Médico morto na frente do filho de 13 anos era centroavante no time dos amigos: 'Foi uma comoção'
Ronaldo Vidal, de 54 anos, se rendeu após assalto em semáforo no Alto de Pinheiros, mas foi baleado na cabeça e não resistiu
São Paulo|Do R7
Morto brutalmente com um tiro na cabeça, Ronaldo Vidal, de 54 anos, era pai de dois filhos e trabalhava como médico-cirurgião em uma clínica privada e no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, na Grande São Paulo. No tempo livre, gostava de jogar bola e era centroavante. Quando fazia gols, sua marca registrada era comemorar dando cambalhotas. Amigos lamentaram a morte dele nas redes sociais. A polícia investiga o caso e busca localizar os suspeitos.
Na última sexta-feira (2), Ronaldo passava de carro com o filho mais novo, de 13 anos, pela praça Beethoven, no Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, quando foi abordado por dois homens em uma moto ao parar em um semáforo. Segundo os registros do caso, ele se rendeu após o assalto ter sido anunciado. Ainda assim, foi baleado na cabeça, e não resistiu. Deixou a mulher, uma filha de 17 anos e o menino, que assistiu à morte do pai.
"Foi muito triste o que aconteceu com ele, a gente ainda não assimilou", disse um amigo próximo, que preferiu não se identificar. Segundo ele, ao menos 100 pessoas compareceram ao enterro do médico na manhã do domingo (4), no Cemitério Gethsêmani da rodovia Anhanguera. "Tinha muitos amigos, é um cara muito querido. Lá, tinha muitos médicos, colegas de turma dele, amigos de futebol. Foi uma comoção."
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A despedida trágica, destacou o amigo, contrasta com a forma que Ronaldo era em vida. "Ele gostava muito de jogar bola, era bem extrovertido, brincalhão, um cara sensacional", conta o amigo. Os dois se conheceram há cerca de 20 anos por conta do futebol, e por um bom tempo jogaram bola quase todos os fins de semana em um time de várzea tradicional da região da Freguesia do Ó, na zona norte: o Turma do Garrafão.
"Era o homem da cambalhota. Gostava de dar cambalhota quando fazia gol", relembra. Recentemente, Ronaldo se afastou um pouco dos gramados para se dedicar a outros hobbies — ele também gostava de pintar e de cuidar de plantas —, mas sempre aparecia quando dava tempo. "Só tem história boa para a gente lembrar, ele cuidou de várias pessoas do nosso time também. Tem uma ala mais veterana lá, e ele sempre dava uma superatenção a eles, cuidou de vários pessoalmente."
Presidente do Turma do Garrafão, o eletricista Wilson Sobrinho, de 58 anos, conta que "o cara era 10, não tem o que falar dele". "Pessoa de boa índole, que ajudava a todos", diz. Neste domingo, Wilson suspendeu a partida na várzea e foram todos para o enterro de Ronaldo. "Foi importante estar lá, levamos uma camisa do time para o filho dele."
Conselho
Em nota, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina) informou que "lamenta profundamente a morte trágica do médico". "O Conselho externa suas condolências ao filho do Dr. Vidal, que presenciou o assalto e a morte do pai, e aos familiares e amigos do profissional de saúde", disse a entidade em pronunciamento.
A Polícia Civil informou que investiga a morte de Ronaldo, que foi baleado após um roubo por volta das 22h de sexta na praça Beethoven, Alto de Pinheiros. Conforme o boletim de ocorrência, Ronaldo trafegava pela via em seu veículo quando foi abordado por dois suspeitos, em uma motocicleta, que anunciaram o assalto.
A vítima, informou a polícia, se rendeu, mas foi baleada na cabeça, e não resistiu. Houve perícia no local, e o caso foi registrado como latrocínio no 14º Distrito Policial (Pinheiros). Depois, foi repassado à 1ª Delegacia de Patrimônio do Deic (Departamento Estadual de Investigação Criminal), que conduz as diligências para identificar e prender os autores do crime.
Outro caso
No primeiro semestre deste ano, outro caso de latrocínio causou comoção em São Paulo. O universitário Renan Silva Loureiro foi baleado na cabeça no Jabaquara, na zona sul paulistana. Ele estava com a namorada quando foi abordado por um criminoso que se passava por entregador de aplicativo. Dias depois, Acxel Gabriel de Holanda Peres foi preso por policiais. Ele tinha na época do crime 23 anos e passagens criminais por roubo e receptação, segundo a própria polícia.
No começo de maio, ainda sob o efeito deste caso e antes do início da campanha eleitoral, Rodrigo Garcia (PSDB) anunciou que pretendia dobrar o efetivo policial que atua todos os dias na cidade de São Paulo. Assim, segundo o governador, os agentes em atividade passariam de 5 mil para 9,7 mil. Os crimes patrimoniais, como roubo e furto, estão em alta no estado e em patamares próximos aos de 2019, o último ano antes da pandemia. Uma das preocupações do governo paulista é que essa modalidade de crime evolua para o latrocínio.