Caso Yoki: perito diz que morte de Marcos Matsunaga foi "praticamente instantânea"
Sami El Jundi acompanhou a exumação do empresário foi a 1ª testemunha a ser ouvida hoje
São Paulo|Ana Ignacio e Peu Araújo, do R7
O empresário Marcos Matsunaga, baleado e esquartejado pela mulher em 2012, teria morrido quase que de forma instantânea após ser atingido pelo tiro, de acordo com depoimento do médico legista e perito Sami El Jundi, primeira testemunha ouvida nesta sexta-feira (2), quinto dia do júri de Elize Matsunaga. Ela é acusada de matar e esquartejar o marido, Marcos Matsunaga, herdeiro da Yoki.
Favorável à defesa, o perito foi ouvido por cerca de onze horas e colocou em dúvida o depoimento do legista Jorge Pereira de Oliveira, autor da necrópsia de Marcos Matsunaga. Assistente técnico contrato pela defesa que acompanhou a exumação do corpo do empresário, Jundi afirmou que a bala atingiu uma região do cérebro responsável pelo controle de áreas vitais do corpo e causou perda de massa encefálica.
— [Essa lesão] implica a parada instantânea do fluxo sanguíneo cerebral e a parada respiratória é instantânea. Para efeitos práticos, sem circulação de sangue e sem o sistema respiratório [funcionando], a morte foi praticamente instantânea.
Essa avaliação põe em xeque a tese da acusação, que tenta mostrar que Marcos Matsunaga ainda estava vivo quando Elize iniciou o esquartejamento. A solução da questão pode manter ou derrubar a qualificadora de meio cruel — que aumenta a pena de Elize.
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O perito falou também sobre o tipo de munição usada por Elize, uma bala de expansão.
— Foi usada uma munição especial, uma munição de defesa que tem o objetivo de defesa pessoal, de fazer o atacante parar antes de me atacar.
Os advogados de Elize querem, ainda, comprovar que ela agiu movida sobre forte emoção depois de uma discussão e após receber um tapa na cara de Marcos. Para a acusação, ela premeditou o crime e surpreendeu o marido com um tiro na cabeça e iniciou o esquartejamento enquanto ele ainda estava vivo. Peritos ouvidos nos primeiros dias do júri chegaram a afirmar que o empresário pode até ter sentido dor no momento do esquartejamento.
Sobre a informação de que o empresário morreu do traumatismo causado pela bala associado à asfixia de sangue, Jundi disse que o sangue encontrado nos pulmões não necessariamente chegou lá por meio da respiração. Para ele, a fratura no crânio pode ter feito o sangue escorrer pelas vias respiratórias ou na hora do esquartejamento, por falta de uso de prática adequada para isso, o sangue do pescoço também pode ter descido para o pulmão.
— Pode ter sido uma dessas opções ou as duas. O sangue na via aérea não significa nada, não indica nem que morreu asfixiado nem que foi colocado ali em vida.
O perito também foi categórico sobre a causa da morte de Marcos.
— Minha conclusão foi que a causa da morte foi o disparo de arma de fogo.
Já em relação a distância do tiro — outro ponto que causa discordância entre acusação e defesa — Jundi disse que os indícios são de um tiro de média a longa distância e não de um disparo próximo, como é apontado no laudo de necropsia. Segundo ele, o chamuscamento em volta do ferimento deixado pelo suposto tiro a curta distância não estava claro na imagem e na análise feita do crânio de Marcos não há vetígios de material da bala que indiquem essa proximidade.
Durante o depoimento, Luiz Flávio Borges D'Urso, assistente de acusação, chegou a pedir uma ação penal de crime contra honra e apuração ao Conselho Regional de Medicina por declarações da testemunha. Em determinado momento, o perito alegou que "só se o ânus da vítima estivesse em outro lugar" e "se não for sangue só poderia ser catchup". A acusação considera os termos ofensivos e a defesa considera tais alegações como exemplificações técnicas.
O depoimento de Jundi começou por volta das 10h05 e ele desqualificou o método de perícia utilizado no laudo de necropsia que usou uma guia (uma espécie de gancho) para determinar a trajetória da bala na cabeça de Marcos. Segundo ele, esse método hoje é "execrável" e o mais indicado seria fazer uma análise fotográfica (por meio de uma tomografia ou radiografia, por exemplo). A defesa, em diversos momentos, tentou mostrar falhas ou problemas no exame de necropsia, no qual o Ministério Público baseia sua acusação.
Elize acompanhou todo o depoimento sem olhar para as imagens do corpo exibidas no telão do plenário e sempre olhando fixamente para baixo. Em alguns momentos, ela colocou as mãos na boca, segurando um lenço de papel. Em um determinado instante, aparentava levar o papel aos olhos, como quem enxuga lágrimas de forma discreta.
Depois de um longo inquérito de defesa e mais de duas horas de perguntas da acusação, as indagações foram interrompidas pela Promotoria após uma confusão da testemunha, que confundiu dois ossos do crânio da vítima. Numa tentativa de desqualificar o perito, teatralmente, a promotoria interrompeu seu interrogatório.
Iniciado às 10h, o depoimento de Jundi se encerrou apenas às 21h, A defesa de Elize, então, dispensou então os peritos João Roberto Lavras Unterpertinger e Ariane Lins Scramin. O julgamento avançará a noite com os depoimentos dos advogados José Américo Machado e Tania Aparecida Esteves.