Drogas K: SP vai analisar cabelo de usuários para detectar substâncias e aprimorar tratamento médico
Projeto visa intensificar combate a canabinoides sintéticos; número de intoxicados por drogas K disparou em SP em 2023
São Paulo|Sandra Lacerda*, do R7
Em 2023, o número de casos suspeitos de intoxicação por drogas K disparou em São Paulo. E para intensificar o combate aos entorpecentes sintéticos, o Governo do Estado vai analisar amostras do fio de cabelo dos usuários.
O objetivo é identificar as substâncias da droga consumida, monitorar e controlar o uso das matérias-primas e aprimorar o tratamento médico.
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Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, até maio deste ano, foram registrados 411 casos suspeitos de intoxicação por canabinoide sintético, nome técnico dado às drogas K2, K4, K9, selva, cloud 9, spice e supermaconha.
O narcótico ganhou força no centro da capital paulista entre os dependentes químicos, que antes usavam, majoritariamente, o crack.
Sistema de vigilância
Os novos testes toxicológicos já foram implementados no HUB de Cuidados em Crack e outras Drogas, centros especializados em atender e dar tratamento a pessoas com dependência química.
"Desde que abrimos a unidade, em abril deste ano, fomos muito procurados para o tratamento de usuários de drogas K, principalmente de pessoas que costumam frequentar a Cracolândia e o centro da cidade. Embora tratemos alcoolismo e vícios em outras drogas, a alta procura nos fez iniciar o sistema de vigilância", conta Quirino Cordeiro, médico psiquiatra e diretor do HUB.
A coleta do fio de cabelo de pacientes que usaram drogas sintéticas é a primeira etapa do sistema. "A análise das amostras para o rastreamento toxicológico encontra-se em andamento e permitirá a confirmação sobre qual, ou quais, tipos de canabinoides sintéticos estão sendo usados e garantir um melhor atendimento", afirma Cordeiro.
O especialista explica que ainda não se sabe ao certo quais canabinoides sintéticos são usados para confeccionar as drogas K. Por isso, o conhecimento das substâncias é peça-chave para que os tratamentos médicos sejam mais efetivos e a investigação sobre a produção da droga avance.
Drogas K são produzidas no Brasil?
"Embora haja a suspeita de que a produção de drogas K no Brasil já seja uma realidade, tendo em vista o aumento da circulação nas cidades e redução no valor, ainda não é possível confirmar com certeza", afirma Quirino Cordeiro.
O diretor do HUB acredita que o sistema de vigilância é um dos caminhos para responder essa pergunta e, além disso, frear sua dispersão. "A partir da identificação dos compostos, poderemos saber quais canabinoides estão sendo usados. Identificando essas substâncias é possível encontrá-las e vetar sua disseminação", diz.
Aumento dos casos de intoxicação
Desde a inauguração, em abril deste ano, o HUB de Cuidados em Crack e Outras Drogas realizou 2.944 atendimentos. Quase 50% dessas pessoas foram encaminhadas para internação e 340 não prosseguiram com o tratamento.
Embora também faça atendimento aos usuários de álcool e de crack, até o momento 13,9% deles estão relacionados ao uso de canabinóides, como fentanil e drogas K. Dentre os pacientes, 87% deles são homens com idade entre 26 e 59 anos.
*Sob supervisão de Bruno Araujo
Teste toxicológico em cabelos busca identificar substâncias sintéticas