'Holiday é um fantoche na Câmara', afirma ex-assessor de campanha
Advogado Cleber Teixeira afirma que Renan Santos é o "verdadeiro vereador"
São Paulo|Peu Araújo, do R7
O advogado Cleber Teixeira, de 50 anos, um dos principais responsáveis pela campanha eleitoral de Fernando Holiday à Câmara Municipal nas Eleições 2016, alega que a função do vereador seria meramente ilustrativa.
"Holiday é um fantoche na Câmara", afirmou em entrevista ao R7.
Presente em toda a trajetória que culminou na eleição do vereador mais jovem da cidade de São Paulo, Teixeira defende que Fernando Holiday não tem autonomia em seu mandato.
O advogado afirma que quem manda no gabinete é Renan Santos, fundador e um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre). “Ele é o verdadeiro vereador”, afirma categoricamente.
O ex-assessor afirmou, em reportagem publicada pelo R7 neste domingo (5), que o valor estimado de caixa dois usado na campanha de Fernando Holiday é de R$ 30 mil.
Teixeira explicou ainda que Marcelo Castro, chefe de gabinete do vereador, age como os olhos do MBL. “O Castro está ali para que o Holiday não faça xixi fora do penico", disse.
A reportagem do R7 teve acesso a uma gravação, feita pelo próprio Marcelo Castro e compartilhada em um grupo de WhatsApp da equipe de campanha, de uma conversa que teve com um repórter do jornal O Estado de S. Paulo.
Nela, Castro afirmou que tirava dinheiro do Instituto Ravenna, um programa de emagrecimento que ficou famoso depois que a então presidente Dilma Rousseff (PT) o adotou, para injetar na campanha de Holiday. A prática é identificada como caixa 2 por Teixeira, uma vez que o valor não foi declarado nas despesas da campanha.
Segundo Teixeira, agora ex-membro do MBL, o dinheiro seria entregue em espécie na sede do MBL. “Eu vi bolos de dinheiro nos últimos dias da campanha”, afirmou.
Descrença na candidatura
“A impressão que eu tinha é de que ninguém confiava que o Holiday poderia se eleger”, disse Teixeira.
O ex-assessor de Fernando Holiday explicou ainda que o MBL vinha de uma eleição frustrada com o candidatura de Paulo Batista, que ficou conhecido por um meme na internet, a deputado estadual em São Paulo em 2014. A campanha teve 16.853 votos, menos de 1% dos eleitores do município.
“Eles não acreditavam, principalmente o Renan [Santos], na candidatura”, comentou o ex-assessor, que afirma que o líder do MBL só passou a apoiar a campanha no último mês, quando as intenções de voto de Holiday mostravam índices mais altos.
Teixeira revelou que o líder do MBL só acreditou na candidatura de Holiday a cerca de 30 dias da eleição, período em que Cleber Teixeira e Carlos A. Rigat, então responsáveis pela campanha, foram, segundo eles próprios, afastados. Em seguida, quem assumiu foi Marcelo Castro.
Trampolim para Kim Kataguiri
O teste com Holiday serviu para impulsionar uma eventual candidatura de Kim Kataguiri, também líder do MBL. “O MBL utilizou a campanha para vereador e prefeito como um teste para o que seriam as próximas eleições”, afirmou Teixeira.
O ex-assessor da campanha afirma que “utilizaram o Holiday como trampolim para soltar o Kim [Kataguiri] como deputado federal”. Ele acrescenta: "Ele [Fernando Holiday] foi usado como bucha de canhão".
O advogado detalhou ainda que Kim Kataguiri, um dos rostos mais conhecidos do MBL, também não tem autonomia dentro do grupo. “O Kim e o Holiday são molas e instrumentos na mão deles, principalmente do Renan [Santos] e do Alexandre [Santos, outro fundador e líder do MBL]”, cravou.
Conflitos internos
Rigat, também responsável pela campanha de Fernando Holiday, afirmou que, nos bastidores, o candidato e a liderança do MBL tinham conflitos. “O tempo todo o Holiday deixava claro o quanto odiava o Renan, mas sempre fazia o que era mandado por ele”, disse.
O ex-assessor afirmou que teve certeza de que Fernando Holiday não era o responsável pelo seu mandato, quando o vereador encabeçou a campanha da Escola Sem Partido.
“Ele falou mais de uma vez para mim que não fora doutrinado na Escola e por isso não acreditava nesse projeto”, lembrou.
O ex-assessor, que afirma que foi escanteado da campanha com a chegada de Marcelo Castro, concluiu: "Fui percebendo aos poucos que quem mandava não era o Holiday. Quando confrontei este assunto me encostaram".
O R7 procurou o vereador Fernando Holiday por e-mail e telefone, mas não obteve resposta.
Por telefone e mensagens de celular, a reportagem procurou o líder do MBL Renan Santos, mas ele não atendeu.
A reportagem buscou também o Instituto Ravenna por telefone e e-mail, mas, de novo, também não foi atendida.