Casa de Papel de Viracopos: 18 são investigados por megarroubo
Polícia Federal já ouviu mais de 30 pessoas e agora concentra a investigação em grupo que inclui funcionários e ex-funcionários do aeroporto
São Paulo|Márcio Neves, do R7
Novas imagens obtidas pelo R7 mostram que a caminhonete clonada utilizada no assalto ao aeroporto de Viracopos respeitava as marcações feitas na pista para o trânsito de veículos, reforçando a tese dos investigadores de que a ação teve envolvimento direto de funcionários ou ex-funcionários do local. Para a polícia, só alguém que vivia a rotina do aeroporto e conhecia bem as regras teria aquele comportamento.
Foram roubados na ação 4 milhões de dólares, R$ 3,4 milhões de reais e 1.300 libras esterlinas, um total de R$ 16 milhões que pertenciam a um banco especializado em operações de câmbio.
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A Polícia Federal já ouviu mais de 30 pessoas e agora concentra a investigação em 18 suspeitos, a maioria de funcionários, inclusive alguns que trabalhavam no aeroporto na noite do crime. Alguns tiveram o sigilo telefônico quebrado.
Os investigadores também analisam informações repassadas pelo setor de inteligência da polícia paulista para tentar identificar os responsáveis pelo crime.
Ação precisa e rápida
A ação em Viracopos começou em um matagal no bairro Jardim Planalto, vizinho do aeroporto. A área faz divisa com a grade que demarca o sítio do aeroporto. No local, há um campinho de futebol, com um barraco onde funciona um bar improvisado. Ali testemunhas contaram para a reportagem do R7 que o "carro do aeroporto" passou no local duas vezes no domingo, uma no fim da tarde e outra no ínicio da noite. Depois nunca mais foi visto.
O carro do aeroporto seria a Hylux Amarela usada no roubo. Ela tinha adesivos e sirenes luminosas e era idêntica à usada pelas equipes de segurança e fiscalização do aeroporto, imitando a ação feita no aeroporto de Vitória em janeiro de 2017.
Protegidos pela vegetação densa do local, os homens, ao menos cinco segundo a polícia e sete, segundo moradores do local, cortaram a grade, fizeram uma rampa improvisada e tiveram acesso a uma estrada interna da área do aeroporto.
Naquela área existe uma outra cerca, com portões de acesso para uma segunda estrada interna que permite acessar a pista de pouso e os terminais de passageiros e cargas. Os assaltantes arrombaram estes portões e, a partir dali, estavam dentro da área restrita.
Do local onde foi feito o buraco nas grades, os assaltantes já tinham também uma vista privilegiada da pista e puderam ver o avião cargueiro pousar às 19h34, vindo de Guarulhos com a valiosa carga. Após o pouso, o avião, um cargueiro MD-11, começou a taxiar — nome dado para o movimento de estacionamento da aeronave.
Após isso, as equipes do aeroporto começaram a manejar as cargas da aeronave. Segundo funcionários do aeroporto, o procedimento é normal. "Muitas cargas precisam ser readequadas no porão do avião, para distribuir o peso", afirmou um funcionário de uma empresa que opera no terminal de cargas de Viracopos.
Os investigadores estimam que os assaltantes começaram a ação por volta de 19h20, mas que as grades ja haviam sido cortadas muito tempo antes, logo ao anoitecer, momento em que os veículos de segurança deixam de percorrer a estrada mais externa ao redor do aeroporto. A informação foi confirmada por funcionários do aeroporto com quem o R7 conversou.
Após entrarem pelos portões que foram arrombados, os ladrões encontraram um carro da segurança que fazia a ronda nessa segunda estrada, já bem próxima da pista de pouso e decolagem. No carro havia dois funcionários da GPS Segurança, que presta serviços para a Aeroportos Brasil, empresa que administra o aeroporto de Viracopos. Eles foram rendidos e obrigados a acompanhar a ação.
Às 21h28, cinco homens chegam na área onde estava o avião cargueiro e na qual poucos minutos antes havia sido desembarcado o contâiner onde estavam 6 malotes com o dinheiro embarcado em Guarulhos. Os assaltantes precisaram arrombar o container e, às 21h32, colocam os malotes no carro usado para invadir o local e fogem.
Na fuga, um outro portão que dá acesso à estrada da parte mais externa ao aeroporto é arrombado. A saída é por uma abertura feita na cerca externa do aeroporto, já próximo à rodovia Santos Dumont (SP-75). Após essa fuga, os assaltantes trocaram de carro e atearam fogo no veículo clonado utilizado na ação.
Depois da troca de carros, não há mais informações sobre o paradeiro dos assaltantes. Os investigadores afirmam que também estão analisando as imagens da rodovia e de empresas próximas na tentativa de identificar o veículo utilizado na fuga. Uma semana depois do assalto, ninguém ainda foi preso ou detido.
Outro lado
O Banco Rendimento, que era o dono do dinheiro e fez a remessa ao exterior, afirma que colabora com as investigações e diz que "a operação é rotineira do mercado de câmbio e que todas as normas estavam sendo cumpridas". A Receita Federal, órgão que fiscaliza o envio de dinheiro para o exterior, também afirmou que a remessa atendia todos os requisitos legais, e reconheceu que a operação é rotineira.
A Lufthansa, empresa proprietária do avião que fazia o transporte do dinheiro, e a Aeroportos Brasil, empresa concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Viracopos, afirmam que estão colaborando com as investigações.
Já a Polícia Federal informa que o caso segue em sigilo para não prejudicar as investigações, que continuam em andamento.