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Feira de negócios em SP dá largada em série de 30 eventos-teste

Expo Retomada ocorre nos dias 21 e 22 com até 1.500 pessoas no total. Ideia é verificar protocolos com monitoramento de 14 dias

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7

Expo Retomada será primeiro evento-teste oficial com até 2 mil pessoas em 2 dias em Santos
Expo Retomada será primeiro evento-teste oficial com até 2 mil pessoas em 2 dias em Santos

Com queda no número de internações e mortalidade por covid-19 no estado de São Paulo e mais de 60% da população vacinada com ao menos a primeira dose, o governo decidiu dar início a 30 eventos-testes neste semestre. O primeiro é a Expo Retomada, uma feira de negócios, que será realizada na quarta (21) e quinta-feira (22) em Santos, no litoral paulista. O objetivo é testar protocolos de segurança em ambientes controlados para a retomada de atividades em diversos setores e regiões do estado, mesmo em meio à pandemia.

"Não é a reabertura completa, é um planejamento de meses, um aprendizado", conta o subsecretário de Competitividade da Indústria, Comércio e Serviços da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Eduardo Aranibar.

A feira

Estandes também vão respeitar distanciamento
Estandes também vão respeitar distanciamento

A feira de negócios será realizada das 11h às 18h, no Santos Convention Center, no litoral paulista, apenas para profissionais do setor por meio de credenciamento. São esperadas cerca de 750 pessoas por dia. 

Segundo o organizador, a escolha da Baixada Santista foi pela proximidade com a capital, pelo espaço de convenções ser novo, mas também porque a região apresenta índices acima da média de vacinação, chegando a quase 70%.


Outras Expo Retomada já ocorreram durante a pandemia em Goiânia, Salvador e em São Paulo, em outubro do ano passado, e testaram medidas já adotadas em convenções internacionais.

"É para que os expositores que pagam e os frequentadores que visitam retomem a confiança nos eventos presenciais. Nos outros eventos, não tivemos a testagem obrigatória. Os protocolos são uma somatória do mercado, com a criação do Comitê de Biossegurança, que teve contribuição da ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] e do Hospital das Clínicas, e nos dá segurança", ressalta Paulo Octávio Pereira de Almeida, director da Live Marketing Consultoria e idealizador do evento.


Protocolos

A Expo Retomada adotará os seguintes protocolos em relação a testagem:

- Não será aceita a carteira com esquema vacinal completo, mas sim o teste, na hora, do antígeno;


- A recomendação é que os participantes cheguem pelo menos meia hora antes ao evento;

- O exame será feito gratuitamente em parceria com a Secretaria de Saúde de Santos;

- No local, haverá médicos, ambulâncias e uma área para isolamento;

- Em caso de resultado positivo para a covid-19, a pessoa será encaminhada para a unidade de saúde mais próxima.

Medição de temperatura, máscaras e uso de álcool em gel estão entre os protocolos
Medição de temperatura, máscaras e uso de álcool em gel estão entre os protocolos

O evento adotará ainda as seguintes medidas:

- Respeito ao distanciamento entre estandes;

- Limitação de pessoas no palco;

- Higienização de microfones 

- Orientação aos participantes, a cargo da equipe de segurança, para que permaneçam de máscara. 

O monitoramento posterior dos frequentadores será por meio de aplicativo. "É uma autodeclaração. Há um comprometimento grande das pessoas do setor em ajudar porque são participantes de eventos oficiais, com alvarás, e que estão interessados na retomada. Todos estão cientes e veem isso como condição necessária", destaca Paulo Octávio.

Outros eventos

Organizados com apoio do setor privado, estão previstos 14 eventos sociais, 12 de economia criativa, dois esportivos e dois de negócios. Os primeiros pretendem reunir menos de 1 mil pessoas e vão ganhando mais público com o avanço da campanha de imunização. A expectativa do governo é que todos os adultos do estado estejam vacinados com a primeira dose até 20 de agosto.

