'Estava comendo pipoca', diz amigo de jovem morto na Brasilândia
Ataques deixaram quatro mortos e quatro feridos na Brasilândia, na zona norte de São Paulo. Anderson Albuquerque, de 17 anos, é uma das vítimas
São Paulo|Plínio Aguiar, do R7
“Estávamos vendo filme e comendo pipoca minutos antes de ele ser morto”, disse, aos prantos, Matheus do Carmo, de 19 anos. O jovem é melhor amigo de Anderson Santos de Albuquerque, de 17, morto durante um ataque na madrugada desta sexta-feira (20), na Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo.
Matheus contou ao R7 que se juntou ao irmão, Thiago do Carmo, e ao amigo Anderson por volta de 21h de quinta-feira (19) para verem um filme. Ao final, ele disse que Anderson desceu e, em questão de minutos, ouviu sons de tiros. “Não lembro quantos foram, mas foram vários”, comentou. “Foi um barulhão. Eu ouvi e desci imediatamente. Encontrei meu melhor amigo baleado no chão.”
O jovem relatou que Anderson chegou a olhar para ele, mas não conseguiu pronunciar uma palavra sequer. “Ele estava vomitando um monte de coisa e depois os olhos se fecharam”, contou, apontando para o local ainda com marcas de sangue.
Dona Roseli do Carmo, de 58 anos, avó de Matheus, também não consegue se conformar. “O Anderson era como um filho para mim. Ele estava sempre com meus netos”, disse, com os olhos cheios de lágrimas. A aposentada soube que o neto foi baleado e o melhor amigo morto minutos depois da tragéda. Ela estava em sua casa, em Francisco Morato, cidade da região metropolitana paulista. “Demorou três horas para chegar aqui. Três horas de angústia, de aflição, de terror”. A mão de dona Roseli apertava fortemente a mão de seu neto. “Agora eu vou para o hospital. Preciso ver como meu outro neto está”, disse, se despedindo.
Anderson foi morto por volta de 1h. Horas antes, por volta de 18h, estava com amigos na mesma avenida jogando vôlei com amigos. “Ele me contou que ia colocar aparelho”, disse a amiga Ariza Marquês da Silva. “Estava todo feliz que ia arrumar os dentes”, chorou.
Ataques
Os ataques na Brasilândia nesta madrugada (20) ocorreram em dois lugares: na avenida Humberto Gomes Maia e na rua Matilde Munhoz — cerca de dez minutos de distância um do outro. Este é o sétimo ataque na capital e região metropolitana em 2018, totalizando 24 mortos.
No primeiro endereço, três vítimas: Anderson, Thiago e um jovem ainda não identificado foram baleados. Thiago conseguiu correr para um posto de combustível próximo ao local para pedir ajuda. Foi socorrido pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e encaminhado para um hospital da região, onde passou por cirurgia e passa bem. Os outros dois não resistiram aos ferimentos e morreram no local.
No segundo endereço, mais duas vítimas — ainda não identificadas. Moradores da rua contaram à reportagem do R7 que não conheciam os jovens, mas aparentavam ser menores de idade. Um dos corpos estava na porta de um campo de futebol; o outro, por sua vez, havia tentado fugir para outro lugar, mas as marcas de sangue eram visíveis horas depois do crime no chão ao lado do gramado.
Conselho de Segurança
O presidente do Conseg Brasilândia (Conselho Comunitário de Segurança), Juan Ramon, lamuriou os quatro assassinatos. “É lamentável o que está acontecendo aqui”, disse. “Falta policiamento, obviamente”.
Ramon relatou que esta chacina não foi a primeira vez em que a população da Brasilândia sofreu com ataques. O motivo, segundo ele, é a perca da força da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na região. “Eles estão perdendo força, então acaba que saí matando gente, inclusive inocente”, disse.
Procurada pela reportagem, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) confirmou as quatro mortes e quatro pessoas feridas durante os ataques. A pasta informou que os casos estão sendo registrados no 72° DP (Vila Penteado) e a motivação dos crimes será investigada pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa).