Acusada de matar família carbonizada no ABC rompe silêncio
Carina Ramos admite culpa em assalto, mas afirma que a ex-namorada, filha e irmã das vítimas, foi quem arquitetou o crime
São Paulo|Do R7
Acusada de participação na morte de um casal e do filho carbonizados no ABC em janeiro do ano passado, Carina Ramos de Abreu contou detalhes sobre o crime com exclusividade ao Cidade Alerta, da Record TV. Carina é ex-namorada de Anaflavia Gonçalves, filha e irmã das vítimas. As duas estão presas e vão a júri popular.
Sete jurados vão decidir o destino de Carina, Anaflavia e outros dois presos, primos de Carina, pelo crime. Eles responderão por triplo homicídio com três qualificadoras (meio cruel, motivo torpe e sem chance de defesa às vítimas), além de roubo e ocultação de cadáver.
A defesa de Carina afirma que ela vinha sendo orientada por outro advogado a não revelar o que sabia sobre o caso, inclusive sobre o que foi registrado por Anaflavia em cartas que recebeu dentro da prisão.
Segundo o atual defensor da acusada, além das declarações de amor, a filha do casal também contou o que seria a verdade sobre o ocorrido na noite do crime na casa da família Gonçalves. Nos textos, Anaflavia assume toda a participação em relação a morte do pai, Romuyiki, da mãe, Flaviana, e do irmão, Juan, e tira Carina da cena do crime. Presa na Penitenciária de Tremembé 1, no interior de São Paulo, Carina juntou as cartas e quando considerou que tinha provas suficientes, procurou a nova defesa.
"Ela não é inocente%2C nem vítima%2C ela sabia o que iria acontecer desde o começo. Ela arquitetou. Ela planejou."
Carina afirma que participou do planejamento do roubo à casa da família. "Não digo em momento algum que eu sou incente nessa parte, eu não sou. Nunca disse que eu era. Tenho minha parcela de culpa e tenho noção da minha culpabilidade. Porém, não tenho culpa em alguns aspectos", afirma. De acordo com Carina, Anaflavia foi quem idealizou o crime e quem sabia tudo o que ocorreria na casa. "Ela não é inocente, nem vítima, ela sabia o que iria acontecer desde o começo. Ela arquitetou. Ela planejou."
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O plano inicial do grupo, feito na casa de Carina, seria executar o roubo sem que ninguém estivesse na residência da família. "Estávamos na minha casa. O meu primo Jonathan chegou e aí ela [Anaflavia] falou assim: 'Vamos fazer aquela fita? Não vai dar nada'. Porque, até então, o planejamento era pra eles entrarem dentro da casa dos pais dela, roubarem e saírem. E ela dizia que não daria 10 minutos. Seria tudo muito rápido, e que ninguém estaria na casa. Ninguém estaria presente."
Segundo Carina, Jonathan chamou Juliano, irmão dele, e combinou que iriam entrar na casa, e executar o roubo com o imóvel vazio. "Até que mudou totalmente o plano", relata a detenta. Segundo ela, no domingo, 26 de janeiro, um dia antes do crime, Jonathan chamou um terceiro rapaz, Guilherme, para fazer parte do grupo, mas não sabe quais orientações ele recebeu.
O crime
Carina conta que o grupo saiu da casa dela por volta das 17h30. Anaflavia havia conversado com a mãe e trocado mensagens com o irmão, o que deu a certeza de que não haveria ninguém no imóvel. O que eles não contavam é que a movimentação dos vizinhos era normal. Como as casas do condomínio não têm portão, eles tocavam a vida com tranquilidade. "Tinha vizinho lavando o carro, com criança bricando". Por isso, detalha Carina, o carro em que todo o grupo estava aparece entrando e saindo várias vezes do condomínio.
Não era esse o combinado. Não era pra ter armas. Não era pra ter acontecido nada do que aconteceu
Quando o carro parou, Anaflavia entrou na casa da família. Na hora em que Carina desceria do carro, Jonathan, armado, fingiu que a tinha rendido. Segundo a acusada, no entanto, o combinado é que ela entraria antes e os rapazes, depois. Quando ela entrou, viu Anaflavia, o cunhado e o sogro na casa. O assalto foi anunciado. Juliano e Guilherme renderam Romuyuki, e Carina ficou na sala com Jonathan, Juan e Anaflavia.
Os rapazes mandaram todos deitarem no chão e eles foram amarrados. Em seguida, foram todos ao andar de cima. Romuyuki foi levado ao quarto do casal. Anaflavia, Carina e Juan ficaram no banheiro. "Não era esse o combinado. Não era pra ter armas. Não era pra ter acontecido nada do que aconteceu".
Até o momento da chegada de Flaviana à casa, todos estavam vivos. Neste momento, Carina e Anaflavia estavam no sofá e Guilherme estava atrás da porta. Ela entrou, Guilherme anunciou o assalto e aí Flaviana percebeu o que estava acontecendo. "A única coisa que ela disse foi 'cadê o meu filho?'".
Carina conta que chegou a ver sogra deitada no corredor e o sogro e o cunhado de joelhos., mas sem saber que eles poderiam estar mortos. Carina diz que a chamaram para participar de algo e ela se recusou. Desceu as escadas, encontrou Anaflavia no térreo, e, em seguida, Juliano desceu mandando tirar o carro da garagem. Carina assumiu o carro da sogra, e Anaflavia o outro carro. Jonathan abriu o porta-malas do carro que Carina dirigia e disse para ela não fazer nada. Os corpos foram colocados no carro. Carina afirmou que não teve reação porque se sentiu ameaçada e pensou nas duas filhas.
Por decisão da Justiça, Guilherme não fará parte do julgamento, já que o juiz entendeu que ele participou do roubo, mas não diretamente das mortes.