Mesmo diante de incertezas, blocos de rua se preparam para retorno do Carnaval após a pandemia
Em meio a muitas polêmicas, o Carnaval 2023 finalmente acontecerá, depois de dois anos, entre os dias 18 e 21 de fevereiro
São Paulo|Julia Girão*, do R7
"Importante e histórico" são as palavras escolhidas por Alessa, musicista de 38 anos que faz parte da Comissão Feminina de Carnaval de Rua, para definir o evento que acontecerá entre os dias 18 e 21 de fevereiro do próximo ano após dois anos parado. Para ela, o momento pode ser comparado com o Carnaval de 1919, após a pandemia de gripe espanhola, que é referenciado e lembrado até os dias de hoje.
O último Carnaval tradicional realizado na cidade de São Paulo foi em 2020, um mês antes da pandemia de Covid-19 e o isolamento social começarem. Na época, o então prefeito Bruno Covas afirmou que os blocos de rua foram os responsáveis por juntarem, em três semanas, 15 milhões de pessoas e trazer um lucro para a cidade de R$ 2,7 bilhões. Em 2023, a Prefeitura de São Paulo espera 633 blocos de rua, que se increveram para participar da festividade na cidade.
"O maior Carnaval de rua do Brasil, que os políticos falam, só existe por causa dos blocos de rua. É feito com muito esforço, mas também com muita alegria e muito amor", afirmou a musicista ao R7.
Em meio a muitas polêmicas, a Prefeitura de São Paulo, já sob a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), cancelou o Esquenta Carnaval 2022, que contaria com alguns blocos de rua, por conta da falta de patrocínio, o que gerou ainda mais expectativa e ansiedade para 2023.
"O objetivo do Carnaval é trazer harmonia, paz, festa e liberdade. Mas, todos os blocos estão fazendo seus preparativos no escuro, porque ninguém tem a certeza de que vai desfilar no trajeto que escolheu, porque a Prefeitura esse ano deixou o Carnaval de rua de lado", disse o coordenador do Fórum dos Blocos de São Paulo, José Cury.
Preparativos
"Nós fomos os primeiros a parar e um dos últimos a retornar. E é uma cadeia produtiva que gera muitos empregos e trabalhos, então teve muita gente desmobilizada e sem trabalhar", diz Celso Alvim, músico percussionista do Monobloco, criado em 2000, e um dos maiores blocos de rua da capital paulista.
O Monobloco é uma oficina de percussão que funciona durante o ano inteiro, mas é no Carnaval que ele ocupa seu espaço. A oficina, segundo Alvim, gera cerca de 12 empregos para jovens carentes. "Está todo mundo na maior expectativa de se reencontrar na rua novamente", conta o percussionista.
A Comissão Feminina de Carnaval de Rua, de acordo com Alessa, participa da Frente Parlamentar em Defesa do Carnaval de Rua, na Câmara Municipal de São Paulo, que foi construída em abril deste ano, quando os blocos tiveram um embate com a Prefeitura em relação ao direito de ir à rua fazer os desfiles.
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Alessa afirma que os blocos estavam sendo perguidos pela gestão pública e "é nesse contexto de dificuldade de diálogo com a Prefeitura que o Carnaval de rua está e é onde a comissão feminina tem atuado".
"A gente vive numa cidade que nos obriga a ir para o trabalho e voltar do trabalho. Então, o Carnaval de rua vem para resgatar uma coisa que não é natural da cidade, que é essa alegria que não está nos espaços privados. É uma coisa que vem de muita conquista e reinvenção da própria cidade", conclui a musicista.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que as tratativas para definição dos trajetos e avenidas a serem interditadas estão sendo feitas com os blocos e com os órgãos competentes, e a lista dos trajetos aprovados será divulgada próximo a data do evento. A próxima etapa do Carnaval de Rua é a divulgação do resultado do edital de patrocínio, ainda em 2022.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Odair Braz Junior