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Após ações fracassadas, motofaixa passa a operar na 23 de Maio hoje

Medida visa diminuir acidentes com motos, que representam 78% dos casos na avenida e mataram 394 na capital em 2021

São Paulo|Gabriel Croquer, do R7

Especialista afirma que carros à esquerda da motofaixa podem ficar "presos" na avenida
Especialista afirma que carros à esquerda da motofaixa podem ficar "presos" na avenida Especialista afirma que carros à esquerda da motofaixa podem ficar "presos" na avenida

Depois de algumas tentativas fracassadas, a Prefeitura de São Paulo inaugura nesta terça-feira (25) mais uma motofaixa, desta vez na avenida 23 de Maio, na zona sul da cidade. O projeto-piloto, chamado de "Faixa Azul", estará em 5,5km da via, no sentido do Aeroporto de Congonhas, desde as proximidades da praça da Bandeira até o complexo viário João Saad. A iniciativa custará R$ 500 mil aos cofres municipais.

Diferentemente das tentativas anteriores da prefeitura, que reservavam uma das faixas da avenida apenas para motos, o novo trecho será estabelecido no meio dos carros, na área onde os veículos já costumam passar quando o tráfego está parado. A passagem pela faixa não será obrigatória aos motociclistas e terá o mesmo limite de velocidade da avenida, de 60 km/h. 

Em 2021, 394 motociclistas morreram em acidentes de trânsito na capital paulista — mais de um por dia. Na avenida, esses condutores estiveram em 78% dos acidentes, segundo dados da CET (Companhia de Engenharia e Tráfego). A meta é reduzir o indicador em 30%. 

As mortes do grupo preocupam também as autoridades por conta do aumento expressivo mesmo em meio às restrições de movimentação durante a pandemia de Covid-19. Apesar de somar 16% (18,2 milhões) da frota de veículos do estado de São Paulo, o modal está em 40% dos acidentes de trânsito.

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Obstáculos

A nova ideia da motofaixa dividiu os especialistas entrevistados pelo R7.O diretor do Instituto Zero Morte para a Segurança em transportes, Paulo César Pêgas Ferreira, elogiou a estratégia, inédita, de instalar o caminho entre os carros mas ressaltou que a fiscalização e a conscientização dos motociclistas são fundamentais.

"A prefeitura tem que disciplinar os motociclistas que essa velocidade de corredor vai ter que ser a velocidade de tráfego, ou um pouco menor do que a velocidade de tráfego em algumas situações. Que o motociclista vai ter que guardar distância do motociclista que está à sua frente (...) Tem que ter todo um trabalho de educação", diz.

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O consultor em segurança no trânsito Horácio Augusta Figueira não tem expectativa de que a nova motofaixa funcione e cita também a falta de conscientização no trânsito como principal entrave. Ele foi ao local nesta segunda-feira (24) para acompanhar o trânsito e apontou uma série de defeitos que devem manter o número de acidentes em patamares altos. 

"Aquilo pode funcionar fora do pico. Quando a cidade voltar a encher, em fevereiro ou março, com a volta das escolas, aí o que vai acontecer é o seguinte: as faixas para automóveis praticamente congestionadas e a faixa de motos andando no meio em alta velocidade", comentou.

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Ele também lembrou do grande volume de motos que passa por hora na avenida (2.400 nos horários de pico). Por dia, são cerca de 50 mil.

Não cabe%2C por ora. Esse número não opera. Aí vai explodir%2C que nem o rio quando transborda. Começa a entupir%2C o cara sai para a esquerda%2C para a direita. Na hora de pico ele sabe que não vai andar e vai forçar andar entre os automóveis de novo

(Horácio Augusta Figueira, consultor em segurança no trânsito)

Ele acredita que a motofaixa não deve diminuir a disputa entre carros e motos, porque ambos terão que entrar e sair da área para outras ruas conectadas à avenida 23 de Maio, e alerta que os carros com a faixa especial à sua direita ficarão travados. "Quem estiver à esquerda e quiser sair para a direita vai ter que ajoelhar e pedir licença para as motos. Porque não vai ter brecha", completa. 

O histórico de motofaixas em avenidas na capital não é positivo. A avenida Sumaré já foi palco de um projeto parecido, mas colocado à esquerda, entre o asfalto e calçada. A iniciativa foi encerrada em 2013, depois que os acidentes dobraram e os atropelamentos cresceram 33%. A mesma tendência se repetiu com faixas similares na rua Vergueiro e avenida Liberdade e a prefeitura voltou a desistir.

Apesar das dificuldades para os projetos emplacarem, os dois especialistas afirmam que a questão é urgente. Eles citam os números estimados de mortos e sequelados entre os motociclistas em 2021 — cerca de 17.000 e 150.000 no Brasil, respectivamente — que consideram comparáveis aos de uma "guerra civil". 

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