'Não basta só demitir', diz secretário de cultura de SP após vídeo de Alvim
Youssef afirmou acreditar que o governo federal enxergue a cultura como inimiga política e que demissão de ex-secretário não deve ser única medida
São Paulo|Guilherme Padin, do R7
“Uma vergonha, uma estupidez. Uma coisa absolutamente sem sentido”. Assim Alexandre Youssef, secretário de cultura da cidade de São Paulo, definiu o vídeo publicado pela Secretaria Especial de Cultura do governo federal, que culminou na demissão de Roberto Alvim do cargo na pasta.
Em entrevista exclusiva ao R7, Youssef afirmou repudiar “essa absurda analogia ao nazismo e flerte com o fascismo”, e defendeu que a demissão de Alvim não deveria ser a única medida da secretaria.
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“Não basta a demissão. Há a necessidade de se retomar a força e a importância central da cultura, e não me parece que o governo federal quer fazer isso. Veem a cultura como inimiga política, não como a identidade nacional que deve ser valorizada”, disse o secretário, que considerou como “inadmissível no ambiente democrática o flerte com a pior forma de autoritarismo que já aconteceu na face da Terra”.
Para ele, existe, por parte do governo federal, “uma política estabelecida pela criminalização do artista e um flerte com o obscurantismo”.
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Youssef disse ainda que o caso do vídeo de Alvim “demonstra o quanto a escolha sem critério de pessoas despreparadas e fora da ‘casinha’ pra ocupar postos importantes do país pode gerar situações perigosíssimas”.
O vídeo
A Secretaria Especial da Cultura publicou, nesta quinta-feira (16), por meio de sua conta no Twitter, um vídeo no qual o então secretário da pasta, Roberto Alvim, anunciou o Prêmio Nacional das Artes se utilizando de frase dita pelo Ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbles. O anúncio trazia ainda como fundo musical a ópera "Lohengrin", de Richard Wagner, compositor alemão celebrado pelo nazismo.
Com a repercussão do vídeo, houve pressão por parte do Congresso, do Judiciário e da comunidade judaica pela demissão de Alvim, confirmada nesta sexta-feira.
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Depois da exoneração, o presidente Jair Bolsonaro repudiou a fala do ex-secretário: "Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência."