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Na mira da polícia, Passe Livre promete “retomar a cidade” durante a Copa

Grupo começou onda de manifestações que levou multidões às ruas de SP no ano passado

São Paulo|Fernando Mellis, do R7

Em junho de 2013, seis protestos organizados pelo MPL contra o aumento das tarifas do transporte público tomaram ruas de SP
Em junho de 2013, seis protestos organizados pelo MPL contra o aumento das tarifas do transporte público tomaram ruas de SP

O MPL (Movimento Passe Livre), grupo que iniciou uma onda de protestos em São Paulo em junho do ano passado, promete ocupar as ruas da região central em um grande ato durante a Copa do Mundo, em 19 de junho. Poucos dias após a divulgação do evento, policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) estiveram nas casas de alguns ativistas, segundo Nina Campello, uma das integrantes do grupo.

— Carros da Polícia Civil estiveram ao longo de toda essa semana na casa de diversos militantes que foram intimados, dizendo que iriam obrigá-los a ir até o Deic. Ocorre que nenhum deles estava em casa na hora. Mas se estivessem, nós acreditamos que eles teriam sido conduzidos coercitivamente e obrigados pela Polícia Civil a prestar esclarecimentos não se sabe sobre o que, em um inquérito absolutamente ilegal com a única finalidade de criminalizar as manifestações.

O inquérito a que Nina se refere foi instaurado em outubro do ano passado pelo Deic. A investigação é para apurar “atos de vandalismo, agressões e associação para o crime, ocorridos durante as manifestações em 2013 e 2014”, segundo a SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública). A ativista não quis mencionar quantos, mas afirmou que “vários” integrantes do MPL foram intimados a depor.

— A gente se recusou [a comparecer ao Deic], mas protocolamos petições explicando o motivo, dizendo que exerceríamos o nosso direito constitucional de ficar em silêncio. Mesmo assim, as intimações continuaram chegando e começaram as ameaças dizendo que se a gente não fosse, seríamos conduzidos coercitivamente.


Em protesto, integrantes do MPL se acorrentam em frente a prédio da Secretaria de Segurança de SP

Mas a “visita” de policiais civis não intimidou os organizadores do ato. De acordo com Monique Felix, também integrante do MPL, o objetivo é levar às ruas a principal bandeira do movimento: a tarifa zero nos transportes públicos. Em 19 de junho, a Arena Corinthians vai sediar a partida Uruguai x Inglaterra. Segundo ela, a data foi pensada estrategicamente.


— Enquanto uma pequena parcela de pessoas, ricas, estará lá se divertindo com a Copa do Mundo, a gente vai retomar a cidade para as pessoas, vamos ocupar as ruas e mostrar que se eles têm a festa dos ricos, nós estaremos fazendo a nossa festa nas ruas.

Atrasados, blindados com jatos de água não serão usados em protestos contra a Copa em SP


Prisões antes da Copa

Em entrevista à agência de notícias Reuters, o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, afirmou que manifestantes poderão ser presos antes da Copa para “evitar atos de violência”. Segundo ele, a polícia está terminando um trabalho investigativo.

— Quero crer que com a sua conclusão, talvez nas próximas semanas, possamos ter, eventualmente, alguns pedidos de prisão.

André Zanardo, do grupo Advogados Ativistas, classifica a investigação do Deic como “uma manobra política".

— Estão se utilizando do sistema penal para fazer política, que além de punitiva, é uma política de segurança pública através do medo. Não teve um julgamento que diga que a pessoa mereça ser punida. É uma punição anterior, que já cerceia o direito de liberdade de expressão e de reunião do indivíduo.

Em nota, a SSP diz que a investigação do Deic é acompanhada pelo Ministério Público e que não há ilegalidades. A pasta também afirma que não tem como alvo o MPL, mas “grupos de baderneiros que se associam para praticar crimes durante manifestações”.

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