Bullying era frequente nessa escola, diz ex-professor
Dois jovens encapuzados teriam invadido a escola e atirado contra alunos e funcionários. No total, 10 pessoas morreram, entre eles os atiradores
São Paulo|Fabíola Perez e Kaique Dalapola, do R7
O professor Edilson Castilho Tavares, que trabalhou até 2015 na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (Grande SP), disse que a prática de bullyng era comum nas salas de aula. O período que ele deu aula na escola corresponde ao período de estudos de um dos atiradores que invadiu a escola nesta quarta-feira (13) — no entanto, não há informação se o jovem estudou no local.
"Naquela época o bullying era constante. Era praticamente impossível trabalhar em uma escola com sala de 50 alunos, sendo que comportaria cerca de 30. Me lembro de um aluno que desmaiou e foi chamado o Samu, e quando o Samu chegou acharam comprimidos entorpecentes ao lado do vaso sanitário", disse Tavares.
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Na manhã desta quarta-feira, dois jovens, um de 19 e outro de 25 anos, invadiram a escola armados e atiraram contra dezenas de alunos e funcionários. Seis pessoas morreram no local, duas foram socorridas mas não resistiram. Segundo o Governo de São Paulo, os atiradores teriam cometido suicídio. Outras 10 pessoas foram feridas e estão hospitalizadas.
A aluna Kelly Milene Guerra Cardoso, 16 anos, acredita que os atiradores “queriam matar quem fez bullying com eles, mas saíram atirando em todo mundo”. A estudante disse que estava comendo no pátio quando ouviu o barulho de tiros e, juntamente com amigos, saiu correndo para a cantina.
Uma funcionária da sala de leituras da escola disse que ficou de frente com o atirador mais jovem, de 19 anos, e o reconheceu. Segundo ela, que pediu para não ser identificada, o rapaz estudou no local e sofria problemas psiquiátricos. A funcionária acredita que só não foi mais uma vítima porque o rapaz tinha uma relação afetiva com ela.
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Segundo o professor, a escola fica na região central da cidade, no entanto, recebe alunos de diversos lugares. De acordo com o Tavares, a escola é muito procurada por pais, para matricular os filhos, por ter curso de línguas. Ele afirma ainda que a escola recebe alunos de "todas as classes sociais, [por isso] as salas são superlotadas".
Atualmente, o professor dá aula em um colégio particular. Segundo ele, depois do crime na escola que trabalhou, está com "sentimento de impotência". "Queremos combater o bullying com projetos, mas o estado precisa estar mais presentes".
A aluna sobrevivente disse que cerca de 60 alunos ficaram sentados no chão próximos a ela, na tentativa de escapar do massacre. "Vi os corpos, meus amigos estão em estado grave."Tenho meu amigo Samuel, que é como se fosse um irmão, hospitalizado porque levou um tiro próximo a cabeça".