Julgamento de PM acusado de matar adolescente que foi comprar bolacha é remarcado para julho
Luan Gabriel de Souza foi baleado na nuca. Em 2017, policial alegou que atirou para se defender. Arma do jovem não foi localizada
São Paulo|Laura Lourenço, da Agência Record
Foi remarcado para o dia 26 de julho, às 10h, o julgamento do policial militar Alécio José de Souza, acusado de matar o adolescente Luan Gabriel Nogueira de Souza, de 14 anos, quando o menino saía de um supermercado em Santo André, no ABC paulista, em 2017.
O julgamento do PM estava previsto para acontecer nesta terça-feira (29), mas foi redesignado.
O crime aconteceu em 5 de novembro de 2017, quando o adolescente saía de um supermercado e foi baleado na região da nuca. Na época, o policial alegou que teria disparado contra o menino para se defender, pois ele teria atirado primeiro.
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O policial responde pelo crime em liberdade, e o julgamento será conduzido pela juíza Milena Dias, no Fórum de Santo André, localizado na praça IV Centenário, na região central da cidade.
O caso
Era tarde de um domingo quando Luan acordou e foi para a rua comprar bolachas antes do almoço. Luan não voltou para comer, de acordo com a cozinheira hospitalar Maria Medina, mãe do adolescente.
O menino morreu depois ter sido baleado na nuca por um policial militar na Travessa Sete, no Parque João Ramalho.
Segundo a Polícia Civil, Luan teria participado de um furto a uma moto Honda/CG/125 vermelha no pátio de apreensão de veículos da Prefeitura de Santo André. Em patrulhamento, os policiais militares teriam visto o veículo sendo desmontado por jovens. Os policiais teriam, então, se aproximado dos suspeitos com a viatura, e eles correram.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, na fuga, "um deles, que empunhava um revólver calibre .38, disparou contra os militares". Para se defender, o cabo Alécio José de Souza teria disparado três vezes contra o atirador. A versão da família é outra.
Segundo a mãe, o filho foi vítima de uma injustiça: "Meu filho não é bandido, meu filho não usa drogas, ele simplesmente estava passando em um lugar. Ele tinha medo de barata! Como ele estava com uma arma igual à que eles falaram? É mentira da polícia".
Maria Medina diz ainda que, após cinco minutos da saída do filho, ficou sabendo que policiais tinham baleado e matado uma pessoa. Segundo ela, seu "coração de mãe" já tinha sentido que a vítima era Luan. "Eu quero justiça, para isso não acontecer com outras mães", afirma.
A mãe diz ter reconhecido o filho a distância, pois a polícia não permitiu que ela chegasse perto do adolescente: "A gente viu o corpo de uma laje da casa da minha sobrinha. Eu reconheci meu filho pelo solado do tênis dele, porque o corpo estava todo coberto. Quando a perícia saiu, o vento descobriu o plástico e aí eu vi o rosto do meu filho. Eu ainda tinha esperança de que não era meu filho. Se eu tivesse impedido".
De acordo com o boletim de ocorrência, nenhuma arma foi encontrada com Luan.
Segundo Maria do Carmo, tia do adolescente, ele era um menino caseiro, tímido, medroso e que sonhava em ser médico. "A cunhada dele faz faculdade de medicina e ele colocava o jaleco dela e falava: 'Eu vou ser igual a você. Eu vou salvar vidas'", lembra.
Luan, segundo a tia, sempre dizia que nunca ia correr da polícia em uma abordagem, porque "não devia nada".