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Homem que invadia delegacias para furtar policiais é preso em SP

Detido após levar arma de delegado na zona oeste da capital, suspeito cometeu mais de dez crimes semelhantes e já tinha condenações anteriores

São Paulo|Cesar Sacheto, do R7, e Thiago Samora, da Record TV

Assaltante tinha como especialidade invadir delegacias de polícia na capital
Assaltante tinha como especialidade invadir delegacias de polícia na capital

A extensão da ficha criminal de Ricardo Bruno Pagliou, que completa 30 anos no próximo dia 1º de setembro, é impressionante. Porém, ainda mais surpreendente — e arriscada — é a modalidade escolhida por ele no mundo do crime: praticar roubos e furtos dentro de delegacias de polícia. Foram pelo menos 11 invasões. E o suspeito terminou preso em flagrante na maioria delas.

A mais recente ousadia ocorreu no último dia 12, quando Ricardo entrou na sede do 34º DP ( Vila Sônia), subiu até o primeiro andar do prédio, situado na Avenida Francisco Morato, na zona oeste da capital paulista, se passou por um indivíduo intimado a depor no local e furtou a arma de trabalho de um delegado que da expediente no local.

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Um dia depois, o bandido foi preso dentro da casa onde mora, em São Mateus, na zona leste paulistana. No local, foi encontrada a pistola levada do distrito policial, além de entorpecentes e um artefato que parecia ser um explosivo. O Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar) foi acionado para examinar o material suspeito.


Questionado, Ricardo confessou que vendeu a arma, avaliada em R$ 9 mil, para um desconhecido que passava pela rua por R$ 1 mil porque "precisava de dinheiro para pagar contas e comprar objeto", conforme depoimento prestado e que consta no boletim de ocorrência.

O flagrante rendeu mais um indiciamento ao acusado, agora pelos crimes de furto qualificado (Artigo 155 do Código Penal), tráfico de drogas (Artigo 33) e posse ilegal de armas (Artigo 16).


Especialidade: invadir delegacias

O nome de Ricardo Bruno Pagliou consta em 19 processos criminais na Justiça paulista. Ele já teve seis mandados de prisão expedidos contra si. Permaneceu detido em algumas oportunidades, mas foi beneficiado por indultos.


Retrato falado do suspeito
Retrato falado do suspeito

Desde 2007, o assaltante adotou uma forma pouco comum para cometer os crimes. Ricardo entra nas delegacias e finge que precisa ser ouvido em um inquérito qualquer. Depois, ele se aproveita da distração dos policiais de plantão para pegar celulares, armas e outros pertences deixados nas salas pelos agentes públicos.

Foi assim no 31º DP (Vila Carrão), 49º DP (São Mateus), 35º DP (Jabaquara), 11º DP (Santo Amaro), 4º DP (Consolação), 58º DP (Vila Formosa), 5º DP de Guarulhos, 69° DP (Teotônio Vilela), 1º DP de São Caetano do Sul e até o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Ousadia

A presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), Raquel Kobashi Gallinati, considera a invasão de delegacias com o objetivo de furtar ou roubar pertences de agentes públicos incomum.

"A ação mostra que os criminosos estão cada vez mais ousados e contando com a certeza da impunidade", frisou a delegada que, por outro lado, fez um alerta para bandidos que possam se sentir encorajados. "Tanto isso não é verdade [impunidade] que acabou preso", completou.

Raquel Kobashi Gallinati entende que tais práticas são pontuais e não representam uma ação em série ou coordenada. Entretanto, o fato expõe a precariedade que abala a rotina dos policiais dentro das delegaciais paulistas.

"A ação revela claramente que a falta de policiais civis nas unidades de todo o estado. Estamos falando de um déficit de 14 mil profissionais. [A defesagem] Compromete não só a segurança de toda a sociedade, mas também dos próprios policiais".

Para superar essa fragilidade, a presidente do sindicado dos delegados de São Paulo cobra investimentos na Polícia Civil, como a compra de equipamentos, melhoria de salários e condições de trabalho.

"Contratando profissionais para sanar o déficit e oferecendo treinamentos cada vez mais atualizados", finalizou Raquel Kobashi Gallinati.

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Já o presidente da Associação dos Delegados do estado de São Paulo, Gustavo Mesquita Galvão Bueno, vai além e vê tal situação como "fruto do processo de descaso do Governo do Estado de São Paulo com a Polícia Civil durante as últimas décadas".

"Em muitos casos, são prédios inteiros com poucos funcionários, que acumulam atividades de atendimento ao público em meio às rotinas de investigação, operacionais e administrativas. Um acréscimo de tarefas que prejudicam não só o atendimento satisfatório à população, mas também a eficiência das atividades investigativas e a segurança de todos os demais funcionários dos DPs", comentou o delegado.

Gustavo Mesquita Galvão Bueno também citou o déficit de efetivo de policiais civis no estado como fator que prejudica o desempenho da instituição e sugeriu que o caso de Ricardo Bruno Pagliou sirva para gerar um amplo debate sobre a devida modernização das estruturas atuais dos distritos.

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"As delegacias de polícia deveriam ter controle de acesso como qualquer prédio privado, além de centrais de monitoramento permanente. Porém, a realidade no estado é precária, muitas vezes com falta de insumos básicos, como tinta para impressora, material de limpeza e higiene, entre outros", opinou o presidente da associação dos delegados paulistas.

SSP-SP

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo foi indagada pelo R7 sobre a prisão de Ricardo Bruno Pagliou e possíveis medidas em relação à invasão das delegacias. 

Segundo a nota enviada pela pasta, o suspeito foi preso em flagrante, em no dia 13 de agosto, pelo furto de uma arma nas dependências do 34º DP e o caso segue em investigação por meio de inquérito policial na unidade.

Ainda de acordo com a SSP-SP, desde o início do ano, a atual gestão estadual investe na ampliação e valorização policial.

Estão em andamento concursos para a contratação de 2.750 policiais civis. Destes, 1.100 já foram convocados para a análise de documentos e realização de perícias de aptidão e mental. Além disso, também está autorizada a abertura de um novo certame para a contratação de mais 2.750 policiais civis, a partir do próximo ano.,

Por fim, a pasta da segurança pública afirmou que governo paulista também aplicará mais de R$ 57 milhões no plano de modernização da Polícia Civil. Serão comprados mais oito mil coletes balísticos, 200 viaturas e recursos para a inteligência policial. Ainda, abriu chamamento público para a reforma de 120 delegacias em parceria com a iniciativa privada.

Outro lado

A reportagem do R7 também entrou em contato com advogada Bethania Meves Belarmino, que representa Ricardo Pagliou, para buscar as explicações sobre os possíveis motivos que o levaram a cometer tais delitos.

Porém, de acordo com a advogada, a família do acusado não a autorizou a fazer declarações sobre o caso.

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