Milionário, Thiago Brennand rebate denúncia de crimes sexuais e avisa: 'Mexeram com a pessoa errada'
Foragido, homem que agrediu modelo em academia de São Paulo tenta desqualificar vítima em vídeo publicado e apagado nas redes
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
O empresário milionário Thiago Brennand, foragido da Justiça brasileira e com o nome na lista vermelha da Interpol, publicou dois vídeos na internet, no domingo (9), em que fala pela primeira vez desde as acusações de agressão e crimes sexuais. "Vocês mexeram com a pessoa errada", diz ele, ao criticar o Ministério Público de São Paulo e a imprensa brasileira.
Nos vídeos publicados e apagados depois de algum tempo, ele se diz "perseguido" e afirma ser "vítima de uma cruzada midiática". Brennand teve a prisão preventiva decretada pela Justiça de São Paulo no dia 27 de setembro, acusado de agredir a modelo Alliny Helena Gomes em uma academia de um shopping de São Paulo. A ação foi registrada por câmeras de segurança.
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As gravações registraram a agressão e o momento em que mulheres que estavam na academia defendem a vítima — caso ocorrido no dia 3 de agosto. As imagens mostram a modelo sendo empurrada com força. Em seguida, duas pessoas aparecem para ajudá-la. Na sequência, o empresário puxa os cabelos da vítima.
Brennand, que é investigado também por suspeita de ofensas, injúrias, stalking (perseguição online), lesão corporal e crimes sexuais que envolvem pelo menos 16 vítimas, negou que tivesse relação com a modelo. "Onde que eu teria interesse em uma mulher daquela? Nem beber eu bebo. Sóbrio não tem como. Quem não vê o nível daquela cidadã", disse em um dos vídeos.
Nas publicações, ele critica a imprensa, o Ministério Público, a ex-promotora de Justiça Gabriela Manssur e a advogada Dora Cavalcanti. O empresário ainda reprova a série de denúncias contra ele. "Não prejudicam minha biografia", disse. "Vamos ver onde vai terminar isso", conclui.
A fundadora da Gema Consultoria em Equidade, a advogada Isabela Del Monde, explica que violência sexual não tem relação com desejo, e sim com poder. "Não estamos falando de atração do agressor em relação à vítima. As aparências físicas, se há ou não atração, [isso] é totalmente irrelevante", afirma. "Não é de atração que estamos falando, mas de um exercício de força, poder e subjugação da vítima", diz.
Aspectos físicos, afirma Del Monde, não têm relevância para cometer violência. "Quando um agressor coloca as coisas nesses termos, ele está querendo dizer que o que ele fez foi sexo, mas aquilo de que ele está sendo acusado é uma violência sexual, o que não tem nada a ver com atração. Qualquer pessoa pode ser vítima de violência sexual", adverte.
Em outro momento de um vídeo de 30 minutos, Brennand, mesmo foragido, nega estar em dívida com a Justiça brasileira. "Estou absolutamente tranquilo, não estou fugindo", afirma. "Vamos ver se uma pessoa como eu, politicamente perseguida, se o mundo civilizado percebe ou cai na balela da imprensa", desafia.
A decisão judicial de determinar a prisão preventiva atendeu ao pedido do Ministério Público de São Paulo e se deu após Brennand não se apresentar — ele tinha dez dias, conforme determinação da Justiça, prazo que se encerrou em 23 de setembro. Após o caso de agressão, o empresário deixou o país rumo a Dubai, nos Emirados Árabes.
O advogado Márcio Cézar Janjacomo, que atua como assistente de acusação no processo da modelo agredida na academia, diz que os vídeos não alteram os rumos do processo. "Por não ter comparecido à Justiça, ele está como foragido. Isso [vídeo] demonstra uma atitude de enfrentamento à Justiça brasileira. Ele diz que não vai acatar a ordem e a Justiça brasileira", diz.
Em outro trecho, Brennand faz piada com a situação e ainda fornece uma descrição da personalidade dele próprio: "Vocês mexeram com a pessoa errada. Vocês morrem de inveja. Branco, heterossexual inegociável. Armamentista, óbvio. Conservador, sempre".
Ele diz ainda que a maioria das denúncias de crimes de estupro no país é falsa. "É uma atitude de enorme coragem afrontar o ordenamento jurídico brasileiro", afirma Janjacomo. "Contra o processo não significa nada, mas contra o Estado significa tudo."
O assistente de acusação afirma também que busca, agora, um posicionamento do Ministério da Justiça e do Ministério das Relações Exteriores para a executar o mandado de prisão em territórios estrangeiros. "Cabe esse tipo de execução para extraditá-lo par o Brasil", explica.
Janjacomo destaca tentativas anteriores do foragido de atrapalhar o trabalho da Justiça brasileira. "Ele tentou por diversas vezes prejudicar nosso trabalho e não conseguiu. Em qualquer aeroporto em que estiver, ele pode ser preso imediatamente. O processo corre normalmente, independente da presença dele aqui", garante.
O R7 entrou em contato com o escritório Hasson Sayeg, Novaes e Venturole Advogados, que faz a defesa do empresário, que informou não ter nada a declarar sobre os vídeos publicados.