Habitantes de Pacaraima (RR) têm vida afetada com crise em fronteira
Após presidente Nicolás Maduro fechar fronteira entre Brasil e Venezuela, habitantes de cidade na divisa relatam mudanças no comércio e cotidiano
São Paulo|Guilherme Padin e Plínio Aguiar, do R7
Desde o fechamento da fronteira entre Brasil e Venezuela, a pedido de Nicolás Maduro, presidente do país vizinho, na quinta-feira (21), em meio a um plano de lideranças oposicionistas para entregar ajuda humanitária ao país em crise, a vida dos habitantes de Pacaraima (RR) tem sido afetada.
Valcir Alves de Assis, funcionário da Roraigás, distribuidora de gás local, acredita que o fechamento da fronteira com a Venezuela atrapalhou o comércio local. “Rapaz, prejudica todo mundo aqui. Aqui, dependemos muito dos venezuelanos”, relata o homem de 32 anos. Segundo Assis, “hoje (sexta-feira) mesmo, muitos comércios fecharam mais cedo porque não tinha movimento. [O fechamento da fronteira] atrapalha. E muito”.
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Proprietário de uma lan house, Sérgio Pinheiro de Andrade afirma que sua loja não foi diretamente afetada. Porém, ele observou uma queda abrupta no movimento do comércio local. “O comércio local enfraqueceu hoje. Alimentos, comércio de pneus... Caiu muito”, diz ele.
Se a lan house de Sérgio não sentiu o fechamento da fronteira, ele comenta que sua irmã, Solange, sofreu com a decisão de Maduro. “A Solange tem uma loja de roupas. Como a clientela é em boa parte de venezuelanas, as vendas caíram muito. Ela fechou a loja ao meio-dia hoje”, relata.
Além da influência no comércio local, Andrade diz que tem medo de consequências piores à região: “A nossa cidade está bem na fronteira, né? O povo daqui está preocupado e com medo. Ficamos com medo que possam invadir a cidade [de Pacaraima], caso alguma coisa aconteça. Fica tenso. A gente sabe que vai resolver, mas tomara que de uma maneira bem calma”.
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Dialdi Ferreira, de 53 anos, pensa diferente. Para ele, o clima em Pacaraima está tranquilo depois do fechamento da fronteira. “Ainda não tem desordem, tudo está funcionando normalmente”, conta. “Claro, a situação para os venezuelanos continua difícil, porque não tem emprego nem comida para todos.”
Ferreira nasceu em Jataí, em Goiás, e se mudou para Pacaraima na década de 90, com o objetivo de reestruturar a cooperativa de táxi a qual ia trabalhar — o ponto de Ferreira fica a quatro estabelecimentos da divisa com a Venezuela.
Embora ainda sinta tranquilidade na cidade, Ferreira comenta uma mudança na sua rotina de trabalho. Antes do fechamento da fronteira, o taxista abastecia o seu carro, modelo Spin, em um posto que está localizado a 50 metros da divisa, no lado venezuelano. É uma área indígena, segundo ele, e o litro da gasolina é vendido a R$ 1,50. “É barato, mas você fica quatro cinco horas na fila e, na maioria das vezes, quando chega na sua vez já não tem mais combustível”, relata.
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Agora, abastece em Boa Vista, capital do Estado, a 210 km de Pacaraima. “Eu faço o taxi intermunicipal, então eu levo passageiros de Pacaraima a Boa Vista quase todos os dias. Por lá, eu abasteço o meu carro”, diz, acrescentando que o litro na capital roraimense custa R$ 3,48.
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