Para adotar os protocolos sanitários, eventos realizados fora do Brasil serviram de parâmetro. Em São Paulo, o uso de máscara será obrigatório assim como a testagem para covid-19. Outro compromisso firmado com as entidades de setor foi o monitoramento dos frequentadores pós-evento para saber se apresentaram sintomas.

"Os primeiros eventos são bem menores do que os previstos para o fim do ano e em ambientes controlados. Aprendemos olhando internacionalmente. A partir de setembro, com a antecipação do calendário de vacinação, serão eventos maiores, mas com a discussão de protocolos desde já", explica o subsecretário.

Fórmula 1

Além de feiras, o governo quer realizar o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, no Autódromo de Interlagos. Os três lotes de ingressos colocados à venda acabaram rapidamente. O número vendido não foi informado, mas os preços variam de R$ 650 a 12.800. O organizador não descarta disponibilizar mais ingressos ao público, mas isto depende do cenário da pandemia em novembro.

Para o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), este é o momento ideal para a realização do maior evento automobilístico do mundo. "O Autódromo está reformado e preparado. Os critérios para a F-1 são rigorosos. Além de fazer grande investimento, com importante retorno financeiro, faz parte do processo de retomada da economia para poder desenvolver o país", enfatiza.

O problema não é a flexibilização%2C mas a flexibilização sem conscientizar a população.

(Edimilson Migowski, professor de doenças infecciosas da UFRJ)

Segundo o secretário Eduardo Aranibar, o público vai saber com antecedência que está participando de um evento-teste e terá de se comprometer a cumprir os protocolos. "Os eventos-modelo são para saber o impacto da testagem por completo, entender as diferenças de protocolos e os efeitos, por isso o acompanhamento depois", diz.

Para o professor de doenças infecciosas da UFRJ, Edimilson Migowski, é preciso retomar a vida aos poucos até porque a covid-19 é uma doença que veio para ficar. "O problema não é a flexibilização, mas a flexibilização sem conscientizar a população. Uma vez que você está vacinado, o problema é confiar demais nas doses e esquecer dos demais pilares e cuidados, como uso de máscara e álcool em gel e a não aglomeração".

Crise no setor

O setor de eventos foi um dos mais impactados pela pandemia. O primeiro a fechar e um dos últimos a reabrir. A única forma de apoio foi por meio de créditos. A crise ocasionou o fechamento de empreendimentos e demissões. Apenas em São Paulo, a estimativa é de que existam 150 mil empresas de economia criativa e eventos.

"As feiras de negócios do estado de São Paulo movimentam 5% do PIB [Produto Interno Bruto] do Brasil. Em 2020, praticamente não tivemos feiras e, em 2021, não houve eventos. Se somarmos os dois anos, tem uma previsão do impacto para o setor. A situação é complicada. Não dava para aguentar quase dois anos sem calendário de eventos", revela o idealizador da Expo Retomada.

De acordo com o organizador de eventos, houve um reconhecimento tardio da importância da retomada de convenções oficiais, com alvará de funcionamento, e houve uma confusão com festas irregulares.

"Todos somos contra os clandestinos, aglomerados. O foco é em negócios, sem venda de ingressos ao público. O mínimo é ter isonomia com os shoppings centers, que estão abertos há meses e para milhares de pessoas. Eles só controlam temperatura, mas nós trabalhamos com inscrições, CPF, temos dados cadastrais que nos permite o monitoramento dos frequentadores. Demorou, mas chegou o reconhecimento", afirma Paulo Octávio.

O infectologista Edimilson Migowski defende que há desinformação com relação aos verdadeiros sintomas de covid-19. Ele critica a adoção da medição de temperatura como forma de acesso aos estabelecimentos. Isto porque nem sempre a febre é indicador do coronavírus. Para Migowski, é essencial que todos tenham orientação e acesso imediato a um bom tratamento médico para evitar o agravamento de casos e mortes.

Apenas o setor de feiras emprega em torno de 2 milhões de pessoas direta e indiretamente. No entanto, pode faltar mão-de-obra na retomada porque muitos trabalhadores tiveram de migrar de área para sobreviver durante os meses em que os eventos ficaram paralisados.

