Após 20 anos, atirador do cinema do Morumbi Shopping pode ser solto
Preso em Salvador (BA), Mateus da Costa Meira, que matou 3 pessoas durante exibição do filme Clube da Luta, pode ser beneficiado por laudo médico
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7
Duas décadas depois de executar três pessoas, ferir outras quatro e levar pânico a mais uma dezena, pelo menos, ao disparar rajadas com uma submetralhadora dentro de uma das salas do cinema no Morumbi Shopping, em São Paulo, crime ocorrido no dia 3 de novembro de 1999, o ex-estudante de engenharia baiano Mateus da Costa Meira, de 44 anos, poderá deixar a prisão, beneficiado por um laudo médico.
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A defesa do detento, condenado 48 anos e nove meses de reclusão — a sentença inicial proferida pelo Tribunal de Justiça paulista era de 120 anos e meio — e atualmente recluso no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Salvador (HTC), da capital baiana, foi submetido a um exame de verificação de cessação de periculosidade com a finalidade de se estabelecer a viabilidade de o presidiário retornar à vida em sociedade.
De acordo com o resultado da análise, Mateus da Costa Meira "encontra-se compensado, funcional, sem qualquer alteração de comportamento que indique periculosidade". Assim, conforme o despacho do TJ da Bahia, enviado à reportagem do R7, o preso é considerado "apto à desinternação". No entanto, o Ministério Público baiano solicitou que o exame seja refeito.
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Em nota, a Promotoria informou que não iria se manifestar quanto ao resultado do primeiro exame por se tratar de uma "questão privada relativa à saúde do preso", mas que aguarda a realização de novo teste para ter mais segurança sobre o resultado — o laudo deste último exame ainda não foi remetido ao MP.
Terror no cinema
O crime que chocou o país foi cometido durante a exibição do filme norte-americano "Clube da Luta", protagonizado pelos astros Brad Pitt e Edward Norton, que contava a história de um vendedor de seguros perturbado psicologicamente que passa a frequentar um violento clube de combate.
Após comprar ingresso para a sessão, na noite de 3 de novembro, uma quarta-feira, o então estudante do sexto ano de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo vai até o banheiro do cinema, tira uma submetralhadora americana 9 mm de uma bolsa e retorna à sala, onde dispara indiscriminadamente em direção aos espectadores.
"O caso do Mateus revelou a fragilidade da sociedade diante de alguém armado e com um dispositivo de grosso calibre. Supor que no cinema você poderia ser alvo de um crime brutal era algo inimaginável até então. Espero que as vítimas e os familiares tenham vivido em paz todos estes anos para superar o trauma", destacou Celso Teixeira, diretor de comunicação da Record TV, que cobriu o caso como repórter do Jornal da Record à época.
Vítimas e julgamento
Morreram no massacre a fotógrafa Fabiana Lobão Freitas, de 25 anos, a publicitária Hermé Luísa Jatobá Vadasz, de 46, e o economista Júlio Maurício Zeimaitis, de 29. Sofreram ferimentos a engenheira agrônoma Andrea Cury Lang, o produtor de cinema Carlos Eduardo Porto de Oliveira, o engenheiro Antônio José Carvalho de Amaral Martins e José Eduardo Andrade da Silva.
Mateus foi preso em flagrante e, cinco anos depois, levado a júri popular no Fórum Criminal da Barra Funda. No julgamento, a defesa adotou a tese da inimputabilidade pelo fato de o réu ter distúrbios mentais. O defensor alegou ainda que o uso de drogas pode ter influenciado na ação do estudante.
Novo crime
Exatamente dez anos depois do crime, Mateus da Costa Meira esfaqueou um companheiro de cela na Penitenciária Lemos Brito, na capital baiana. No entanto, o ex-estudante de medicina foi considerado inimputável pela tentativa de homicídio do espanhol Francisco Vidal Lopes, de 68 anos, que cumpria pena por tráfico de drogas, em quem desferiu vários golpes de tesoura na cabeça.
Após o episódio, o atirador do Morumbi Shopping foi transferido para o HTC, unidade prisional ligada à Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia, destinada ao cumprimento de medidas de segurança de internação e que abriga detentos com problemas mentais, onde permanece até hoje.
Outro lado
A reportagem do R7 procurou o advogado que representa Mateus da Costa Meira atualmente. No entanto, o defensor não respondeu ao pedido de entrevista para esclarecer detalhes sobre a execução do novo exame e a possibilidade de soltura do preso até a publicação desta matéria.