Defesa não conseguiu abalar o depoimento do vigia, diz promotor do caso Gil Rugai
Segurança afirma que viu o ex-seminarista na casa do pai na noite do crime
São Paulo|Vanessa Beltrão, do R7
O promotor Rogério Leão Zagallo afirmou, durante intervalo do julgamento de Gil Rugai, que o depoimento do vigia Domingos Ramos de Oliveira foi extremamente importante porque teria mostrado aos jurados que uma das pessoas que saíram da casa das vítimas na noite do crime era o ex-seminarista. O julgamento teve início na tarde desta segunda-feira (18), no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.
O promotor ainda comentou sobre a pressão que o vigia sofreu pelos advogados da defesa. Zagallo disse que, por causa disso, a testemunha chegou a fraquejar em alguns dados. O promotor, porém, considerou que essas informações eram “absolutamente periféricas”, como a distância da guarita do segurança da casa do pai do réu.
— [A defesa] não conseguiu abalar o depoimento forte e contundente da testemunha, que reconheceu Gil Rugai como uma das pessoas que saiu daquela casa.
Zagallo ainda reforçou que é normal que o vigia tenha esquecido alguns detalhes do caso porque o crime ocorreu há nove anos. Ele afirmou que isso, porém, não descaracteriza a testemunha. Ele também criticou a postura do magistrado durante o depoimento. Para Zagallo, o juiz foi muito “pacífico”.
— Eu nunca vi uma testemunha ser ouvida com a conivência pacífica do magistrado, conivência censurável, que deixava bombardear [de perguntas] toda hora de uma forma altamente espúria. Mesmo assim, a testemunha foi firme naquilo que se espera dela.
Depoimento
Principal testemunha de acusação contra o ex-seminarista, o vigia Domingos Ramos de Oliveira disse que viu Gil Rugai sair da casa de seu pai, Luis Carlos Rugai, e da mulher dele, Alessandra de Fátima Troitino, após os disparos na noite do crime. Ele foi ouvido das 13h20 até 15h50.
— Sempre reconheci ele [Gil Rugai] como uma das duas pessoas que saíram de lá. A outra pessoa não sei reconhecer.
Porém, segundo Domingos, seu relato sobre o que viu na noite do crime só foi dado em seu terceiro depoimento à polícia.
— Pensei na minha família e nos meus quatro filhos pequenos. Por isso, eu neguei no começo. Nunca me senti pressionado a dizer nada. Só me arrependi um pouco, depois que falei, pela minha família, porque eles sofreram.
Relembre o caso
O publicitário Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e sua mulher, Alessandra de Fátima Troitino, 33 anos, foram assassinados a tiros dentro da casa onde moravam em Perdizes, zona oeste de São Paulo no dia 28 de março de 2004.
Alessandra foi baleada cinco vezes na porta da cozinha, segundo laudo da perícia. Luiz Carlos teria tentado se proteger na sala de TV. A pessoa que entrou no imóvel naquela noite arrombou a porta do cômodo com os pés e disparou quatro vezes contra o publicitário.
O comportamento aparentemente frio de Gil Rugai, na época com 20 anos, ao ver o pai e a madrasta mortos chamou a atenção da polícia, que passou a suspeitar dele.
Os peritos concluíram que a marca encontrada na porta arrombada era compatível com o sapato de Rugai, que, ao ser submetido pela Justiça a radiografias e ressonância magnética, teria apresentado lesão no pé direito.
Na mesma semana do duplo homicídio, os policiais encontram no quarto do rapaz, um certificado de curso de tiro e um cartucho 380 deflagrado, o mesmo calibre da arma usada no assassinato do casal.
As investigações apontaram ainda que ele teria dado um desfalque de R$ 228 mil na empresa do pai, a Referência Filmes, falsificando a assinatura do publicitário em cheques da firma. Poucos dias antes do assassinato, ele foi expulso de casa.
Um ano e três meses após o duplo homicídio, uma pistola foi encontrada no poço de armazenamento de água de chuva do prédio onde o rapaz tinha escritório, na zona sul. Segundo a perícia, seria a mesma arma de onde partiram os tiros que atingiram as vítimas.
Rugai responde pelo crime em liberdade e será julgado por duplo homicídio qualificado por motivo torpe e por estelionato, em razão dos desfalques dados na produtora do pai.