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Caso Sophia: "sacola foi usada para fraudar a situação", diz delegada

Delegada que acompanhou a perícia no apartamento e mãe de Sophia foram as principais testemunhas no primeiro dia do julgamento de Ricardo Najjar

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

Menina Sophia, 4 anos, encontrada morta no apartamento do pai
Menina Sophia, 4 anos, encontrada morta no apartamento do pai

A delegada titular da Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes contra a Criança e o Adolescente Ana Paula Rodrigues afirmou, na tarde da terça-feira (30) em depoimento ao Tribunal do Júri, que a garota Sophia, de 4 anos, não se asfixiou com uma sacola plástica. “A sacola foi um meio para fraudar a situação”, afirmou.

Na tarde da terça-feira (30), começou o juri popular que busca julgar a participação de Ricardo Krause Esteves Najjar na morte da filha. Os primeiros depoimentos foram da mãe da menina, da delegada que esteve presente no apartamento no dia da morte para acompanhar a perícia, de um médico legista e dois peritos criminais.

No total, foram ouvidas cinco testemunhas de acusação. Nesta quarta-feira (31), começam a ser ouvidas as testemunhas de defesa de Ricardo Najjar. Entre elas, estão familiares e a namorada do réu, Isabela Marques. 

Durante depoimento, a delegada lembra que chegou ao local em que Sophia morreu às 21h30 do dia dois de dezembro de 2015, acompanhada de um assistente e um investigador, e encontrou indícios de um possível homicídio. “Havia diversos papéis higiênicos retorcidos, derramamento de sangue e o lado esquerdo da cabeça dela estava molhado”, afirmou. O corpo de Sophia foi encontrado no quarto. “Na vagina, foram encontrados fragmentos de pelos”, relata a delegada.


De acordo com Ana Paula, o pai da garota, afirmou em depoimento à polícia que estava tomando banho e quando terminou viu a filha com uma sacola plástica na cabeça. “Ele respondeu que levantou a sacola até a metade do rosto dela, mas ao ver o sangue, disse que ‘aquilo não era bonito’ e abaixou a sacola.” O material plástico teria, então, ficado grudado no rosto de Sophia, segundo o pai.

As investigações da Polícia Civil constataram 558 mensagens no celular do pai de Sophia naquele dia. A última, de acordo com a delegada, teria ocorrido às 19h22. “Najjar só volta a usar o celular para ligar para o pai às 19h54. Depois para a namorada e por fim para o Samu.”


Além do celular, o notebook de Najjar também foi apreendido para análise da polícia. Pelo conteúdo dos e-mails, a delegada afirmou que a namorada de Najjar queria engravidar. No mesmo período, ele teria buscado na internet “venenos que matam pessoas.”

O laudo necroscópico apontou um rompimento da membrana do tímpano esquerdo de Sophia, 21 lesões no corpo, inclusive no cérebro e na boca, que teriam sido causadas em função da asfixia. Com isso, Ana Paula pediu a prisão temporária do pai de Sophia, realizada na sexta-feira 4 de dezembro de 2015, na ocasião do velório da menina. “Não conseguimos entender como alguém que tinha curso de primeiros socorros não conseguiu socorrer a filha.”


Defesa

O promotor de Justiça José Mário Barbuto pediu para a delegada reconhecer trechos do áudio em que o pai de Sophia havia entrado em contato com o Samu para relatar a asfixia. Na gravação, é possível identificar a voz de mulher em desespero, atribuída pela delegada à namorada de Najjar, seguindo as instruções que eram passadas por telefone para massagear a menina na tentativa de reavivá-la.

Durante a gravação, Najjar, que acompanhou o júri ao lado dos advogados de defesa, começou a chorar. As mãos que, até então, repousavam nos joelhos foram levadas ao rosto na tentativa de conter a emoção.

A advogada de defesa, Mariana Motta da Costa e Souza, indagou se a investigação apurou quantas pessoas teriam a chave do apartamento, mas a delegada afirmou que não verificou a informação. A defesa também questionou se a polícia observou indícios de água no chuveiro e a toalha molhada que teria sido usada pelo pai de Sophia.

Outro argumento utilizado pela defesa é de que as imagens periciadas mostram que Najjar teria usado uma roupa para buscar a filha na escola e outra após a morte da garota, o que também reforçaria o argumento do banho.

Personalidade agressiva

A mãe de Sophia Ligia Kissajikian Câncio usou as palavras “calmo e solícito” para definir a personalidade do então namorado Ricardo Krause no início do relacionamento. “Mas em um determinado momento ele adotou um comportamento impulsivo. Ele não conseguia lidar com os próprios sentimentos”, afirmou à juíza Renata Mahalen da Silva Teles.

Entre dezembro de 2012 e dezembro de 2013, segundo Ligia, o namorado teria quebrado três celulares e uma escova de cabelo de Sophia. “Eu sentia que não conseguiria lidar com aquilo, não era o que eu queria”, diz. Em um dos momentos de nervosismo, a mãe da garota relata que Najjar bateu a cabeça contra a parede.

Segundo a testemunha, o namorado teria começado a apresentar mudanças de comportamento quando ingressou no curso de administração de empresas em uma universidade privada. “Ele não parecia mais tão pró-ativo em relação à Sophia e estava sempre cansado e estressado.”

Ligia e Najjar começaram a namorar em 2010. Ela cursava o terceiro colegial e ele, um cursinho preparatório de medicina. Ela afirma que a aceitação da gravidez foi difícil para ambos. Somente após o quarto mês de gestação, Ligia comunicou à família. “Da parte dele, não era para eu conversar com ninguém. Não estávamos aceitando o fato de que seríamos pais com 18 anos.”

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