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Após denúncias do golpe da fruta, comerciantes do Mercadão de SP relatam prejuízos

Vendedores se queixam de perda de lucro e menos movimentação. Para a administração, bancas que aplicam o golpe são minoria

São Paulo|Isabelle Amaral*, do R7

Comerciantes desabafam sobre perca de clientes após denúncias de golpe
em certas bancas
Comerciantes desabafam sobre perca de clientes após denúncias de golpe em certas bancas Cecília Bastos/USP Imagem

Mais de um mês após as primeiras denúncias do golpe da fruta no Mercado Municipal de São Paulo, ponto turístico popularmente conhecido como "Mercadão de SP", o clima entre os comerciantes do local é de medo de que novos relatos e reclamações venham à tona, mesmo entre as bancas que não têm o hábito de aplicar tais práticas. Com as denúncias, a maior parte dos comerciantes diz ter sido prejudicada.

Os funcionários do Mercadão contam que, desde que as denúncias foram divulgadas, a movimentação diminuiu. “A gente achou que ia se recuperar do que a pandemia nos causou, ficamos fechados por um tempo, depois as pessoas ficaram com medo de vir para cá por causa da Covid e, agora que estava tudo indo para frente, veio isso”, disse um vendedor que preferiu não ser identificado.

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Cada vez mais pessoas têm comentado nas redes sociais que preferem não visitar o Mercadão. “Me empurraram as ameixas mais caras do mundo, não volto lá nunca mais”, escreveu Carlos Vieira. Relatos de constrangimento caso o cliente não queira levar o produto também continuam presentes entre comentários. “Quando eu fui nesse mercado, me ofereceram uma fruta importada e quando fui comprar, o preço era um absurdo, aí desisti. Fui xingado e os vendedores debocharam de mim, isso intimida demais, escreveu o internauta Rodrigo Saborgi.

Apesar dos diversos relatos sobre a aplicação do golpe, trabalhadores que comercializam seus produtos sem fazer uso das práticas abusivas se queixaram de sofrer as consequências. O R7 conversou com alguns comerciantes do local que, por medo de serem prejudicados de alguma forma, preferiram não se identificar, mas disseram que a renda tem sido menor desde que os “golpes da fruta e mortadela” vieram à tona.


“Olha, eu sei que existe, mas nos últimos noticiários, todos só querem saber do consumidor e não olham para o comerciante honesto que quer continuar trabalhando, vendendo suas coisas e que está fazendo isso de maneira digna. Eu vi o Procon vindo aqui, interditou alguns lugares e confesso que tive um pouco de medo de perder meu trabalho, ainda que estivesse com a consciência limpa”, desabafou um vendedor.

Equipes do Procon realizaram nova operação no local
Equipes do Procon realizaram nova operação no local

Na última quarta-feira (23), equipes do Procon estiveram no Mercado Municipal de São Paulo para a segunda parte da operação que apura os golpes denunciados no local. Os fiscais vistoriaram 46 estabelecimentos e autuaram 18 (39%) deles por desrespeitarem o CDC (Código de Defesa do Consumidor). Entre as irregularidades, a falta de informação do preço ocorreu no maior número de barracas: 12.


Para um outro comerciante, alguns clientes acabam passando pelas bancas sem reparar no preço. “Muito disso acontece pelo erro de interpretação das pessoas. Olha, está aqui (mostrou a informação do preço), tem o nome da fruta e o valor por quilo.” Ele faz um alerta para que as pessoas fiquem atentas ao valor digitado na máquina de cartão, para que não haja erros. “Eu sei que existe isso aqui, como em qualquer outro lugar, às vezes é um erro de digitação do próprio vendedor, ou ele faz na maldade mesmo, então cada um tem que ficar atento”, disse.

