"Não pode haver justiçamento", diz ouvidor sobre ação da PM em SP
Elizeu Soares Lopes cobra investigação rigorosa da atuação que resultou na morte de 2 suspeitos de roubo. Três PMs foram presos
São Paulo|Do R7, com informações da Record TV
O ouvidor das Polícias de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, disse nesta segunda-feira (14) que não descarta a hipótese de execução de dois suspeitos de roubo de veículo por policiais militares durante uma perseguição ocorrida na noite de 9 de junho, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo.
"Não pode fazer 'justiçamento.' Caberia aos policiais criar uma situação para deter os supostos bandidos, conduzirem até a delegacia e [para] eles sofrerem as sanções pelos crimes que, eventualmente cometeram. Essa é a boa ação policial", avaliou o ouvidor das polícias em entrevista à Record TV.
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Três PMs envolvidos na ação — dois que efetuaram os disparos e outro que pilotava a viatura — já foram presos. Todos estão detidos no Presídio Militar Romão Gomes e já foram ouvidos pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil, que investiga o caso, além da Corregedoria da PM. A Justiça Militar havia determinado a prisão dos dois primeiros policiais militares ainda na noite de domingo passado (13).
Familiares dos suspeitos mortos prestaram depoimento, também nesta segunda-feira, na sede da Ouvidoria das Polícias. Todos contaram que os PMs envolvidos na ocorrência foram agressivos e desrespeitosos. Um homem desconhecido teria gravado o velório de um dos mortos e saído do local sem se identificar sob a justificativa que estaria na cerimônia errada. A ação foi vista como uma ameaça pelos parentes dos mortos.
Segundo os parentes, Vinícius era monitor de van escolar, mas estava sem trabalho desde o início da pandemia da covid-19 devido à suspensão das aulas presenciais. A família nega que o homem possuísse arma ou houvesse participado de roubos anteriormente e reforça que, mesmo tendo feito algo errado, ninguém poderia ter tirado a sua vida. No depoimento, a ação da PM foi comparada a um "treinamento e não a uma ação com vidas".
Já Felipe trabalhava como entregador de comidas. Em um telefonema à esposa, feito minutos antes da abordagem ele teria relatado a perseguição e dito que ambos seriam mortos. "Moiô, moiô (sic). Eles vão matar a gente". Na mesma ligação, o rapaz também teria se despedido da esposa e da filha pequena.
O que diz o estado
"A Polícia Militar não compactua com desvios de comportamento e se mantém diligente em relação às denúncias ou indícios de transgressões ou crimes cometidos por seus agentes", frisou um comunicado da SSP-SP (Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo) sobre a apuração das denúncias contra os policiais militares.