São Paulo Metrô de SP tem prejuízo de R$ 1,7 bi, corta trens e aumenta espera

Metrô de SP tem prejuízo de R$ 1,7 bi, corta trens e aumenta espera

Resultado é decorrente da queda do número de passageiros no sistema por causa da pandemia do novo coronavírus

Agência Estado
Escada rolante na Estação da Luz, no centro de São Paulo

Escada rolante na Estação da Luz, no centro de São Paulo

Edson Lopes Jr./R7 - 12.04.2021

O Metrô de São Paulo registrou um tombo histórico em suas receitas no ano de 2020, terminando o ano com um prejuízo inédito de R$ 1,7 bilhão. O resultado é decorrente da queda do número de passageiros no sistema por causa da pandemia do coronavírus. Na crise, a empresa retirou trens de circulação e aumentou o tempo de espera nas plataformas no momento em que os passageiros precisaram estar mais distantes uns dos outros. 

A retirada de trens ocorreu tanto nos intervalos entre os horários de rush quanto nas horas de pico. Os dados são do Relatório Integrado Anual Metrô, que a empresa tem de publicar em seu Portal da Transparência. Ao longo de 2020, em mais de uma ocasião, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, afirmou que a empresa operava com “100% da frota disponível” ante as queixas de lotação.

O relatório, entretanto, mostra que a diminuição do uso da frota foi generalizada. No pico, a Linha 2-Verde, que opera na Avenida Paulista, rodou com oito trens a menos do que o comum (redução de 27 para 19 trens em circulação). Na Linha 3-Vermelha, a mais lotada da cidade, o governo retirou apenas três composições da linha nos picos, mas cortou o serviço de oito trens no intervalo entre os horários de rush.

Ao todo, nas Linhas 1-Azul e 3-Vermelha, houve uma redução de cerca de 17% no total de partidas diárias de trens (de cerca de mil por dia para cerca de 850) na comparação entre 2020 e 2019. Na Linha 2-Verde, a diminuição foi de 29% (de 833 para 627, em média).

Riscos

O prejuízo recorde da empresa, segundo o Metrô, é decorrente da queda de passageiros - as pessoas que puderam ficar em casa na pandemia ou aquelas que passaram a circular pela cidade de carro. Houve uma redução de 21,% nas viagens de metrô em 2020 na comparação com 2019 (uma média diária de 2,6 milhões ante uma média diária anterior de 3,3 milhões).

Esse prejuízo já coloca em risco o equilíbrio financeiro da empresa, segundo o relatório, o que pode comprometer as operações da empresa. “Caso a situação de confinamento persista, o Metrô não vai conseguir recuperar a demanda em nível suficiente para restabelecer seu equilíbrio econômico-financeiro. As ações de redução de custos e as atividades de obtenção de receitas tarifárias não serão suficientes para suprir a falta da receita tarifária”, afirma o relatório.

Os dirigentes do Metrô falam em cortes de investimentos e atrasos na execução de obras diante do cenário. No relatório, afirmam ainda que “atrasos na liberação dos recursos financeiros previstos podem afetar o desenvolvimento na execução das obras metroviárias dentro das curvas planejadas de cronograma”.

Da série de ações previstas para cortar custos, está o fechamento de 25 bilheterias em estações. Os investimentos programados para este ano ainda estão em análise.

O Estadão questionou o Metrô e a Secretaria dos Transportes Metropolitanos sobre os impactos do prejuízo e quais medidas estão sendo adotadas para reverter o quadro, mas a nota enviada pelo governo não respondeu esses pontos. “No relatório integrado, os registros de despesas administrativas contemplam também a provisão de recursos para processos judiciais, que em 2020 foi da ordem de R$550 milhões”, disse a nota.

O texto destaca que a empresa reduziu despesas ao longo do ano para gerenciar a crise. “O prejuízo geral da Companhia é decorrente da queda na arrecadação como consequência da pandemia, que afetou ao setor de transportes em todo o mundo. E mesmo assim, o Metrô manteve uma alta oferta do serviço, incluindo a intensificação da limpeza nos trens e estações”, afirma a nota.

O coordenador do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, destaca o prejuízo se deve, em parte, ao fato de que o Metrô não recebe subsídios do Estado para sua operação. “A maioria dos metrôs do mundo têm subsídio, porque os governos entendem que o serviço é essencial”, afirma.

Os funcionários da empresa, afirma o representante da categoria, dizem que a redução dos trens é resultado tanto da falta de funcionários, uma vez que, parte da equipe está em casa por causa da crise do coronavírus e parte se infectou. “Já tivemos 22 mortes. Sem investimentos, o Metrô não faz concursos”, disse. Além disso, afirma ele, funcionários da manutenção relatam falta de insumos para a manutenção dos trens, o que faria com que a frota ficasse mais tempo parada.

Linha 4

Paralelamente ao prejuízo recorde do Metrô por causa da pandemia, o governo do Estado decidiu assinar dois contratos aditivos com a empresa ViaQuatro, do Grupo CCR, que administra a Linha 4-Amarela, garantindo à companhia pagamento adicional de R$ 1,05 bilhão por causa dos atrasos para a conclusão das obras da linha.

A decisão de assinar os contratos foi tomada em dezembro, em uma reunião unânime do Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização, composto pelo vice-governador, Rodrigo Garcia, o secretário de Projetos, Orçamento e Gestão, Mauro Ricardo, a secretária Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, o secretário de Infraestrutura, Marcos Penido, e o secretário de Relações Internacionais, Julio Serson, além de outros representantes. Na reunião, segundo ata publicada no Diário Oficial, Mauro Ricardo chegou a considerar que a assinatura dos aditivos estaria condicionada à disponibilidade orçamentária antes do voto favorável dos conselheiros.

Após a concordância dos conselheiros, o governo deu andamento ao processo de assinatura dos acordos - que só foi finalizado no último dia 23, quando a CCR divulgou um fato relevante ao mercado com detalhes do acordo.

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