e foi para a linha de frente ajudar no que fosse possível.

"Na terça, quando eu estava recebendo os vídeos e as fotos, a minha reação foi só chorar; e a gente não imagina a dor das mães e dos filhos. É muito triste ver uma situação dessas, dói dentro da nossa alma. Eu não tive paz enquanto não consegui sair de casa para vir aqui ajudar", afirmou ela, que momentos depois iniciou mais um dia de trabalho na rua Teresa, a principal via de comércio da cidade, fortemente atingida pelas chuvas. "Hoje [sábado] eu acordei toda dolorida, dos pés à cabeça. Tomei duas dipironas e vim, porque infelizmente falta mão de obra. A gente não pode se abater."


A alguns quilômetros dali, o cobrador Valdir da Conceição acelerava o passo para não perder sua carona. Ele mora na Mosela, mas equilibrava um saco de comida nos ombros com destino a Corrêas, distante 16 quilômetros. É lá que moram a filha Rafaela e os netos Arthur e Ana Paula.

"Ela perdeu tudo o que tinha em casa: televisão, móveis, tudo", contou Conceição. "Ela está morando com a mãe, e eu estou dando assistência."

Antes de se despedir da reportagem, ele agradeceu as inúmeras doações que estão sendo enviadas a Petrópolis. "É uma grande coisa o que estão fazendo; eu não tenho palavras para agradecer. Está ajudando muita gente."

De acordo com a Secretaria municipal de Assistência Social, os donativos estão chegando de diversas partes do Brasil. São toneladas de alimentos e outros insumos que estão sendo distribuídos nos pontos de acolhimento montados na cidade.

"É uma corrente de solidariedade muito forte e que agradecemos imensamente. Estamos empenhados em fazer a ajuda chegar aos pontos de apoio e abrigos o mais rápido possível, atendendo à demanda de cada local", afirmou a secretária de Assistência Social, Karol Cerqueira.

A ONG Ação da Cidadania, fundada pelo sociólogo Betinho nos anos 1990, é atualmente a maior entidade do país no combate à fome. Há quatro anos, vem atuando também em tragédias como a que ocorreu em Petrópolis na última semana.

"Já mandamos para lá 100.000 litros de água, 20 toneladas de alimentos, 2.000 refeições prontas, 8 toneladas de kits de higiene e limpeza, 1.000 colchões e 1.000 mantas", enumerou o diretor-executivo da ONG, Kiko Afonso. "Começamos com itens emergenciais e vamos ficar por pelo menos mais um mês fazendo essas doações. Quando as pessoas começarem a voltar para suas casas, o que já está acontecendo no sul da Bahia, por exemplo, entraremos em uma segunda etapa do atendimento, enviando geladeiras e fogões."

O governo dos Estados Unidos também anunciou no sábado uma doação. E funcionários das prefeituras do Rio de Janeiro, de Petrópolis e de Niterói (região metropolitana) vão se reunir na segunda-feira para um trabalho conjunto de limpeza da cidade. 

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