Chacina de Osasco: defesa critica atuação de Alexandre de Moraes
Segundo o advogado de Cristilder, houve falha na estrutura da investigação. Sentença será divulgada ainda hoje (2)
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
No último dia do Tribunal do Júri que julga a suposta participação do policial militar Victor Cristilder Silva dos Santos, 33 anos, na chacina de Osasco e Barueri, na grande São Paulo, em agosto de 2015, o advogado de defesa do réu, João Carlos Campanini, criticou o então secretário de segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes e a estrutura da investigação.
O advogado encerrou sua argumentação questionando a investigação e a estrutura utilizada. "Ele queria se tornar ministro e precisava dar uma resposta rápida a sociedade, incriminando um inocente”, completou.
Segundo ele, foram apenas três profissionais para levantarem todos os detalhes da noite da chacina. "Foram apenas três investigadores. O Estado precisava dar uma resposta rápida."
"Todo mundo sabe que o Alexandre de Moraes advogou para o PCC, no caso da Transcooper", afirmou Campanini referindo-se ao período em que, na advocacia, o atual ministro do STF realizou a defesa da cooperativa investigada por supostas relações com a facção.
Suposta ligação ao PCC
João Carlos Campanini, afirmou que uma das testemunhas que acusa Cristilder pertenceria a facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC.
"A testemunha beta é um bandido do PCC que participou de um roubo de carga no valor de R$ 1,8 milhão", disse o advogado. Ele pediu que os jurados observassem o nome da testemunha protegida e depois leu trechos de um suposto documento do Gaeco (Grupo Especializado de Combate ao Tráfico) no qual constariam as investigações. Num primeiro momento, o nome da testemunha coincidia com o nome nas investigações do Gaeco.
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Minutos depois, o tom do debate subiu no júri quando a acusação contestou a informação. "O senhor já ouviu falar em homônimo", afirmou o promotor Marcelo Oliveira. A defensora pública Maíra Diniz pediu para que a defesa pronunciasse em voz alta o nome dos pais da testemunha. Os nomes divergiram. "Pode ser um homônimo", disse Campanini.
Depoimentos
Um vídeo com depoimentos de familiares do réu foi exibido para os jurados. Nele, constavam falas da esposa, Amanda Alves, da mãe, Ana Maria Marcelino, da tia Angelita Alves, e do filho, Kaique Alves. "Ele sempre honrou a farda", disse a tia. "Mas a mesma farda que ele honrou derrubou os sonhos dele", afirmou Lídia Alves, cunhada do réu.
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O filho de Cristilder, Kaique, disse como se sente desde que o pai foi preso preventivamente em novembro de 2015. "Parece que não acordei", afirmou no vídeo. "Na escola está sendo uma vergonha. Às vezes, falo que ele está trabalhando ou que está viajando. É como se tivessem tirado uma parte de mim, meu companheiro."
O advogado de Cristilder chorou ao pedir que os jurados não condenem o policial militar. "A Justiça está mandando para a cadeia um pai de família com base em uma troca de emojis", disse em referência à suposta conversa que Cristilder teria tido com o guarda municipal Sérgio Manhanhã, na qual teria mandando um símbolo autorizando o início da chacina. "Não queria estar na pele dos senhores julgando alguém de olhos fechados", disse Campanini ao criticar o fato de o celular do réu não ter passado por perícia.