Para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a retomada só foi possível com a melhora dos indicadores da pandemia. "Serão realizados com testagem obrigatória e pessoas vacinadas, além de manter rígidos protocolos sanitários para segurança, controle e monitoramento dos participantes”, disse em entrevista coletiva no último dia 8.

F1 está entre os eventos-teste previstos para novembro em São Paulo
F1 está entre os eventos-teste previstos para novembro em São Paulo

Calendário de eventos

O calendário foi divulgado pelo governo, mas algumas datas e locais ainda não foram definidos. Entre as cidades que vão sediar os eventos-teste estão Campinas, Santos, Serrana e Ilhabela, além da capital paulista.

Requisitos para participar:

- Público terá de fazer testes de antígeno para covid-19, que tem resultado imediato e é aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária);

- Uso de máscara é obrigatório, com exceção das áreas de alimentação, e terá de ser fiscalizado pelos organizadores;

- Distanciamento entre pessoas e estandes;

- Uso de álcool em gel;

- Limitação de público: número bem menor de frequentadores em relação à capacidade máxima do espaço.

O acordo do governo com as entidades não especifica que a testagem seja gratuita. "O organizador pode procurar patrocinadores, parcerias com a Secretaria de Saúde ou até repassar o custo ao consumidor final", diz o subsecretário. 

Em alguns países, o comprovante de vacinação com as duas doses completas também é aceito em eventos, mas, em um primeiro momento, ainda não será exigido no estado. A medida é considerada após o avanço da imunização.

Eventos-teste previstos para acontecer a partir de julho no estado de SP
Eventos-teste previstos para acontecer a partir de julho no estado de SP

Para a segunda quinzena de agosto, é esperada a Feira da Economia Criativa, no Memorial da América Latina, na zona oeste de São Paulo. Um mês depois, a previsão é de que o evento aconteça em Campinas, no interior.

A corrida SP Volta 10K será em agosto. Em outubro, haverá a Campus Party, no Anhembi, e começa uma sequência com quatro shows no Allianz Parque, na zona oeste da capital, para diferentes públicos, entre eles sertanejo, pop rock, funk e de música eletrônica. Também devem acontecer dois casamentos, dois jantares e a Oktoberfest, no Brooklin, a partir de 25 de novembro.

"Já em setembro teremos shows e eventos noturnos com capacidade máxima para 2.000 pessoas em áreas que comportariam muito mais. Depois vamos chegar a shows maiores como já acontece fora do país", destacou Eduardo Aranibar. 

Monitoramento e riscos

O monitoramento dos frequentadores pós-evento poderá ser feito por ligações telefônicas, via aplicativo, parcerias, uma vez que os participantes serão obrigatoriamente cadastrados e informados sobre a necessidade de reportar qualquer sintoma.

Ainda que os protocolos sejam seguidos, como o teste de antígeno, o risco nunca será zero. Mas é preciso avaliar também o local em que o evento será realizado. "Uma F-1 em ambiente aberto é uma coisa e outra é em local fechado. O risco é bem maior porque as pessoas tiram as máscaras, falam alto, bebem e comem no ambiente", ressalta o professor de doenças infecciosas da UFRJ.

Edimilson Migowski explica que a pesquisa com os frequentadores deve funcionar como estratégia: "Algumas atividades já exigem uma autodeclaração diária de bem estar. É mais comum a pessoa não informar do que mentir se contatada. Até porque a pessoa pode responder pela mentira. A busca ativa é fundamental, mesmo que feita de forma randomizada".

Na avaliação do infectologista, a retomada de uma rotina é importante para combater outras enfermidades que aumentaram com a pandemia, como a depressão, ansiedade e hipertensão. Até mesmo os índices de vacinação contra doenças caíram, entre elas o sarampo, gripe e tuberculose.

A confirmação da realização dos eventos vai depender da situação epidemiológica, mas o subsecretário está otimista. "Se tiver surto da epidemia, novas variantes ou indicadores críticos que coloquem pressão sob o sistema de saúde, como alta taxa de ocupação de leitos, os eventos serão cancelados. Também se os organizadores desrespeitarem o combinado, mas a probabilidade é pequena", acredita.

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