Cantareira: revegetação seria saída para manter água, diz especialista
Sistema é um dos mais importantes para o abastecimento da Grande SP. Professor também alerta sobre desafios da estiagem
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7
O professor de engenharia hídrica da Universidade Mackenzie, Antonio Eduardo Giansante, fez um alerta sobre a importância da revegetação (reflorestamento em áreas degradadas) na região do Sistema Cantareira para manter a água das chuvas no reservatório — que abastece cidades da Grande São Paulo —, especialmente em razão de as mudanças climáticas terem provocado o aumento da estiagem nos últimos anos.
O Sistema Cantareira opera com menor volume útil já registrado desde a crise hídrica de 2013, quando atingiu 57,1% de capacidade ocupada. Nesta terça-feira (17), o nível estava em 39,2%, segundo o Portal dos Mananciais da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Leia também
O nível é também o mais baixo se comparado com os mananciais que abastecem a Grande São Paulo: Alto Tietê (46,6%), Guarapiranga (51,1%), Rio Claro (45,0%), São Lourenço (58,4%), Cotia (60,6%) e Rio Grande (68,3%). O volume armazenado na região é de 45,3%.
"Neste ano, está chovendo abaixo da média e as crises hídricas estão se tornando rotineiras. Precisamos manter essa água dentro do sistema Cantareira. Não só dentro da represa. Precisamos revegetar. Cada árvore facilita muito a entrada de agua da chuva no solo. Essa água é uma reserva muito grande e que vai ajudar a perenizar os rios e represas quando estiver chovendo menos", avaliou o professor de engenharia hídrica do Mackenzie.
O Sistema Cantareira abastece, atualmente, 7,2 milhões de pessoas (antes da crise de 2014, eram 9,2 milhões), segundo números divulgados pela Sabesp. Em fevereiro de 2015, o sistema atingiu índices negativos e chegou a -24,3%, sendo necessária a captação de água da reserva técnica. O maior volume registrado ocorreu em abril de 2010, quando o Cantareira atingiu um volume útil total de 100,5%.
Segundo a Sabesp, o Cantareira armazena aproximadamente 1,2 trilhão de litros de água. Desse total, 982 bilhões de litros estão acima do nível das comportas de transporte por gravidade (volume útil), enquanto o restante fica abaixo das comportas (reserva técnica).
Na última segunda, o volume útil — aquele registrado acima do nível das comportas — era 384,7 milhões de metros cúbicos, uma queda de 0,1% em relação à medição do dia anterior. No dia 3 de março deste ano, o sistema operou com 48,6%, mais baixo até então. Em 2020, o volume correspondia a 61% da capacidade total.
Risco de desabastecimento afastado
O professor de engenharia hídrica da Universidade Mackenzie, Antonio Eduardo Giansante, explicou também que, apesar do baixo índice, a quantidade de água armazenada pelo Cantareira no momento ainda é considerada grande.
Por isso, apesar da queda acentuada nos índices do sistema, o especialista descarta a possibilidade de crise de abastecimento, em razão do legado deixado pela crise de 2013/14 no setor. "Não tenho uma visão catastrófica. Hoje, há uma interligação entre os mananciais. Você pode enviar água de um sistema a outro. Tem lições aprendidas [da crise hídrica de 2013] que tornam o sistema produtor de água mais seguro", pontou Giansante.
O que diz a Sabesp
Em nota, a Sabesp garantiu que não há risco de desabastecimento neste momento na região metropolitana de São Paulo, mas reforçou a necessidade do uso consciente da água.
A empresa frisou que o Cantareira é um dos sistemas que abastecem a região, dentro de um Sistema Integrado composto ainda por outros seis mananciais: Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço.
A companhia afirmou que vem realizando, nos últimos anos, ações que dão mais segurança hídrica e tornam o sistema de abastecimento da Grande São Paulo mais resiliente como a ampliação da infraestrutura, integração e transferência entre sistemas, além de campanhas de comunicação para o consumo consciente de água por parte da população.
"Neste momento de estiagem, a queda no nível das represas é esperada e a projeção da Sabesp aponta níveis satisfatórios para os próximos meses, até 2022. Medidas adicionais às que já são realizadas serão adotadas se necessário, levando em consideração as projeções da Companhia e todo o trabalho de acompanhamento da situação que visa a assegurar o abastecimento da população", destacou o comunicado.
Ainda conforme a Sabesp, o Sistema Integrado opera nesta terça (17/8) com 45,2% de sua capacidade total, nível similar aos 46,5% do mesmo dia de 2018, quando não houve problemas de abastecimento.
O nível de alerta ocorre, segundo as regras da outorga, quando o Sistema Cantareira registra nível abaixo de 40% no último dia do mês e vale para o mês seguinte. Com isso, o limite máximo de retirada do reservatório passa de 31 m³/s para 27 m³/s. A Sabesp esclarece que a retirada atual já tem sido inferior: 23 m³/s.
Informações complementares
A Sabesp também pontuou as principais obras realizadas: Interligação Jaguari-Atibainha e o novo Sistema São Lourenço, ambos em operação desde 2018, além da ampliação da interligação entre os 7 sistemas
Principal obra em andamento: A interligação do rio Itapanhaú, obra para reforçar a segurança hídrica na região metropolitana de São Paulo, que inicia operação no fim de 2021, transferindo 400 litros por segundo (l/s) desse rio para o Sistema Alto Tietê. Até julho de 2022, serão em média 2,0 mil l/s.