Jamais foi preciso testar em animais, afirma biólogo que fez vistoria no Instituto Royal
Na avaliação dele, prática é desnecessária e modelo não é adequado ao ser humano
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
O biólogo Sérgio Greif, que a pedido do Ministério Público realizou em março deste ano vistoria na unidade de São Roque do Instituto Royal, no interior de São Paulo — a mesma de onde 178 cães da raça beagle foram retirados por ativistas no último dia 18 — , é declaradamente contrário à experimentação animal. Ele afirma que é possível evitar a prática.
— Se eu tiver que falar em uma frase, digo que sim. Mas não é assim que funciona. Hoje existe uma corrente que diz que a gente não consegue se livrar de todos os testes com animais. Existe uma que diz que a gente já não precisa testar em animais, mas a corrente que eu defendo é que, no passado, em toda a história, a gente jamais precisou testar em animais.
Na avaliação do biólogo, antes de indagar se é possível banir esses testes, é necessário questionar se em “algum momento foi provado que o modelo animal é adequado para o ser humano”.
— O rato não é uma miniatura de pessoa, por exemplo, que pesa 200 vezes menos. Então, quando se aplica uma droga em um rato, o resultado que se obtém, multiplicado por 200, é a dose segura para um ser humano? Não existe esta linearidade.
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Co-autor do livro A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua Saúde em Perigo e autor de Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela Ciência Responsável, Greif afirmou que não há no Brasil uma corrida pelos métodos substitutivos.
— Existem hoje métodos alternativos? Pode ser que não existam para tudo e te digo o porquê. Centenas, milhares de pesquisadores, cada um com sua pesquisa envolvendo testes em animais, e não há tantas pessoas assim desenvolvendo métodos substitutivos. Não quer dizer que tecnicamente esses métodos não possam existir. O que diferencia é que não cabe ao pesquisador a responsabilidade de criar o método substitutivo, porque ele pode lançar mão dos animais.
Ele completou:
— Não significa que vamos partir do nada. Já temos métodos substitutivos para as pesquisas mais importantes. Toxidade aguda, toxidade crônica, sub-crônica, testes de fototoxidade, testes de ecotoxidade.
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O biólogo, que é ativista da causa, considerou ainda que a proibição de pesquisas com animais tornaria indispensável a busca por alternativas.
— Existem métodos alternativos para tudo. Só que sempre que se diz isso, alguém levanta a mão e fala: “Mas eu pesquiso a permeabilidade da membrana da bochecha do gambá de orelha branca”. Tem alguma alternativa para isso? Não tem. É muito específico. Não tem alguém que se preocupou em criar um método substitutivo para isso. Mas a priori, sim, existem alternativas para tudo. Mas se você ficar me apontando uma por uma, vou te falar: “Olha, para isso, pode ser que ninguém desenvolveu, mas não quer dizer que não possa ser desenvolvido em um curto prazo”.
Na análise dele, é preciso mudar o conceito por trás da própria experimentação animal.
— Se fosse com crianças, não diríamos que seriam maus-tratos? O que muda entre uma situação e outra é simplesmente a vítima. Se eu fizer a mesma coisa com uma criança, sempre vão dizer que são maus-tratos. Mas quando é com cachorro, com rato, com coelho ou algum outro animal, aí fica condicionado a qual resultado que consigo obter disso. Isso que está errado.