'Desesperador', diz aluna que pode ter formação invalidada por falta de reconhecimento do curso no MEC
Ex-estudantes da primeira turma de odontologia da Unip Marquês não podem ter registro e são impedidos de trabalhar na área
São Paulo|Isabelle Amaral, do R7
"É desesperador pensar que quatro anos de dedicação podem não ter valido de nada", desabafou uma ex-aluna da turma de odontologia da Unip (Universidade Paulista) Marquês, ao saber, depois de se formar, que o curso não é reconhecido pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura).
Sem o reconhecimento do curso no MEC, apesar de estarem formados, os integrantes da turma não conseguem ter registro no CRO (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo). Sem esse registro, eles são impedidos de trabalhar na área e não são reconhecidos como profissionais.
A instituição alega à reportagem que foi credenciada pelo MEC em 1988 e "possui autonomia didático-científica para criar os próprios cursos (Art. 53, da Lei de Diretrizes e Bases, LDB)". Eles afirmam, ainda, que toda a documentação foi enviada, tanto ao MEC quanto ao CRO e ao CFO (Conselho Federal de Odontologia).
Mesmo assim, os alunos buscam, desde janeiro, pelo registro que permite que eles consigam trabalho, mas não impedidos. De acordo com o MEC, a Unip do campus Marquês "ainda está em processo de reconhecimento", que não foi finalizado.
Depois de quatro anos estudando em período integral, a turma se formou no fim de 2022, acreditando que já em 2023 poderia começar a exercer a profissão. Desde então, os ex-alunos começaram a preparar os documentos para pedir o registro no CRO, o que tem sido negado por essa situação com o MEC.
Sem o reconhecimento no ministério, a faculdade não poderia aplicar o curso, explicou o advogado Rafael Fiuza.
"A faculdade sabia que a gente precisava disso para trabalhar. Passamos quatro anos de muita ansiedade, sonhamos com esse momento, nos dedicamos. Foi um descaso com a nossa vida, dinheiro, sonho e esforço", revelou a formanda.
Oportunidades de emprego perdidas
Outra aluna, também entrevistada pela reportagem, disse ter sentido revolta após perder duas oportunidades de emprego na área. "Na primeira, eu falei com o dono da clínica, tentei explicar toda a situação com a faculdade, mas ele não quis nem me ouvir, foi claro e rápido nas palavras: 'Não aceito ninguém sem o CRO'", conta.
A segunda oportunidade perdida, revelou a jovem, "estava mais certa". A vaga era na clínica que atende os pais dela há anos e a empresa precisava de um dentista imediatamente para preencher um dos horários.
"Eu fui ao consultório e o dentista foi mais atencioso comigo, pediu para eu tentar outras maneiras de conseguir, falar com o CFO, talvez tentar pegar um provisório. Eu fui atrás disso com o conselho, mas eles disseram que não tinha jeito e tinha que aguardar a validação", disse. "Mesmo que ele quisesse me contratar naquele momento, era arriscado ter alguém trabalhando sem o registro para exercer a profissão", completou.