Associação da PM cobra Prefeitura de SP por fiscalização em pancadões
Para membro da Defenda PM, falhas da gestão municipal em comunidades origina problemas sociais que recaem sobre a Polícia Militar
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7
A Defenda PM ( Associação dos Oficiais Militares do Estado de São Paulo em Defesa da Polícia Militar) classificou as dificuldades enfrentadas pela tropa em abordagens e operações realizadas nos pancadões como consequências da falta de ações de responsabilidade das prefeituras municipais nas áreas periféricas e carentes das cidades.
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A atuação da Polícia Militar no episódio, que terminou com nove frequentadores de um baile funk na favela de Paraisópolis, no último domingo (1), foi posta em xeque por entidades de defesa dos direitos humanos, líderes comunitários e até por especialistas em segurança pública.
Todas as vítimas, que teriam morrido por pisoteamento ao tentar escapar da invasão dos policiais durante o baile da Dz7, eram jovens entre 14 e 23 anos. Nenhum deles era morador da comunidade onde o pancadão é realizado. Alguns saíram de bairros distantes para participar do evento.
"Há um bom tempo, algumas demandas sociais são empurradas para baixo de um tapete chamado segurança pública: invasão de prédios abandonados do centro, as regiões chamadas Cracolândias. Isso é um problema de saúde, de desenvolvimento urbano. Isso tudo é um desencontro enorme entre governos municipal e estadual. Mudam-se políticas de uma forma muito rápida", comentou o coronel PM Ernesto Puglia Neto, secretário geral da Defenda PM.
O coronel da reserva pede unicidade de ações, trabalho em conjunto entre governos estadual e municipal, independentemente de viés político, para que haja um enfrentamento na área social. "O que não pode é deixar tudo correr frouxo, sem uma ação contundente, esperando que a polícia resolva", acrescentou.
Outro ex-comandante da PM, o coronel José Vicente da Silva, especialista em segurança pública, também ressaltou a falta de planejamento da prefeitura para os pancadões, eventos que concentram grande número de frequentadores. A Polícia Militar procura desenvolver um trabalho para fazer um patrulhamento ao redor desses pancadões para exercer também um fator de prevenção com certo grau de intimidação para criminosos.
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"Como é um problema da prefeitura, ou das prefeituras, que por sua vez também não desenvolvem um esquema, como o Carnaval ou Virada Cultural, a PM sabe que nesses casos existe atuação muito forte do tráfico, venda de álcool em grande quantidade. O volume de problemas vinculados aos pancadões é muito grande. Foram mais de sete mil operações e não houve nenhum incidente. Tudo feito com muito planejamento, ordem", ponderou.
De acordo com dados fornecidos por fontes ligadas à corporação, a Polícia Militar abordou, entre janeiro e novembro de 2019, cerca de 200 mil pessoas e 100 mil veículos nas proximidades de bailes funk na Grande São Paulo. Apenas naquele domingo quando houve a operação no Baile da 17, ocorreram 250 pancadões na região metropolitana.
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O saldo das operações foi de 9 mil apreensões de veículos por irregularidades, aproximadamente 1.500 pessoas nos arredores dos pancadões (1.200 detidos em flagrante por crimes cometidos e o restante com mandado de prisão expedido), além do recolhimento de 1,7 tonelada de entorpecentes.
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Ambos os oficiais da reserva concordam que abusos e irregularidades praticados por policiais militares no exercício da função devem ser punidos, mas reiteram a necessidade de rechaçar as tentativas de generalização nas avaliações que são feitas sobre a atuação da tropa nas ruas.
"Lamento pelas vítimas. Lamento sempre. Ninguém merece ser vítima de violência policial. Só que devemos ver direito o que aconteceu. Tudo o que acontece com um indivíduo tem que ser individualizado. Quando a gente generaliza, erra. E erra feio", enfatizou o secretário-geral da Defenda PM, coronel Ernesto Puglia Neto.
Prefeitura anuncia pancadões organizados
Questionada sobre as ações desenvolvidas em Paraisópolis no entorno dos pancadões, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, reconheceu o funk como um movimento cultural da periferia e frisou que, há seis meses, elabora o Festival Funk da Hora, em parceria com a Secretaria Municipal das Subprefeituras.
O evento, debatido com representantes da sociedade civil, entidades, órgãos governamentais do estado, tem como objetivo a valorização da cultura do funk, sua descriminalização, bem como o fornecimento de infraestrutura adequada para a realização dos bailes em segurança.
A primeira edição do Funk da Hora ocorrerá na Cidade Tiradentes, nos dias 14 e 15 de dezembro, com apresentações de artistas como: Tati Quebra Barraco, MC Xuxu, MC Deize Tigrona, MC Deyzerre, Rafa PL e Black Meeting, entre outros.
De acordo com a prefeitura paulistana, já está prevista a segunda edição do Funk da Hora, marcada para acontecer em janeiro de 2020, em Heliópolis, também na zona sul da cidade. O funk será tema de cinco mesas de discussão, um cinedebate e dois workshops.
Além do Festival, a administração municipal ressaltou que promoveu shows com a presença de grandes nomes do segmento no Centro Cultural Tiradentes durante o Mês da Consciência Negra, no aniversário de São Paulo e na Virada Cultural.
Outras ações em Paraisópolis
A Prefeitura de São Paulo, no mesmo texto enviado à reportagem do R7, elencou e detalhou uma série de serviços oferecidos pela administração municipal em áreas como: educação, saúde, cultura e lazer.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que a região de Vila Andrade recebeu prioridade no atendimento às creches. Tanto que, em 2019, a fila de espera deste serviço foi zerada. Na região, funcionam 23 equipamentos educacionais, dos quais 15 prestam atendimento a 3.300 crianças de 0 a 3 anos.
Já o CEU Paraisópolis "Professora Marisa Motta" desenvolve diversos programas esportivos, além do projeto social da ex-medalhista em campeonatos mundiais da categoria e Jogos Pan-Americanos Daiane dos Santos, com aulas de ginástica artística.