Metrô demorou uma hora para aprovar buscas de menino em túnel
Menino Luan, de três anos, morreu atropelado após se separar dos pais e sair de um vagão antes da porta fechar
São Paulo|Filipe Siqueira, do R7
O Metrô de São Paulo demorou 61 minutos para autorizar a entrada de agentes de segurança no túnel durante as buscas do menino Luan, de 3 anos, que morreu na estação Santa Cruz no dia 23 de dezembro. A informação consta em um relatório interno da empresa, que investiga o caso.
Luan Silva Oliveira viajava com a família na linha 1-Azul, em direção a estação Jabaquara. Na estação Santa Cruz, a criança saiu do vagão antes da porta fechar e ficou sozinho na plataforma.
O metrô recebeu um SMS às 11h07 informando que a criança havia desembarcado sozinha na estação e um minuto depois os funcionários da plataforma iniciaram as buscas. Inicialmente, a procura se concentrou na plataforma, no mezanino e no Shopping Santa Cruz (em cima da estação).
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Sem encontrar a criança, os funcionários pediram autorização para entrar no túnel em direção à estação Praça da Árvore às 11h28, que só é dada 40 minutos depois, quando a energia elétrica é desligada nos dois sentidos entre as estações Vila Mariana e Saúde.
"É nesse ponto que ocorre a demora na operação. Geralmente, quando a autorização é pedida, o Centro de Controle corta o fornecimento de energia o mais rápido possível", afirma Rodrigo Kobori, agente de segurança e diretor jurídico do Sindicato dos Metroviários.
O agente informa que os outros passos da operação ocorreram dentro das normas do Metrô.
O corpo da criança foi avistado inicialmente no meio dos trilhos por um maquinista dentro de um trem, às 12h22. Ele tinha ferimentos na cabeça e estava a 200 metros da estação.
O relatório informa que o corpo só é localizado às 12h46 e resgatado seis minutos depois e levado para o Hospital São Paulo.
Em nota, o Metrô de São Paulo informou que "tomou todas as medidas necessárias" durante a busca do menino Luan, que exigiu o corte de energia "de mais de quatro quilômetros de vias" para que os agentes pudessem atuar nos túneis.
A empresa afirma ainda que "lamenta o triste acidente" da criança e que vai colaborar com todas as investigações.
Medidas de segurança
Para evitar acidentes trágicos como esse, o Metrô prevê a instalação de portas automáticas nas plataformas das estações. Mas, segundo Kobori, esse é um plano de longo prazo, principalmente para linhas que já estão em operação.
"As portas de emergência são procedimentos caros, que demoram muito tempo para serem implementadas, porque exigem a mudança na sinalização dos trens já em operação", afirma o diretor.
Ele lembra a estação Vila Matilde, da linha 3-Vermelha, cuja instalação de portas foi iniciado em 2010 e nunca foi concluída nas 12 estações prometidas. O Metrô reafirmou o compromisso de instalação de portas de emergência em janeiro de 2018, após uma mulher ser empurrada nos trilhos da estação Conceição, da linha Azul.
Segundo Kobori, ainda nem existem planos concretos para a instalação de portas do tipo na linha Azul.
De 2015 a 2017, houve alta de 41% em casos de invasões de trilhos. Em resposta, Metrô espera anunciar até fevereiro a empresa vencedora da licitação para instalar portas do tipo em 36 estações das linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha
"Uma medida mais rápida de ser entregue é a colocação de alarmes nas cancelas que se encontram nos limites das estações e impedem a passagem para os túneis", pontua Kobori.
Muitos adultos passam por essas cancelas para urinarem ou participarem de trotes, segundo ele.
Outra reivindicação do Sindicato dos Metroviários é a contratação de mais funcionários de plataforma e uma melhor distribuição da escala de funcionários, que são mais escassos à noite e nos fins de semana.