"A entrada foi absoluta e necessária” diz ex-governador de São Paulo sobre a invasão policial no Carandiru
Luiz Antônio Fleury Filho foi a segunda testemunha de defesa ouvida nesta terça-feira
São Paulo|Vanessa Beltrão, do R7
Começou por volta das 15h25 desta terça-feira (16) um dos depoimentos mais aguardados do julgamento do Carandiru, o do ex-governador do São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, chefe do Executivo paulista à época do episódio conhecido como o massacre do Carandiru. Ele foi a segunda testemunha da defesa a ser ouvida durante a tarde. Em seu depoimento, defendeu a invasão do Complexo Penitenciário por tropas da Polícia Militar para conter uma briga entre detentos que terminou em um dos episódios mais sangrentos do sistema prisional brasileiro, com 111 presos mortos.
Fleury comentou que, na tarde do dia 2 de outubro de 1992, recebeu a informação de que os presos estariam até mesmo machucando outros detentos. O ex-governador usou este argumento para defender a atuação da polícia na época.
— A entrada foi absoluta, necessária e legítima.
Ele também confirmou que, no seu governo, o então secretário de Segurança Pública do Estado, Pedro Franco, também testemunha da defesa no processo, tinha autonomia para agir.
Questionado pela advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza, sobre por que não foi até a Casa de Detenção de São Paulo no dia do massacre, comentou:
— Não era minha obrigação ir ao local, eu era governador do Estado. Para isso, existe toda uma hierarquia abaixo do governador.
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O ex-governador também afirmou não ter conhecimento sobre o que aconteceu dentro do Complexo Penitenciário.
— Não estive lá dentro, não li os autos, é por isso que nós estamos aqui.
O clima chegou a ficar tenso entre o ex-governador e a defensora Ieda Ribeiro. Em alguns momentos do seu depoimento, os dois chegaram a alterar a voz. Quando a defensora questionou se a testemunha havia acompanhado o inquérito, Fleury respondeu em tom ríspido.
— Não podia deixar de ser governador para presidir inquérito.
Depois completou dizendo que " a responsabilidade política" era dele, já a criminal caberia aos jurados decidirem.
Onde estava
Fleury também contou que no dia 2 de outubro de 1992 estava em Sorocaba, no interior de São Paulo, quando ficou sabendo da rebelião. Por volta das 16h30, saiu do interior em direção à capital. Quando chegou ao palácio, ligou para o secretário de Segurança Pública da época, Pedro Franco, para saber se havia necessidade de a polícia entrar. Franco teria dito que tinha conversado com o comandante da tropa que invadiu o complexo, coronel Ubiratan Guimarães, e aconselhado a invadir, se fosse necessário.
O ex-governador disse que não chegou a ir ao Carandiru e que ficou sabendo das mortes pelo próprio secretário de Segurança Pública.
Julgamento
O julgamento de 26 PMs acusados de participação no massacre do Carandiru começou na última segunda-feira (15). Os réus — todos da Rota — são acusados de executar 15 detentos que estavam no que estavam no 2º pavimento (primeiro andar) do pavilhão nove.
Relembre o caso
O massacre do Carandiru começou após uma discussão entre dois presos dá início a uma rebelião no pavilhão nove. Com a confusão, a tropa de choque da Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, foi chamada para conter a revolta.
Ao todo, 286 policiais militares entraram no complexo penitenciário do Carandiru para conter a rebelião em 1992, desses, 84 foram acusados de homicídio. Desde aquela época, cinco morreram e agora restam 79 para serem levados a julgamento.
Até hoje, apenas Ubiratan Guimarães chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, porém um recurso absolveu o réu e ele não chegou a passar um dia na cadeia. Em setembro de 2006, Guimarães foi encontrado morto com um tiro na barriga em seu apartamento nos jardins. A ex-namorada dele, a advogada Carla Cepollina, foi a julgamento em novembro do ano passado pelo crime e absolvida.