Feminicídio é o crime que mais cresce em SP, diz delegada
Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindpesp, afirma ainda que políticas públicas não são suficientes para combater a violência contra a mulher
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7

A delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sinpesp (Sindicado dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo) revela que, estatisticamente, o feminicídio — tipo de homicídio no qual vítima é morta pela condição de ser mulher — é o crime que mais cresce no Estado de São Paulo. Para a policial, o fenômeno requer a adoção de políticas públicas que provoquem uma reflexão sobre aspectos sociais, culturais e familiares na sociedade brasileira.
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De acordo com as estatísticas divulgadas pela SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo), houve 155 registros de feminicídio —qualificadora instituída no crime de homicídio em 2015, por decreto presidencial — entre janeiro e novembro de 2019. O número é 14% maior em relação aos índices aferidos pela pasta nos 12 meses do ano anterior, período em que foram elaborados 136 boletins de ocorrência.
No ano passado, os meses de maio e setembro foram apresentaram o maior número de boletins de ocorrência de feminicídio nas delegacias de polícia (19). Em segundo lugar no ranking, novembro e outubro surgem empatados com 17 casos. Já o mês de julho se destacou como o período no qual houve o menor volume de registros no ano passado (5).
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"As políticas de segurança pública adotadas pelas autoridades brasileiras não são suficientes para que se combata o feminicídio pela natureza multifatorial e multidisciplinar deste tipo de crime. Não bastam o aumento significativo de delegacias especializadas em violência contra a mulher ou policiais preparados para atender esse tipo de vítima. Há a necessidade de mudanças institucionais [na sociedade]. É uma causa social, de todos", enfatizou Raquel Kobashi Gallinati, em entrevista ao R7, nesta segunda-feira (6).
A delegada acrescentou que, em 2019, crimes igualmente violentos como homicídios e latrocínios tiveram redução significativa, de acordo com dados do governo paulista. Por outro lado, o estupro, outra modalidade de crime que atinge as mulheres, cresceu 4% entre janeiro e novembro, em comparação com o ano anterior.
Ciúme e vingança
Dados divulgados pelo Sindpesp mostraram que o autor do feminicídio é conhecido em 79% dos casos — na grande maioria, companheiros ou ex-companheiros — e, em 68% das ocorrências, o assassinato ocorre dentro da casa das vítimas.
"O feminicídio não é um crime isolado. É o ápice de um processo que começa com agressões verbais, humilhações e violência física. A motivação, geralmente, é o ciúme ou uma vingança após separação do casal", complementa a delegada.
Palestras e ações preventivas
A delegada Raquel Kobashi Gallinati diz ter intensificado a quantidade de ações, juntamente com outras profissionais do setor, para colaborar no combate ao feminicídio e aos demais crimes contra a mulher. Entre as medidas, está o projeto "Mulheres na Segurança Pública".
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Lançado no fim do ano passado, o movimento pretende para ampliar a presença feminina em posições estratégicas no desenvolvimento de políticas de segurança e aprimorar o atendimento de mulheres nas delegacias do Estado.
Outra intenção é realizar, em 2020, palestras em escolas públicas para que os jovens recebam informações sobre o tema e conheçam as principais características da violência contra a mulher e como tal crime pode ser denunciado.
"Faremos todo o esforço possível para alertar e informar os jovens de que os relacionamentos devem ser baseados em respeito, amor e cumplicidade. E que a violência doméstica destrói a vida das vítimas, dos agressores e das famílias, principalmente dos filhos", finalizou a delegada Raquel Kobashi Gallinati.
Feminicídio está entre os crimes que aumentaram no Brasil em 2019:
A taxa de feminicídio no Brasil é a 5ª maior do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Este tipo de crime foi um dos que mais aumentou no país em 2019. Nos primeiros nove meses do ano, os casos de feminicídio cresceram quase 30% em São Paulo, e...
A taxa de feminicídio no Brasil é a 5ª maior do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Este tipo de crime foi um dos que mais aumentou no país em 2019. Nos primeiros nove meses do ano, os casos de feminicídio cresceram quase 30% em São Paulo, em relação a 2018. No estado, foram 121 mortes de mulheres entre janeiro e setembro, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Crimes, muitas vezes, cometidos dentro de casa, por maridos ou ex-companheiros. Um estudo aponta que 8 em cada 10 assassinatos de mulheres acontecem diante dos filhos. Um dos casos mais recentes foi o de Joyce Mara Sanches, de 34 anos, assassinada no início de dezembro, em Sertãozinho, no interior de São Paulo. Ela sofria ameaças do ex-marido Gerson Aparecido Machado, de 39 anos, desde a separação do casal. Após matar a ex-mulher com quatro tiros, o suspeito tentou tirar a própria vida. O casal tinha um relacionamento de 18 anos e dois filhos de 13 e 5 anos de idade.



















