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Medo já muda rotina até na Paulista

Escolas e comércio fecharam mais cedo na capital

São Paulo|Do R7

A violência mudou a rotina dos paulistanos. Nos últimos dois dias, a guerra não declarada entre Polícia Militar e o PCC (Primeiro Comando da Capital) deixou escolas vazias, fez lojas baixarem as portas e resultou no aumento de casos de ônibus incendiados. Até na avenida Paulista, o medo fez uma escola de idiomas fechar mais cedo na terça-feira (30). Uma professora contou que o clima de tensão fez a unidade dispensar os alunos duas horas antes, às 21h.

— Até no Metrô vi gente [de outras empresas] comentando sobre o assunto.

Na periferia, a situação é bem pior, como conta a dona de casa Maísa Dantas da Silva, de 51 anos.

— Fico rezando até meu filho chegar do trabalho.


Ela vive no Parque Santa Madalena, zona leste, onde na segunda-feira (29) um ônibus foi incendiado na frente da casa dela.

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Perto dali, onde um rapaz foi baleado na segunda-feira, ninguém mais sai na rua à noite. Um adolescente disse que não vai mais à escola por medo.

— Ouvi os tiros. Cinco. Pá, pá, pá. E depois: pá, pá. Tem um Corsa vermelho que passa atirando em todo mundo.


Em Perus, na zona norte, o comércio fechou mais cedo na terça-feira (30) na avenida Doutor Silvio de Campos. Uma manicure de 38 anos disse que uma colega de trabalho recebeu SMS avisando sobre o toque de recolher.

— Normalmente vou até as 20h, mas hoje [ontem] fecharei às 17h. Na pizzaria aqui da frente, ligaram dizendo que o limite é 18h. Senão vai ter tiroteio.

No Facebook, pessoas compartilham mensagem dizendo que "até crianças são alvo de execução pelo crime organizado".

As notícias da guerra também mudaram a rotina na zona sul. O motorista Aderson Neves, 34 anos, contou que todos estão tensos.

— Não saio mais à noite e, na nossa família, ligamos um para o outro para saber se tem alguém na rua depois das 22h. É uma situação bastante tensa.

Uma professora da rede municipal de ensino de 41 anos disse que o filho chegou mais cedo em casa na segunda-feira, depois que boatos de toque de recolher tiraram o sossego na escola onde estuda, no Parque Ipê. Para diminuir a chance de que ele seja atacado nas ruas, ela fez algumas recomendações.

— Falei para ele andar com a carteirinha da escola no bolso e com a mochila nas costas, para que saibam que ele está voltando da aula.

Para ela, o medo maior é de que o filho seja confundido por matadores com algum criminoso.

A educadora Eliane Maria, de 34 anos, disse que fios de energia elétrica foram queimados ao redor da ONG onde atende crianças e adolescentes de seis a 14 anos no Jardim Caiçara. Seria um protesto de moradores pela insegurança.

— Ficamos fechados por um dia na semana passada. Quem sofre são justamente aqueles que mais precisam da nossa ajuda.

Até mesmo quem é contratado para dar segurança ao comércio está receoso. Um vigia de 41 anos passou a vestir roupa de atendente em uma farmácia no Jardim Jangadeiro para não ficar tão exposto. Também mudou a rotina e agora volta em grupo com outros colegas para casa.

— Juntamos uns cinco e pagamos para um amigo levar cada um em casa. Tive conhecidos que eram ‘mikes’ (PMs) e foram mortos.

A atendente Sueli Lima, de 40 anos, sai à noite do serviço, no centro do Capão Redondo. Agora, só volta para casa acompanhada do filho.

— Na sexta-feira, ele ouviu que teria ataque do PCC e veio correndo me buscar. A gente fica assustada com tudo isso.

Sem aula

Na zona oeste, moradores do Jardim João 23 foram vítimas de toque de recolher na segunda-feira, com comércio fechando e pais buscando os filhos no meio da tarde no CEU e na Etec Uirapuru. Na noite de terça, alunos da EMEF Angelina Maffei Vita, no Limão, zona norte, saíram antes das aulas, às 20h40. A informação foi dada por guardas-civis que fazem a segurança do local. Nos arredores, comércios e bares funcionavam normalmente às 21h30. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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