'Foi horrível, estavam agredindo sem dó', diz MC sobre Baile da Dz7
MC Robs viu a ação da PM que resultou na morte de nove pessoas no baile funk de Paraisópolis e compôs uma música sobre a tragédia: “Funk pede paz”
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Cantor de funk há seis anos e frequentador do Baile da Dz7, Robson Gonçalves, o MC Robs, 23 anos, estava na trágica madrugada de Paraisópolis, no último domingo (1º), que terminou com nove jovens mortos após ação da Polícia Militar supostamente atrás de motoqueiros em fuga.
"Foi horrível, eles [policiais] estavam agredindo sem dó nenhuma. Tinha pessoas machucadas, com a cara desfigurada. Não queriam saber se era morador, se estavam curtindo o baile, se era mulher, se era homem. Estavam batendo em todo mundo e foi difícil”, lembra o cantor.
Robs afirma que a violência policial em bailes funk é comum. Ele diz que já foi vítima de agressões por parte da PM em eventos realizados em outros bairros periféricos e também já viu outras ações violentas em Paraisópolis, "mas da forma como aconteceu desta vez eu nunca vi na minha vida".
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O MC diz que chegou no baile da favela por volta das duas horas da manhã e já notou que "nesse dia o clima estava um pouco diferente". Ele afirma que havia acabado de chegar no baile e "de repente apareceu muita polícia, cercando tudo, e não tinha como sair da favela”.
"Presenciei muitas coisas feias. Vi uma menina com um tiro de bala de borracha na testa, e o pessoal que tentava fugir de moto eles [policiais] derrubavam, batendo. Ficou ruim até para os próprios moradores", disse.
O cantor estava acompanhado de uma prima e conseguiu escapar da violência policial. Ele saiu da favela pouco antes de amanhecer e afirma que ficou traumatizado. "Para eu voltar lá é muito difícil, porque eu já presenciei muitos bailes que aconteceram violência policial, mas nunca desse jeito".
Na versão policiais, seis PMs da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) entraram no meio do baile funk atrás de supostos motoqueiros que haviam furado um bloqueio policial e fugido para o interior da favela.
Quando os policiais se aproximaram, ainda de acordo com a versão da corporação, foram atacados por latas, garrafas e pedras. Os PMs chamaram reforço da Força Tática, que chegou usando munição química. Diversos vídeos que circulam nas redes sociais mostram violência cometida pela polícia. No entanto, não há registro de ataque aos policiais.
MC Robs passou o domingo (1º) refletindo sobre o que havia acontecido e lembrando que esteve "do lado de tantas mortes". Os comentários nas redes sociais contribuíram para que o cantor compusesse um funk sobre a tragédia.
Em uma das publicações em redes sociais, Robs afirma que uma pessoa teria dito que as vítimas merecem a morte porque estavam em um baile funk. Ele comenta que ficou com vontade de responder, no entanto, em vez de escrever na internet, compôs a música. Antes de lançar o som produzido, ele cantou para o R7(vídeo acima).
Na música, o MC diz que "a Dz7 pede paz", além de afirmar que "baile funk tem em toda cidade, tem pancadão no centro, em frente das faculdades", e questiona: "Por que na favela tem que ser diferente a abordagem?".
As vítimas de supostos pisoteamento após a ação policial em Paraisópolis são Luara Victoria, Mateus dos Santos, Eduardo Silva, Gabriel Rogério de Moraes, Denys Henrique, Bruno Gabriel, Dennys Guilherme, Gustavo Cruz Xavier e Marcos Paulo Oliveira. Eles tinham entre 14 a 23 anos.