Patrick Rodrigues, que é filho de um dos vendedores do local, relatou em entrevista ao R7 que o pai, de 63 anos, chegou a chorar quando viu a primeira reportagem sobre as denúncias do golpe no Mercadão, onde trabalha há mais de 15 anos. “Ele ficou abalado e bem sentimental porque ele leva isso muito a sério, chega sempre duas horas antes para poder arrumar toda a banca e deixar bonita para os clientes e conseguir ter as vendas.”


O filho do comerciante disse também que cerca de duas ou três semanas atrás a banca em que o pai trabalha teve apenas cinco vendas o dia inteiro, número considerado baixo por ele. “Isso abalou muito ele. O dono da loja chegou a tirar a comissão deles porque não tinha lucro, então houve muitas consequências dessas denúncias”, relatou.

O jovem explicou ainda que nesta semana as vendas começaram a melhorar, mas ainda assim muitos comerciantes ainda têm medo de outras denúncias impactarem as vendas em geral.

Para a Mercado SP SPE, concessionária que administra o Mercadão desde setembro de 2021, "os vendedores abusivos são minoria entre os mais de 350 comerciantes que operam nos mercados” e "trabalham para resolver problemas com fiscalização, multas e interdição."

Vendedores temem perder mais vendas
Vendedores temem perder mais vendas

Em nota, a concessionária disse que soube das reclamações dos usuários desde que começou a administrar os mercados e realiza reuniões com os locatários de todos os setores para orientar e advertir sobre a obrigatoriedade do atendimento ao Código de Defesa do Consumidor, às regras da Vigilância Sanitária e do Regimento Interno (parte do contrato de locação). “Hoje, é possível afirmar que as reclamações envolvendo alguns poucos comerciantes ocorrem cada vez menos, em função das iniciativas educativas, das advertências e penalidades impostas pela concessionária àqueles que continuam a não cumprir as normas e prejudicar a imagem dos mercados”, declarou em nota.

Procurado pela reportagem, o Procon informou que realizou uma nova operação recentemente nas bancas que possivelmente aplicam os golpes, mas não detalhou como as práticas podem afetar outros comerciantes.

Entenda como funciona o golpe da fruta

O golpe da fruta no Mercadão de SP veio à tona no começo de fevereiro quando diversos consumidores começaram a relatar em suas redes sociais terem pago valores abusivos por bandejas de frutas. Na maioria das queixas, as pessoas dizem ser bem atendidas por funcionários de barracas e descrevem abordagens atenciosas em que os comerciantes oferecem gratuitamente frutas bonitas e diversificadas.

Enquanto isso, segundo relatos, eles montam bandejas e coagem o cliente a comprar os produtos por valores entre R$ 300 e R$ 500. Caso a pessoa se negue, ela é tratada mal, ofendida e, em alguns casos, ameaçada.

A recusa aos produtos, para muitos, parece simples: dizer que não quer comprar a mercadoria, deixar a bandeja, virar as costas e ir embora. Mas, em alguns casos, os comerciantes conseguem assustar os clientes com abordagens agressivas e ameaçadoras.

Uma mulher comentou em uma página da internet que presenciou a cena de um comerciante jogando as frutas na cliente após ela se recusar a pagar o valor de R$ 400 pela mercadoria. “Quando a mulher, que estava com o filho, disse que ia levar apenas uma caixa de uva de R$ 30, ele continuou pressionando para que levasse o resto. Nisso, o homem se transformou completamente, brigou com ela, jogou as frutas e falou um monte. Eu fiquei incrédula”, escreveu.

Antes de o caso repercutir, os consumidores se perguntavam quem fiscalizava o Mercadão, já que os relatos de golpe eram constantes. A gestão do local informou que está à disposição de todos os usuários, além de contar com a colaboração dos clientes para obter informações sobre qualquer tipo de irregularidade, constrangimento ou desrespeito no local. As reclamações podem ser feitas por meio do e-mail sac@mercadospspe.com.br e pelas redes sociais @nossomercadao.

* Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez

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