Cartas recuperadas do esgoto iniciaram investigação contra PCC
Inquérito foi aberto depois da Operação Echelon, que interceptou cartas em rede de esgoto da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau
São Paulo|Pedro Pannunzio, do R7*
Cartas recuperadas no esgoto da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a 618 km de São Paulo, formaram a base da operação Echelon, a última investigação do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) sobre o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Ao todo, 70 homens e cinco mulheres estão sendo acusados por organização criminosa.
A partir da instalação de telas de contenção nos dutos da rede de esgoto do presídio de Presidente Venceslau, principal reduto da facção, foi possível interceptar as mensagens descartadas pelos membros do PCC em pequenos pedaços.
Os fragmentos passaram por um processo de secagem e, em seguida, foram emendados e separados de acordo com a semelhança da letra.
A partir dos conteúdos encontrados nas cartas, O MP-SP apresentou uma denúncia, obtida pelo R7, apontando que a célula “Sintonia de Outros Estados e Países”, estrutura que comanda as ramificações de outros Estados da facção, estaria controlando interinamente o PCC, por conta do isolamento imposto aos líderes presos da facção.
A denúncia indica que “a organização criminosa, mesmo após o isolamento de seus líderes máximos, rearranjou-se, utilizando-se de outros membros para seguir com as empreitadas criminosas (distribuição de armas, tráfico de drogas, execuções de adversários) e obter hegemonia, inclusive nos demais Estados da Federação e em outros países da América do Sul”.
Por meio do exame grafotécnico pelo Instituto de Criminalística, foi possível concluir que as cartas foram escritas, entre outros membros, por Cláudio Barbará da Silva, o Barbará, e Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, tidos como as principais lideranças da “Sintonia de Outros Estados e Países”.
Além deles, o MP-SP ainda assinala outros cinco presos como integrantes dessa cúpula.
PCC teria ordenado atentados simultâneos em MG e RN
A célula seria responsável por ordenar, de dentro das penitenciárias, execuções de agentes do Estado, queima de ônibus, assassinato de rivais de outras facções e outros delitos.
A análise do material identificou a participação dos envolvidos na organização e execução de homicídios, rebeliões, ataques a Fóruns, distribuição de armamento e drogas, atentados contra agentes públicos e órgãos do Estado e também no fomento da guerra entre facções nos Estados brasileiros.
Uma das cartas cita, ainda, que alguns integrantes de outros Estados se deslocariam para São Paulo para aprender a montar bombas que seriam usadas em possíveis ações.
Isolamento das lideranças
Por meio da imposição do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) e transferências para outras penitenciárias com regime mais rigoroso, a cúpula da “Sintonia Geral Final”, composta pelos líderes da organização que controlam o PCC, passou a ficar isolada dos demais membros da facção. Isso ocorreu após a deflagração da Operação Ethos, em dezembro de 2016.
O isolamento da principal cúpula do PCC, composta inicialmente por oito membros, entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, morto no início deste ano, foi o que permitiu a ascensão da “Sintonia de Outros Estados e Países”.
As decisões da nova liderança, no entanto, atendem aos interesses da “Sintonia Geral Final”, conforme aponta a denúncia apresentada pelo MP-SP. “As decisões externas aos Presídios Paulistas, em especial à Penitenciária 2 de Presidente Venceslau-SP, são tomadas por pessoas com subordinação direta à Sintonia Final da organização”.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ingrid Alfaya