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Chacina de Osasco: condenações de PMs e GCM vão de 100 a 255 anos

Julgamento foi marcado por constrangimentos aos jurados e testemunhas

São Paulo|Peu Araújo, do R7

Parentes de vitimas comemoram o resultado
Parentes de vitimas comemoram o resultado

O GCM (guarda-civil municipal) de Barueri Sérgio Manhanhã e os policiais militares Thiago Barbosa Henklain e Fabrício Emmanuel Eleutério foram condenados pela morte de 17 pessoas na Chacina de Osasco.

Fabrício Eleutério foi condenado a 255 anos, 7 meses e 10 dias; Thiago Henklain, a 247 anos, 7 meses e 10 dias; e Sérgio Manhanhã a 100 anos e 10 meses.

As penas foram definidas pelos crimes de homícidio triplamente qualificado (motivo torpe, grupo de extermínio e impossibilidade da defesa da vítima) e formação de organização criminosa.

A sentença foi proferida ao final do quinto dia de julgamento no Fórum de Osasco, nesta sexta-feira (22) — leia a sentença na íntegra. A defesa dos condenados diz que vai recorrer da decisão.


Os três agentes eram réus de 17 homicídios e 8 tentativas, em Osasco e Barueri, no caso ocorrido em 2015 (veja a sequência dos crimes no gráfico abaixo). A juíza Elia Kinosita Bullman se emocionou ao proferir a sentença.

— Nós que trabalhamos no tribunal do júri trabalhamos com a dor da perda [choro], a gente não se acostuma a ver todas as vidas que são perdidas aqui na cidade. Engana-se quem pensa que um juiz do tribunal do júri, ou quem quer que seja que trabalha aqui, se acostuma com a morte, com a perda, perda de uma vida que é igual à minha, perda de uma vida que tem o valor tanto quanto a minha vida.


Para o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, reponsável pela acusação, foi feita justiça.

— Eles [os jurados] analisaram, na minha visão, com muita profundidade tudo o que tinha. Conseguimos deixá-los muito confortáveis para que o medo não fosse um fator.


Oliveira diz que a condenação do GCM Sérgio Manhanhã influencia no julgamento do cabo da PM Victor Cristilder, que foi desmembrado e ainda não tem data para ser realizado. O promotor foi abraçado por familiares das vítimas após o julgamento.

Parentes de vítimas

Aparecida Brito, mãe de Adalberto Brito, morto no Bar do Juvenal, disse estar aliviada com a resposta dada pela Justiça. "Pelo menos se fez justiça; a gente veio buscar uma resposta e estamos levando", comentou. Outros parentes, no entanto, dizem temer represália após o resultado do júri.

Evandro Capano, um dos advogados do PM Henklain, informou que vai recorrer e que achou muito dura a pena. Segundo ele, a decisão foi apertada, por 4 jurados a favor da condenação, e 3 contra.

Irmã do PM Fabrício Eleutério se indignou com a sentença
Irmã do PM Fabrício Eleutério se indignou com a sentença

Famílias de réus

O advogado de Eleutério concordou com o colega, mas não se pronunciou.

Após a definição da sentença, houve choro de familiares dos réus e muita comoção. A mulher de Thiago Henklain saiu do plenário desconsolada e aos gritos:

— Meu marido. Meus filhos.

Fabiana Eleutério, irmã deo PM Eleutério, também se mostrava indignada com a sentença:

— Enterraram o meu irmão vivo.

O último dia

O último dia de julgamento começou com a réplica da acusação, às 10h27, e pouco antes do anúncio da sentença, uma pequena multidão se reunia na porta do Fórum em apoio ao GCM.

O promotor Marcelo Alexandre de Oliveira se concentrou novamente na desconstrução dos álibis dos réus e, diferentemente dos outros dias, focou no GCM Sérgio Manhanhã. Ele inclusive citou a forte presença da Guarda Civil Municipal de Barueri na plateia, comentou que mais pessoas sabiam o que ocorreria e sugeriu que o primeiro endereço dos crimes tenha sido o Bar do Juvenal.

Categórico, ele afirmou: "Ninguém mandou eles selarem o destino deles". E acrescentou: "É óbvio que houve divisão de tarefas nos crimes".

A tréplica começou após o almoço, às 14h01. Assim como no dia anterior, a ordem dos advogados de defesa seguiu com os defensores de Henklain, Manhanhã e Eleutério.

O advogado Fernando Capano, que faz a defesa do policial militar Thiago Barbosa Henklain, afirmou que a Polícia Civil do Estado de São Paulo está falida, classificou a investigação do MP uma 'estória', e criticou a presença do então secretário da Segurança Pública Alexandre de Moraes na investigação.

— Começa ele [Alexandre de Moraes] a fazer esquemas.

A advogada Flavia Artilheiro, penúltima a falar na tréplica, também atacou Moraes, hoje Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Ela, em plenário, o acusou de ser advogado da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

O advogado Abelardo Julio da Rocha, responsável pela defesa do GCM Sérgio Manhanhã, demorou apenas 16 minutos em sua defesa.

Vista do interior do Fórum de Osasco durante julgamento da Chacina de Osasco
Vista do interior do Fórum de Osasco durante julgamento da Chacina de Osasco

Como foi o julgamento

Ao longo de todo o julgamento, foram ouvidas 21 testemunhas. Para o Ministério Público o medo deu a tônica para algumas testemunhas da acusação. Os jurados revelaram incômodo no terceiro dia.

A pedido de um dos advogados, o PM Adriano Henrique Garcia, que ficou preso quatro meses pelas chacinas de 2015, se sentou de frente para o júri. A cena se repetiu com o GCM Marcelo Carlos Gomes da Silva. A situação só não se repetiu uma terceira vez porque os jurados pediram à juíza Elia Kinosita Bulman, que alertou aos advogados para não o fazerem.

Outra cena que causou estranheza no júri foi o fato de o réu Fabricio Emmanuel Eleutério ter lido o depoimento e ter visto a mídia em que a testemunha protegida Elias o teria reconhecido. E o PM pediu para questionar as contradições da testemunha protegida. Ele tinha um papel impresso com trechos grifados. Segundo Eleutério, o depoimento de Elias teria sido liberado pela juíza, que negou.

No penúltimo dia de júri, o advogado Nilton Nunes, que faz a defesa de Eleutério, terminou sua fala na primeira fase de debates revelando os nomes dos sete jurados. O Ministério Público repudiou a ação.

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