"É o risco da profissão", diz comandante da PM sobre jornalistas feridos durante manifestação em SP
Ele negou que policial tenha atirado com bala de borracha na direção de repórter
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira, afirmou que a possibilidade de jornalistas serem feridos durante a cobertura de manifestações é um “risco da profissão”. Ele negou que um policial tenha acertado intencionalmente, com uma bala de borracha, a repórter da TV Folha Giuliana Vallone. Atingida no olho, ela está entre os profissionais da imprensa que se machucaram durante o protesto contra o aumento de tarifa da passagem na noite desta quinta-feira (13) no centro de São Paulo.
— O repórter tem duas opções. Ele quer cobrir o evento. Ele pode estar acompanhando o efetivo da Polícia Militar e ele pode estar acompanhando os manifestantes. Se houver um confronto e ele estiver acompanhando os policiais militares, ele pode ser atingido por pedradas, paus, pelo rojão, pelo morteiro. Se ele estiver acompanhando os manifestantes, a Polícia Militar usa, nessas ocasiões, munição química e munição de elastômero, ele pode ser atingido. Esse é o risco da profissão dele e é o risco da nossa profissão também.
De acordo com Meira, o policial teria atirado, na verdade, contra um grupo de manifestantes que jogava pedras na tropa. A bala, conforme ele, bateu no chão, ricocheteou e atingiu o olho da jornalista.
— Assim que aquela imagem [da repórter ferida] foi divulgada na mídia, determinei imediatamente que se comparecesse ao local onde ela havia apontado que houve o disparo. Tenho relatório, fotos e testemunhas que a acompanharam e a socorreram, que são as pessoas que trabalham no estacionamento.
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O coronel completou:
— Ela tinha dito que houve um disparo de um policial da Tropa de Choque da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), coisa que não existia. A Rota não estava ali. Realmente, tinha um ônibus da Tropa de Choque, naquele cruzamento. Os policiais que estavam desembarcados, eles foram embarcar, quando alguns manifestantes arremessaram pedras contra os policiais. Houve um disparo de elastômero, que não foi em direção à jornalista.
A profissional, entretanto, deu outra versão em sua página no Facebook.
— Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar. Tomei um tiro na cara. O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho.
Na rede social, ela relatou ainda que já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência.
— Já tinha saído da zona de conflito principal — na Consolação, quando fui atingida. Estava na Augusta com pouquíssimos manifestantes na rua.
Giuliana afirma que tentou ajudar uma mulher perdida e, quando foi checar se o Batalhão de Choque estava indo embora, a agressão aconteceu.
— Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena.
Profissionais feridos
Ao menos 16 profissionais da imprensa ficaram feridos. A reportagem do Estado, que se identificou antes da ação, também foi alvo dos PMs. Os repórteres Bruno Ribeiro e Renato Vieira foram atingidos por bombas de gás. O fotógrafo da Folha de S. Paulo Fábio Braga foi alvo de três disparos.
— A polícia mirou em cima de mim.
O fotógrafo Sérgio Silva, da Futura Press, também foi atingido com um tiro de borracha em um dos olhos. Ele passou por cirurgia no Hospital Nove de Julho e tem 90% de risco de perder a visão. Sete jornalistas da Folha de S. Paulo ficaram feridos.
Em nota, o jornal repudiou "toda forma de violência" e protestou "contra a falta de discernimento da PM no episódio". O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, determinou a apuração dos episódios com profissionais da imprensa. O jornalista Piero Locatelli, da revista Carta Capital, foi detido por portar uma garrafa de vinagre. Levado ao 78º Departamento de Polícia (Jardins), ele acabou liberado à noite.