Após 1 ano, moradores do Paissandu cobram promessa de Prefeitura
Gestão Bruno Covas afirma que vai continuar dando auxílio-aluguel de R$ 400 para os desabrigados "até o atendimento habitacional definitivo”
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Um ano depois da queda do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu (centro de São Paulo), a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) afirma que vai continuar dando auxílio de moradia aos desabrigados, e os moradores seguem temendo que a prefeitura não cumpra a promessa.
Na manhã desta quarta-feira (1º), data que marca um ano da tragédia, famílias sobreviventes, sem-teto de outros movimentos e apoiadores realizam uma manifestação em homenagem às vítimas e pedindo uma “carta de compromisso”, segundo a moradora Eliofabia Rodrigues da Silva, 35 anos, da prefeitura garantindo a continuidade do pagamento de auxílio.
“Já perdemos tantas coisas, perdemos uma amiga que até hoje não foi encontrada no prédio e morreu como indigente, a família sequer pôde ter certeza de sua morte, e agora só queremos a garantia de que vamos ter auxílio até ser contemplado com uma moradia popular”, diz Eliofabia.
Por meio de nota, a Sehab (Secretaria Municipal de Habitação) disse que as 291 famílias que comprovaram que moravam no prédio que desabou teve um convênio firmado com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) que garantiu, por um ano, o auxílio de R$ 400 por mês, sendo que no primeiro mês foi de R$ 1.200.
Respondendo à preocupação dos moradores sobre o fim do auxílio depois do primeiro ano, sem serem contemplados por moradias populares, a nota afirma que “a Prefeitura de São Paulo anunciou a continuidade no auxílio a partir de maio deste ano até o atendimento habitacional definitivo”.
Restam pó e tristeza
Em frente ao espaço que hoje ocupado por pó e alguns entulhos do edifício que caiu, um outro prédio segue ocupado por sem-teto. Em um dos apartamentos do primeiro andar, mora a irmã de Eliofabia. Na residência, a cozinha formada com cobogós permitem per a igreja ao lado do prédio e um pouco do que sobrou do edifício.
“A gente no prédio formava uma família e é só tristeza que sobra em lembrar o que aconteceu. Mas a gente tem que seguir a vida, mas deixamos um recado para o secretário da Habitação, seu Aloísio [Pinheiro], e para o [prefeito] Bruno Covas: queremos uma resposta, porque a gente não era morador de rua, e com R$ 400 reais a gente não resolve nada”, afirma Eliofabia.
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Ela morou por oito anos no prédio do Paissandu e, depois do desabamento, ficou por três meses e 10 dias acampada no Largo do Paissandu aguardando respostas das autoridades sobre o futuro, até se mudar para um endereço vizinho.
No entanto, passa os dias na casa da irmã, onde guarda os panos de prato que vende nas vilas para ter renda. Além disso, faz bicos de auxiliar de limpeza. Ela espera continuar recebendo os R$ 400 de auxílio da prefeitura em junho, já que, inicialmente, a último auxílio estava previsto para 4 de maio deste ano.
“Se cortar [o auxílio] eu nem sei o que vou fazer, porque trabalho na rua e tudo que eu tenho aqui hoje é de doação”, afirma. Ela afirma que tem uma reunião marcada para o próximo dia 20, às 15h, com representantes da prefeitura, que definirá o futuro dela e de outros beneficiados do auxílio-aluguel.
Outros prédios
Após a tragédia que deixou, oficialmente, sete mortos, começou uma série de fiscalização aos prédios do centro de São Paulo. Segundo a prefeitura, na primeira fase de vistorias, finalizada em agosto, 75 imóveis foram visitados, sendo que 51 deles estavam ocupados.
“Destes, 35 são prédios particulares e, nestes casos, embora o Município não possa intervir diretamente, busca solução para diminuição dos riscos junto aos proprietários e famílias”, disse a nota da Sehab.
Para as outras 16 ocupações, a secretaria afirma que o município tem proposta de intervenção para transformar 11 delas em moradia popular ou equipamento público. “Para estes casos, a Prefeitura iniciou negociação com a Caixa Econômica Federal para agilizar a análise dos projetos e busca recursos junto ao Governo Federal para revitalização desses prédios”, afirma.
A primeira fase de visitas também resultou, ainda segundo a pasta, na criação de um “grupo permanente que atua com plano de trabalho a longo prazo no sentido de propor medidas para mitigar os riscos nesses locais”.
De acordo com a secretaria, desde a criação do grupo, quatro prédios já foram interditados e outros três foram desocupados por decisão judicial de reintegração de posse. A pasta afirma que iniciou, em dezembro do ano passado, a segunda fase de vistorias, que pretende fiscalizar a execução das recomendações feitas nos prédios durante a primeira fase.
Culpados do crime
A queda do edifício do Largo do Paissandu gerou duas frentes de investigações para a Polícia Civil de São Paulo: uma apura os responsáveis pelo incêndio que causou o desabamento, a outra identifica a cobrança indevida de mensalidade dos moradores.
Segundo a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), três coordenadores do movimento que ocupou o prédio foram indiciados por incêndio qualificado, após a conclusão do inquérito policial instaurado pelo 3º DP (Campos Elísios), concluído em outubro do ano passado.
Após a Polícia Civil concluir o inquérito, o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) solicitou exames periciais complementares. Por isso, segundo a SSP-SP, foi instaurado um novo inquérito policial, agora pelo Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), para apurar as cobranças de alugueis em ocupações irregulares.
Para essa nova investigação da Polícia Civil, de acordo com a secretaria, o pedido de novas perícias foi encaminhado para o Núcleo de Engenharia da SPTC (Superintendência da Polícia Técnico-Científica), e os encaminhamentos está em fase final, mas em segredo de Justiça.